Conheça a história do torcedor que tatuou gesto de Germán Cano erguendo bandeira do arco-íris
Em um domingo de futebol, 27 de junho de 2021, o Vasco da Gama entrou em campo contra o Brusque, de Santa Catarina. Um jogo sem grande apelo, pois era mais uma rodada da Série B, a 7ª para ser mais exata. A vitória do time vascaíno, por 2 x 1, ficou pequena diante do que as câmeras puderam clicar, após o primeiro gol do time carioca. Com a sociedade confinada, em razão da pandemia, a responsabilidade de registrar um momento ímpar no futebol foi das câmeras e dos próprios jogadores em campo.
A história já foi escrita
Nessa partida, o jogador argentino Germán Ezequiel Cano, de 33 anos, marcou mais um de seus gols em São Januário. No entanto, esse foi o mais simbólico de todos, para muitos fanáticos do futebol. O camisa 14 do Vasco roubou todos os holofotes naquela noite de domingo e chocou muita gente. Cano comemorou o gol erguendo a bandeirinha de escanteio, que naquele jogo, recebia as cores do movimento LGBTQIA+.
Era uma homenagem do clube, às vésperas do dia do Orgulho Gay. Quem faria igual? Foi um momento histórico protagonizado por um argentino, no Brasil. É óbvio que nada disso seria necessário se não houvesse pessoas excluídas e impedidas de torcer sem precisar esconder a sua verdade.
O futebol ainda engatinha no assunto homofobia. Mas é bom ressaltar que, por conta desse ato dentro de campo, quando o tema se tornar ainda mais natural e comum no esporte, é do Vasco da Gama que vão se lembrar primeiro, é a foto de Germán Cano que vai aparecer. Foi um drible do time na discriminação, e um golaço na sua história. O que só reforçou a identidade do clube.
Sabedoria milenar
Um ensinamento egípcio muito antigo diz que o coração não mente. Ele é a chave para desvendar muitas coisas e, principalmente, as pessoas. O cérebro pode pensar, a boca falar, mas quando o indivíduo se move e defende o que acredita, está subordinado a ele, somente a ele. Ainda que o sujeito se considere o mais racional entre todos, ele sempre buscará o que o coração pede. O sujeito defende aquilo que sente no coração, e apenas oferece o que tem lá. É lá que está a sua verdade, e o que lhe dá coragem.
Decerto, o artilheiro vascaíno foi corajoso. No clímax do futebol, após o gol, ele mostrou onde o seu estava. Além disso, não se importou com as críticas ou perder seguidores. O jogador ainda reforçou em entrevista: "Tem que ter igualdade de condições para todo mundo. Essa era a mensagem que eu queria passar". Não é à toa que as palavras coração e coragem possuem o mesmo o radical: "cor".
"Tem que ter igualdade de condições para todo mundo", Germán Cano.
Certamente, Cano conseguiu passar a sua mensagem e influenciou pessoas. Em um esporte do tamanho do futebol, mostrar que não se incomoda com as diferenças tem um grande significado. Assim, muitos torcedores do Vasco também se sentiram representados. O mais curioso é que as reações vieram de diversos tipos, e até de quem sequer faz parte da população LGBTQIA+.
Vascaíno e hétero
Rodrigo Veloso, um professor de inglês, de 30 anos, resolveu tatuar a imagem emblemática de Cano erguendo a bandeira do arco-íris. Morador de Duque Caxias, ele acompanha o Vasco desde pequeno, e sem pensar duas vezes quis marcar na pele esse momento.
"Apesar de não fazer parte, sempre foi uma pauta que eu defendi. Entendi o tamanho do gesto no exato momento que o Cano ergueu a bandeira, porque todos nós já vínhamos acompanhando a repercussão e os comentários negativos de parte da torcida", disse Rodrigo, que acompanha o Vasco em jogos no Rio de Janeiro e em caravanas fora do estado.
Embora Cano pareça ser discreto, Rodrigo afirma não ter ficado surpreso com a atitude do artilheiro. "Não fiquei surpreso, já esperava algum gesto vindo dele, mesmo sendo discreto, ele já demonstrou que é um cara que liga para a história do clube", disse.
Quando Rodrigo concedeu entrevista na última quarta-feira (30), sua esposa Andressa Moraes estava prestes a dar à luz Lara. A bebê veio ao mundo poucos dias depois. Antes de nascer, Lara já havia sentido o gostinho de estar no estádio, pois seus pais fizeram um ensaio fotográfico dentro da colina histórica.
Como o artilheiro argentino, apesar de ser heterossexual, ele entende que naquele 27 de junho, o ato do jogador nada mais é do que a extensão do que é ser vascaíno. Aliás, para que haja maior inclusão, é necessário que alguém seja o primeiro a incluir, e essa é a linguagem do time de São Januário.
"Eu fiquei completamente arrepiado no momento da comemoração. Senti na mesma hora que estava presenciando um marco no futebol com um gesto afirmativo do jogador de maior expressão do elenco", afirmou o torcedor vascaíno, que agora tem a representação de Germán Cano tatuada na pele.
Fonte: FNV Sports