Lisca já era desde o início do ano um dos preferidos do Vasco para substituir Vanderlei Luxemburgo. O casamento em fevereiro, porém, seria coisa de doido. Para as duas partes. O clube em reconstrução não podia se dar ao luxo de pagar multa de R$ 440 mil para tirar o gaúcho do América-MG. O treinador, por sua vez, tinha um trabalho consolidado e promissor em Minas Gerais. Cinco meses depois, a "equação Vasco + Lisca" deixou de ser loucura e virou solução óbvia.
Favorito no início da temporada ao lado de Marcelo Cabo, tanto que ambos foram consultados praticamente ao mesmo tempo em fevereiro, Lisca virou "nome automático" quando o comando do futebol concentrou-se em traçar estratégia para substituir rapidamente Cabo.
Referência no trabalho de campo, energia e atenção aos jovens chamaram atenção do Vasco
Lisca virou "o cara" dentro de São Januário pelas seguintes características: intensidade, energia e cobrança. Além disso é visto pelo comando do futebol vascaíno como uma referência no trabalho de campo, de dia a dia.
Ao escolhê-lo, o Vasco também levou em conta o fato de enxergar em Lisca um profissional em momento de amadurecimento e afirmação dentro da carreira de treinador.
Some a essas análises o fato de ter se mostrado um bom descobridor de talentos, como os casos de Marinho, hoje no Santos, e Rafael Sobis, do Cruzeiro.
Viagem a Porto Alegre na segunda, acerto após longa reunião na terça
Depois dos primeiros contatos com Lisca e seu empresário, Jorge Machado, e sentir que a dupla estava disposta a ouvir o projeto vascaíno, o executivo de futebol Alexandre Pássaro partiu na noite de segunda-feira, mesmo dia da demissão de Marcelo Cabo, rumo a Porto Alegre.
Na manhã de terça, antes das 9h, Pássaro encontrou-se com Lisca e Machado para tentar fechar negócio com o antigo desejo. Antes de almoçarem, conversaram por cerca de quatro horas, e o anúncio foi feito pouco antes de meio-dia.
A longa conversa, além de ajustes contratuais, teve como ponto central a apresentação do projeto do Vasco. O clube apostou no fato de ter um elenco competitivo, na reconstrução da credibilidade com pagamento de salários em dia, e na tradição vascaína, já que Lisca nunca escondeu o desejo de dirigir um gigante do futebol brasileiro.
Lisca, como deixou claro em vídeo enviado aos jogadores e divulgado pela comunicação do Vasco, mostrou-se completamente motivado com a tarefa de reconduzir o clube à Série A e de ser competitivo na Copa do Brasil.
Como Lisca tinha um compromisso assumido com o Governo de Minas Gerais para esta quinta-feira, o primeiro contato presencial com o elenco só se dará na próxima sexta-feira, dia em que dará sua primeira entrevista coletiva como treinador do Vasco.
Estilo de jogo adotado no América: 4-3-3 com meias multifuncionais
O longo trabalho de Lisca à frente do América-MG, com duração de 16 meses, teve como pontos altos o acesso à Série A com tranquilidade e a melhor campanha do clube na Copa do Brasil - foi semifinalista. Ambos feitos foram conquistados em 2020.
De acordo com Guilherme Frossard, repórter da TV Globo que acompanhou de perto o sucesso do Coelho, o sistema tático adotado por Lisca era facilmente identificado: um 4-3-3 sustentado por um meio-campo forte e composto por jogadores que tinham de conciliar obrigações defensivas e ofensivas.
Confira o depoimento de Frossard abaixo:
"O melhor momento do América com o Lisca foi na Série B do ano passado. Era muito legal de ver jogar porque o time era muito obediente taticamente. Era um 4-3-3 sem um armador de ofício. Deixava o primeiro volante de fato com a função de primeiro volante, mas ele gosta de um camisa 5 que saiba jogar, que tenha bom passe e saiba iniciar a jogada. Ele não gosta daquele camisa 5 brucutu, destruidor.
E os outros dois meias pisavam muito na área, mas também tinham muitas responsabilidades defensivas. No caso da melhor fase do América, o Alê por um lado e o Juninho pelo outro. São segundos volantes ou meias, mas que também recompõem bastante.
Ele gosta de fazer com que esses meias formem trincas com os laterais e os pontas. Esses dois meias pisam na área, finalizam e criam combinações legais, triangulações importantes com os pontas.
Completando esse modelo de jogo, ele usava o Rodolfo como camisa 9. É um camisa 9 que sai muito da área, articula e aparece para o jogo. Não é aquele homem de referência paradão. Lisca não gostava muito de jogar com um camisa 9 tão paradão, tanto que chegou a pedir a contratação de um camisa 9 referência para jogar junto com o Rodolfo e criar alternativas.
O Lisca gosta de um time que jogue, está longe de ser um treinador defensivista. O América propunha jogo, claro que principalmente na Série B com adversários inferiores ou do mesmo nível. Na Série A, o Lisca tentou adaptar uma maneira de jogo um pouco mais segura e acabou tendo dificuldades nesse processo.
Tentou voltar a jogar no 4-3-3 que utilizou na Série B 2020, mas o América acumulou derrotas, e ele acabou deixando o clube. Acho que o modelo que mais agrada o Lisca é um 4-3-3 sem meias totalmente defensivos e também sem meias isentos da responsabilidade de marcar. O meio-campo dele é muito forte com jogadores que cumprem as duas funções".
Fonte: ge