Em meio a um processo de idas e vindas referentes à execução de R$ 93 milhões em dívidas trabalhistas sofrida pelo Vasco no último dia 17, a Portuguesa-RJ teve acesso a informações que tem interesse: os valores da venda do lateral-direito Nathan para o Boavista, de Portugal. Após empréstimo em 2020 que rendeu R$ 1,2 milhão aos cofres vascaínos, o atleta de 19 anos foi negociado na semana passada de forma definitiva por R$ 6,8 milhões, quantia informada pela CBF à Comissão de Credores que trata da execução.
A Portuguesa alega ter direito a 30% do valor da transferência de Nathan para o Boavista devido a acordo de parceria feito durante a gestão de Eurico Miranda. O atleta chegou a São Januário em julho de 2017, mas só assinou seu primeiro contrato profissional um ano depois.
Contrato de parceria ao qual o ge teve acesso (veja abaixo) estabeleceu que o clube de São Januário ficaria com 100% dos direitos econômicos, mas teria de repassar à Lusa 30% de futura negociação. A questão é que tal acerto nunca foi formalizado.
Embora a Portuguesa se apoie no que foi acordado durante o último mandato de Eurico, Alexandre Campello, presidente do Vasco no ato da assinatura do primeiro contrato profissional de Nathan com o clube de São Januário, não reconheceu o contrato de parceria que garantiria os 30% à Lusa.
A Portuguesa, que move processo contra o Vasco desde 2018 com o objetivo de garantir os 30% de eventual venda de Nathan, usa como uma das provas uma troca de e-mails entre o então gerente operacional de base do Vasco, Antônio Teixeira, e Marco Antônio Moreira, supervisor da base da Lusa. Na imagem abaixo, está em anexo a minuta do contrato de acordo entre os clubes enviado por Teixeira a Marco Antônio.
Em entrevista ao "Dia" em setembro do ano passado, Antônio Teixeira, confirmou a existência do acordo.
- O Nathan realmente veio da Portuguesa foi confirmada uma parceria entre o Vasco e a Portuguesa. Porém, o Eurico Miranda saiu sem assinar esse contrato. Quando veio a nova gestão, eu preparei uma nova documentação atualizada, a Portuguesa assinou e mandou de volta. O presidente Campello não assinou e alegou que a parceira não havia sido tratada por ele - afirmou Teixeira.
Até o presente momento, a Portuguesa não conseguiu nenhuma vitória judicial contra o Vasco.
Presidente da Portuguesa critica Vasco, Nathan, mas acredita em mudança com nova gestão
Presidente da Portuguesa, Marcelo Barros, lamenta o tratamento dado pelo Vasco à questão durante o mandato de Alexandre Campello. O clube da Ilha do Governador argumenta que o mesmo assinou contrato de parceria em relação a outros jogadores vindos da Lusa, mas que se recusou especificamente no caso de Nathan, jogador valorizado à época e que estava no radar de europeus - o espanhol Valencia era um deles.
- Agora conseguimos ter acesso ao valor real da negociação e ainda temos esperança de que o Vasco tenha bom senso diante de todas as provas contundentes que temos, como troca de e-mails entre funcionários. São provas gritantes, e aí o presidente (Campello) assina todos os documentos e só não assina o do Nathan. É uma situação muito ruim com um clube que a gente vê como co-irmão e com raízes portuguesas. A gente, pelas raízes portuguesas, preza muito pela palavra - afirmou Marcelo Barros ao ge, completando com críticas a Nathan:
- Causa muito estranheza a maneira com a qual eles estão lidando com esse tipo de coisa. A gente vai até o final na Justiça, e eu tenho certeza que a gente já já vai poder ter notícias boas. Me causa estranheza também o próprio jogador fugir de intimações. Temos certeza que estamos fazendo a coisa correta, e o Vasco não está sendo nem um pouco co-irmão. A Portuguesa não é um clube comprador, é um clube vendedor. Essas receitas são importantes para fazer o clube continuar crescendo como cresceu nos últimos anos.
Apesar de a briga judicial já se arrastar por pelo menos três anos, Marcelo acredita que o panorama pode mudar com a chegada de Jorge Salgado à presidência do Vasco. Uma prova é o fato de ter cedido na última quarta-feira o atleta Lucas Oliveira, de 15 anos, ao clube da Colina. Na negociação, a Lusa preservou 20% dos direitos econômicos do jogador.
- Então por acreditarmos que essa diretoria nova é sensata, acabamos de ceder um jogador para a base do Vasco em parceria. A gente acredita que as coisas vão mudar nesse percurso e que o Vasco ainda irá tomar uma nova postura. Vamos ver.
Campello explica por que não assinou acordo
Alexandre Campello evita atrito com a Portuguesa. O sucessor de Eurico Miranda explicou que não firmou o que lhe fora apresentando simplesmente pelo fato de a gestão anterior não ter formalizado também.
- A Portuguesa alegava que tinha acordo com a gestão do Eurico em que tinham 30% direito dos direitos econômicos do jogador, só que não existia absolutamente nenhum documento. Não estou dizendo que eles não fizeram o acordo ou que agiram sem honestidade. Até acredito que possam ter feito o acordo. Qualquer negociação dessa tem que ter registro na CBF, e isso não existia. Eles fizeram contrato com o pessoal da base. Os caras até redigiram o contrato, mas eu não tenho que assinar o que outros redigem.
Campello afirma justamente o que Teixeira disse ao "Dia" em 2019: negou-se a assinar termos que nunca havia tratado antes. Foi além e argumentou que firmar esse tipo de parceria poderia lhe render acusações de interesses escusos.
- Disse: me apresenta um documento assinado ou uma comprovação desse acordo que eu assino. Do contrário não vou assinar nada. Se vocês não formalizarem, eu não vou formalizar. Quem garante que não era 20% ou 10% em vez de 30%. E agora com o jogador jogando aqui mais de um ano vou fazer acordo? Amanhã vão dizer que estou cedendo passe em troca de alguma coisa. Não tenho nada contra a Portuguesa ou contra alguém, mas não vou assinar contrato que eu não tratei. Nunca quis passar perna em ninguém. Não acertaram nada comigo. E não tinha documento.
Fonte: ge