Um grafite de quase sete metros de altura do goleiro Moacyr Barbosa será inaugurado nesta terça-feira (10), às 15h (de Brasília), na sede do Vasco da Gama, em São Januário, no Rio de Janeiro.

A obra foi grafitada em um dos muros do parque aquático, justamente o que permite ter uma visão frontal do estádio, observando o campo por atrás do gol do placar eletrônico - local que o arqueiro frequentou bem durante os 15 anos de Vasco.

O homenageado teria comemorado o centenário de vida em 27 de março passado, mas morreu aos 78 anos, em 7 de abril de 2000. De qualquer forma, a memória dele estará bem representada por Tereza Borba, filha de consideração do ex-goleiro em mais de três décadas de convívio. Ela deve conduzir a cerimônia em São Januário.

Nomes como o ex-goleiros Aranha e Carlos Germano e o ex-ponta-esquerda Paulo Cézar Caju, os dois últimos com passagem pelo clube cruz-maltino, são esperados hoje. Jornalistas e outros ex-jogadores também foram convidados.

O grafite foi executado pelo Negro Muro, projeto idealizado pela dupla Fernando Sawaya, o Cazé, 34, e Pedro Rajão, 35, cuja proposta há quatro anos é homenagear personalidades negras da história do Brasil nos muros do Rio.

"É uma realização enaltecer uma grande figura negra do esporte, e fortalecendo a luta antirracista", disse Rhuan Gonçalves, 35, parceiro na produção e responsável pela captação audiovisual por meio do trabalho do fotógrafo Jéferson Vasconcellos, 32, e de Pedro Siqueira, 25.

Ao todo, foram treze dias de trabalho, levando-se em conta o início das obras de reparação no muro do parque aquático, entre 23 e 24 de julho, e o período de grafite, entre 27 de julho e 4 de agosto.

O trabalho foi orçado em R$ 39.801 e só foi possível graças à arrecadação feita via Benfeitoria, uma plataforma de financiamento coletivo, conforme a ESPN Brasil exibiu em junho. A arrecadação foi além: R$ 48.795.

"O engajamento foi muito grande. Superou em 120% o que precisávamos. O valor excedente foi revertido em cestas básicas e orgânicos do Assentamento Terra Prometida de Xerém para a comunidade da Barreira do Vasco", disse Rhuan.

BIOGRAFIAS URBANAS

Outro nome de expressão que estará na inauguração do grafite de Barbosa nesta terça é Candinho, filho de João Cândido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata em 1910. Candinho é torcedor vascaíno.

O pai dele foi retratado em um grafite pelo Negro Muro em fevereiro, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Foi durante a execução desse trabalho que Cazé, Rajão e Rhuan se aproximaram do Vasco.

Ao tomarem conhecimento que neste ano foi celebrado o centenário de vida de Moacyr Barbosa, Rajão e Cazé decidiram que o goleiro vascaíno deveria ser o homenageado da vez.

"Acho importantíssimo a juventude ouvir falar de Barbosa. É importante a gente conhecer essa história para que ela não se repita. E ela continua se repetindo. Os goleiros negros continuam passando por situações de racismo", disse Rajão em entrevista para a ESPN Brasil antes do início do projeto.

A história remete à perseguição sofrida pelos goleiros negros depois que Barbosa foi injustamente culpado de falhar na derrota para o Uruguai, no Maracanã, na decisão da Copa do Mundo de 1950. Desde então, os únicos goleiros negros titulares pela seleção brasileira para Mundiais foram Manga (um jogo em 1966) e Dida (reserva em 2002 e titular em 2006).

"Barbosa vai além do clubismo, eu vejo o futebol como um ato político. A gente tem de valorizar ícones como ele e se redimir das ações do passado. Ele foi o primeiro goleiro negro de extrema importância na seleção, mas foi massacrado publicamente", disse Cazé no início do projeto.

Moacyr Barbosa é o 20º grafite concluído pelo Negro Muro. O primeiro nome do esporte brasileiro nessa longa lista de homenageados, mas provavelmente não será o único.

"Temos ideias, planos e vontade", disse Rhuan, que revelou que, ao ver o grafite finalizado, chorou de alegria e realização.



Fonte: ESPN.com.br