Sintonia entre as características de Cano e Diniz é desafio para o Vasco na reta final da Série B
Sábado, 16/10/2021 - 10:32
Quando a luta pelo acesso parecia perdida, o Vasco recorreu a Nenê, dentro de campo, a Fernando Diniz, na área técnica, e à torcida, que voltou à arquibancada. A luz no fim do túnel reapareceu. Faltando nove rodadas para o fim da Série B, o time ainda continua na perseguição ao G4 e ao retorno à elite. O time recebe o líder Coritiba, às 16h30. E os cruz-maltinos sabem que ainda podem contar com mais um trunfo: Germán Cano, que tenta recuperar seus melhores momentos. Só que a volta por cima do argentino tornou-se um desafio complexo com a chegada do novo treinador. O motivo: os estilos dos dois aparentemente não se encaixam.

Cano é o jogador do último toque. O argentino se notabilizou por atuar mais fixo na grande área à espera do passe para concluir a gol — o que sempre fez com muita categoria, devido a sua capacidade de se antecipar aos marcadores. Já Diniz é conhecido por exigir o oposto de seus jogadores. Gosta de de mobilidade e cobra uma participação intensa de cada um deles.

— É um dilema. O estilo do Diniz não é compatível com o do Cano — analisa o jornalista Leonardo Miranda, responsável pelo blog Painel Tático, do site ge.

— O Cano não é um centroavante que costuma sair da área, fazer o pivô, ficar de costas para esperar os pontas chegarem e passar a bola. Até faz em alguns momentos, mas não é o forte dele. É o cara de receber a bola e tocar para o gol. E faz isso muito bem. Mas não é um estilo que casa com o que o Diniz quer. Ele gosta que todo jogador pegue bastante na bola, se movimente, participe...

Os trabalhos anteriores de Diniz falam por ele. Em nenhum dos clubes pelos quais passou, os homens de referência do ataque atuavam fixos na área. Foi assim, por exemplo, com Yony González e Luciano no Fluminense, com Brenner, Pablo e Luciano no São Paulo e com Kaio Jorge no Santos.

No tricolor paulista, aliás, o esquema que melhor funcionou não tinha um jogador à frente do ataque. Quando o time engatou a sequência que o levou a liderar o Brasileiro por algumas rodadas, Luciano e Brenner eram atacantes móveis, que entravam e saíam da área o tempo todo.

O mapa de calor de Cano por partida mostra que, desde a chegada de Diniz, ele vem tentando atender ao que o treinador pede. Se antes sua presença se limitava ao círculo central (onde normalmente se colocava quando o time estava em posição de defesa) e na grande área do adversário, nos últimos seis jogos ele passou a aparecer mais na intermediária, nas faixas laterais e até na metade do campo do próprio Vasco.

Esta exigência também se observa nos números. Na comparação entre os seis jogos desde a chegada do técnico com as seis partidas imediatamente anteriores, há um ligeiro crescimento nos números de participação do atacante nas jogadas. Nos últimos compromissos, Cano tocou 147 vezes na bola, em comparação aos 140 dos seis anteriores. Os passes também subiram: de 73 para 77. À medida que ele e todo o time forem se adaptando à filosofia do treinador, a tendência é de que este salto seja ainda maior.

Apesar disso, ainda não se vê uma recuperação do protagonismo que o argentino tinha na produção ofensiva. Se na temporada 2020 ele foi responsável por 43% dos gols do time, em 2021 sua participação caiu para 32%. E, dos sete marcados pela equipe sob o comando de Diniz, apenas dois (28,6%) foram do camisa 14.



Fonte: O Globo Online