A centroavante Bebel é uma das principais artilheiras da história recente do futebol feminino do Vasco. O time estreia no Carioca Feminino, sábado, às 15h (horário de Brasília), contra a Cabofriense, no CT Artsul. A camisa 9 é a esperança de gols da equipe. Ao ge, ela relatou um caso de racismo que viveu na infância e momentos especiais de quando treinou e jogou ao lado da mãe no Ourofinense, de Natividade, próximo à Itaperuna.
Tatiana Gleyce, 26 anos, conhecida por Bebel, apelido recebido de uma amiga de Búzios, é natural de Duque de Caxias. Devido a um problema de saúde do avô, a mãe de Bebel precisou se mudar para Itaperuna. Lá, a jogadora do Vasco viveu momentos marcantes.
A atacante conta que aos 12 anos, enquanto esperava o início de um treino, estava em frente à casa de um senhor, acompanhada de algumas amigas. Declarou ter sido vítima de racismo na ocasião.
- Eu tinha mais ou menos 12 anos, estava treinando no time que meu tio comandava. A gente estava em frente ao portão do moço, esperando começar o treino. Ele chegou lá, começou a brigar com a gente e me chamou de macaca. Na hora, me abalou um pouco, mas depois comecei a treinar e esqueci daquilo. Depois contei para minha mãe, ela foi lá, conversou , e ele até se desculpou.
Bebel também relatou que atitudes como essas não lhe afetavam muito. A atleta se mostrou determinada e não podia deixar o preconceito abalar o sonho de ser jogadora de futebol. O mesmo aconteceu quando questionaram sua decisão, por ser mulher.
- Isso (o racismo) nunca me afetou muito. Porque eu sempre pensava no meu futuro, no futebol. Era isso que eu queria para a minha vida. Dificuldades sempre tem. A gente escuta "futebol não é para mulher, larga isso, vai lavar uma louça". Mas isso nunca me deixou para baixo. Sempre me motivou para chegar onde estou e querer mais ainda para mostrar que futebol não é só para menino, e que a mulher pode estar onde ela quiser - completou a atacante.
Foi também em Itaperuna que a pequena Tatiana disputou campeonatos ao lado da mãe Elaine e da tia. Bebel relatou que passava boa parte do tempo treinando com a mãe, no Ourofinense.
- Eu treinava junto com minha mãe, quando tinha algum campeonato a gente disputava juntas. O maior período em que eu passava com a minha mãe era treinando, junto com a minha tia também. Era muito bom.
Bebel conta que, após o falecimento do avô, a família se mudou de Itaperuna. Foi a partir dessa mudança para a Região do Lagos, que Tatiana ganhou o atual apelido.
- Minha amiga Larissa falava na escola que eu parecia muito com a prima dela, conhecida como Bebel, aí ela começou a me chamar assim e pegou. Hoje em dia, até minha mãe me chama de Bebel.
Em Búzios, no ano de 2013, Bebel jogou na Sociedade Esportiva de Búzios (S.E.B) e foi comandada pelo treinador Pantera. A atacante do Vasco relembra episódios em que cometeu alguns deslizes e demonstra gratidão pelo professor e pelo futebol, que a ajudaram a não se desvirtuar do sonho.
- Comecei a ter alguns tipos de amizade, que me levavam para outro caminho, tipo beber, farra. Aí ele (Pantera) me chamou para conversar. Falou que eu tinha futuro, que enxergava um talento grande em mim, e que eu ia chegar lá.
Emocionada, Bebel detalhou a relação com Pantera. O treinador exercia um papel importante sobre a jogadora. A camisa 9 relembra com bastante carinho.
- Eu pude aprender muitas coisas com aquele homem. Aprendi muitos valores. Ele me dava conselhos, era como um pai, todas as meninas o viam como pai. E eu queria que ele tivesse aqui para ele ver onde eu cheguei. Se eu estou aqui, eu devo muito a Deus e muito a ele. Às vezes, a gente faz coisa que não são para fazer. Por isso que é bom a gente sempre escutar os mais velhos, eles sempre têm coisas boas para nos oferecer.
Em 2014, Bebel disputou o Carioca pelo Cabo Frio e retornou para no seguinte para a Sociedade Esportiva de Búzios, time pelo qual disputou o Carioca de 2016. Em 2017, os times se unificaram e disputaram a Copa Ferj. A atleta relembra como a campanha ligou sua carreira ao Vasco.
- Nós fomos vice-campeãs, e eu fui artilheira. Disputamos esse título com o Vasco. E eu creio que ali meu destino foi traçado com o Vasco.
Em 2018, uma reviravolta. Após disputar um campeonato pelo Cabo Frio, Bebel pensou em desistir da carreira no futebol. Mas, no ano seguinte, o Vasco surgiu na vida da atacante.
- Eu pensei em desistir porque eu já tinha tentado bastante, passado pelo time de Búzios, Cabo Frio e eu não queria ficar assim, queria chegar a um clube grande. E as pessoas também falavam que pela minha idade (23) já não dava mais. Eu queria fazer faculdade de Educação Física e ficar perto do futebol. Esse era meu plano B. Em 2019, o Vasco abriu as portas para mim. Uma amiga, Gabi (Gabrielly Louvain, ex-atleta do Vasco, atualmente no Botafogo), me mandou mensagem. Fiz um teste. Ela me retornou com boas notícias, disse que o treinador lembrava de mim de 2017 e pediu para eu me apresentar.
Bebel também falou sobre jogar na equipe que revelou Marta, seis vezes melhor do mundo e maior artilheira entre homens e mulheres pela seleção brasileira.
- Isso me inspira bastante. Mostra que o Vasco revela grandes jogadoras e é uma vitrine muito grande. Isso me incentiva cada vez mais. Saber que a Marta passou por aqui é uma grandeza sem explicação. Marta é Marta, né? Ela é uma referência muito grande.
A trajetória da Bebel no Vasco é breve, mas a atacante tem marcas consideráveis. Artilheira da equipe no último Campeonato Carioca, a atacante soma oito gols em 2021. Ao todo, são 17 gols pelo clube. A assessoria do clube informou não ter dados e informações sobre o futebol feminino, devido a um acidente antigo, antes dos anos 2000. Fato é que os números a tornam esperança de gols e títulos para a atual temporada.
- Isso me motiva muito, porque jogadora também é feita de números, e eu quero bater o máximo de recordes pelo Vasco e ganhar muitos títulos. No último Carioca, eu fui artilheira do time, e esse ano pretendo ser também.
- A expectativa está bem grande, pelo Brasileiro que a gente fez, e a gente quer dar continuidade a isso. Aumentar a pegada, para ser melhor do que a gente foi no Brasileiro, e creio que assim a gente vai chegar ao título. Esse é o nosso maior objetivo e o grupo está bem unido para isso.
Fonte: ge