Lisca aposta em jogadores que não vinham tendo muitas oportunidades no time titular do Vasco
Segunda-feira, 09/08/2021 - 09:23
Lisca é bom com as palavras, gosta de inflar o vestiário e já mostrou, em cinco jogos, não ter medo de arriscar com inovações táticas. Uma outra faceta do treinador gaúcho, no entanto, vem chamando a atenção em pouco mais de duas semanas em São Januário. Jogadores que andavam esquecidos, com pouco espaço, reapareceram bem e deram novas opções ao elenco do Vasco. Mérito do treinador que apostou em quem andava em baixa.

Com pouco tempo para treinar, tem sido no papo, com carinho, que Lisca tem conseguido dar confiança a jogadores que vinham sem moral. O treinador é chegado a uma conversa reservada com os atletas. Seu bom conhecimento do futebol de base tem o ajudado na missão.

Primeiro foi Bruno Gomes. No ostracismo, após duas expulsões seguidas, o volante ganhou oportunidade logo na estreia de Lisca e vinha sendo um dos jogadores mais regularidades sob o comando do treinador até se machucar. Agora é a vez de Juninho e Sarrafiore. A dupla ganhou chance entre os titulares e correspondeu.

Sarrafiore ganha carinho e vira opção

Sarrafiore é um bom exemplo. O argentino vinha sendo pouquíssimo aproveitado e, em várias partidas, sequer entrou em campo com Marcelo Cabo, mesmo com a possibilidade de cinco substituições. Com Lisca, a primeira chance como titular ocorreu neste sábado, contra o Vitória, em Salvador. Enquanto teve fôlego, o meia foi bem, superou as adversidades de um gramado pesado e ainda marcou o gol da vitória por 1 a 0. Em um outro lance, deixou Cano na cara do gol.

Foi subindo degrau a degrau que Sarrafiore recuperou espaço. A oportunidade como titular foi construída de forma gradual, aproveitando os minutos em cada partida. Na estreia de Lisca, contra o Guarani, entrou no fim e deu uma bela assistência para Jabá. Na derrota para o Botafogo, foi o único jogador elogiado pelo treinador após a partida. E diante do São Paulo, na semana passada, entrou no segundo tempo e participou da jogada do gol de honra do Vasco.

- É um jogador que vem crescendo muito. Eu e o Márcio (Hahn, auxiliar técnico) já o conhecemos desde o Inter. A relação que ele tinha com o D' Alessandro, somos muito próximos do D' Alessandro. Talvez faltasse carinho com ele no Inter e no Coritiba. Apostou um jantar com o Márcio, meu auxiliar, e vai pagar uma janta para o Márcio... Gosto muito do Sarrafiore, e o jogador muitas vezes precisa de compreensão e carinho - disse Lisca.

Lisca cita a passagem pelo Inter e, de fato, conhece o potencial de Sarrafiore há muito tempo. Os dois não chegaram a trabalhar juntos no Beira-Rio, mas o argentino já era observado pelo Colarado. E foi se destacando na Copa RS pelo Huracan-ARG que ele despertou interesse do clube gaúcho. Competição que Lisca acompanhou e citou em sua apresentação no Vasco.

Juninho: sequência e até conselhos sentimentais

Provavelmente Lisca não imaginava na época, mas acompanhar a Copa RS, torneio sub-20 realizado no Rio Grande do Sul todos os anos em dezembro, o ajudou muito na chegada ao Vasco. Foi lá que ele viu pela primeira vez boa parte do elenco atual. Bruno Gomes, Miranda e Caio Lopes foram alguns citados pelo treinador. O outro foi Juninho, volante que recuperou espaço sob o comando de Lisca e vem tendo boas atuações como titular.

O potencial de Juninho nunca foi uma questão. Em São Januário, todos sabem que se tratar um talento diferenciado dentro do Vasco. Desde que subiu para o profissional no ano passado, no entanto, nunca conseguiu uma sequência para se firmar. Questões físicas e comportamentais foram citadas por treinadores que passaram pelo clube recentemente. Inclusive por Lisca.

- Sarrafiore e Juninho sentiram um pouco o ritmo, não estão acostumados a jogar 90 minutos. Temos um jogo na terça. O Juninho eu gosto muito, precisa entrar num ritmo melhor, vai melhorar nisso, ele vem de uma lesão. O Sarrafiore deu uma sentida na recomposição - analisou Lisca, após a vitória em Salvador.

No caso específico de Juninho, no entanto, o comportamento fora de campo é uma questão. Em sua apresentação no Vasco em janeiro, por exemplo, Luxemburgo disse que também era namorador quando tinha a idade do meia. No sábado, Lisca citou o extracampo, pediu foco e revelou ter dado conselhos ao meia.

- Fui cumprimentar o Juninho por 50 jogos pelo Vasco. Disse que ele é um privilegiado. " Vamos concentrar, vamos focar que você tem muita coisa para fazer na sua vida, para vencer, dar condições para sua família". O Juninho ainda não tem filhos. Passei vídeo do Piangers falando sobre pais e filhos.

- Vi que o olho dele brilhou. Falei: "Você vai lá, cá, festa aqui, festa ali, tem uma namorada aqui, outra ali". São coisas da juventude. Mas nada melhor do que ter sua parceira, sua guerreira, sua companheira. Tenho certeza que ele vai encontrar isso, o que dará uma estabilidade legal para ele. Quero parabenizar o Juninho, que é um menino de ouro - elogiou Lisca.

Juninho, de fato, merece parabéns por suas duas últimas atuações. Tem atuado bem pelo lado direito do meio de campo. Reapareceu contra o São Paulo, quando inclusive fez uma boa jogada que resultou em um polêmico gol anulado de Cano. Contra o Vitória, foi bem mais uma vez, muito participativo e fez uma jogada individual, em arrancada no meio de campo, que quase terminou em golaço. Precisa agora trabalhar a questão física para aguentar 90 minutos em campo.

Fato é que, apesar de alguns percalços no início de trabalho, Lisca tem conseguido trabalhar bem questões individuais no elenco e os resultados têm aparecido em pouco tempo. Miranda e Morato são outros exemplos de jogadores que ganharam espaço e cresceram desde sua chegada. A parte coletiva, promete o treinador, evoluirá a medida que ele tiver mais tempo para treinar e trabalhar. Ainda assim, com individualidades aflorando, o Vasco vai ganhando uma nova cara, se aproximou do G-4 e tem passado mais confiança ao torcedor no acesso à Série A.



Fonte: ge