O polivalente MT, de 20 anos, voltou a jogar pelo Vasco no último sábado após quase três meses e teve boa participação na vitória por 3 a 0 sobre o CRB. Nos 56 minutos em campo, o curinga de Marcelo Cabo mostrou-se mais forte e ágil, porém precisou de um tratamento interdisciplinar para voltar na ponta dos cascos.
Em entrevista ao ge, Gustavo Caldeira, chefe do departamento médico do Vasco desde março de 2021, explica que foi preciso traçar um trabalho bem elaborado e contar com profissionais de diferentes áreas para conscientizar MT de que a pressa não o ajudaria. Muito papo, psicologia e planejamento foram fundamentais para segurar até junho um jovem que se sentia em condições de atuar desde abril.
- Com certeza ele amadureceu. No começo da lesão, a ficha dele não caiu. Quando falei de um tempo um pouco mais alongado, ele achou que ia voltar rápido. A partir do momento em que ele não voltava e se sentia bem fisicamente, era difícil. É complicado segurar um atleta jovem.
- Se ele volta um pouquinho antes, pode perder um pouquinho na frente. Acionamos a Maíra (Ruas, psicóloga do Vasco), e ela veio conversando bastante com o MT. Segurar um touro dentro do DM com o cara se sentindo apto é complicado, e a Maíra trabalhou a cabeça dele muito bem - explicou Caldeira.
O saldo do tratamento foi extremamente positivo, segundo Caldeira. MT ganhou dois quilos de massa magra (tinha 38,5kg de massa muscular em 8 de março e 40,6kg em 4 de junho), força, qualidade de movimento e estabilidade. As etapas do acompanhamento ao jogador são detalhadas a seguir.
Pilares da recuperação
O tratamento de MT foi constituído por três pilares: primeiro foi feito o diagnóstico da lesão (edema ósseo na vértebra lombar l5) pelo departamento médico, depois o encaminhamento à fisioterapia para avaliar a qualidade dos movimentos que mais ocasionam esse tipo de lesão e por fim as idas à sala de força para ganhar estabilidade suficiente para fazer a rotação, a extensão da coluna lombar e outros gestos corporais indispensáveis ao estilo de jogo do jovem atleta.
- Quando cheguei ao Vasco, o MT tinha subido um pouco antes. Quando começamos, fizemos, em termos leigos, uma vistoria de cada atleta. Ele já vinha com o histórico de lombalgia desde a base. Tratava e jogava. Quando começamos a investigar, vimos que ele tinha a espondilólise e paramos o MT. Na época, eu disse que não seria um diagnóstico muito feliz para a torcida e para o clube porque o tempo de retorno era muito alongado.
No caso específico de MT, a previsão de retorno é de quatro meses, mas o jogador já figurava no banco de reservas na partida contra o Brasil de Pelotas, que terminou em vitória vascaína por 2 a 1, em 12 de junho. Sua última partida havia sido disputada em 21 de março, no empate por 1 a 1 com o Botafogo. Ou seja, a volta às relações de Marcelo Cabo deu-se em dois meses e meio.
"Parar MT" em março, como disse Gustavo Caldeira, era necessário a fim de impedir que o edema ósseo observado no lado esquerdo da vértebra lombar l5 evoluísse para uma fratura. O jogador, aliás, já tinha uma fratura no lado direito vértebra em questão.
- Fomos cautelosos porque ele tinha uma fratura do lado direito da vértebra e um edema do outro. Havia a lesão aguda do lado esquerdo, e a fratura do lado direito já estava estabelecida e não resultava mais em dor.
- Como ele é muito forte e precisa estar forte em campo, a gente fez esse trabalho muito bem elaborado. A gente não pensou em tempo, só em etapas. Só o evoluímos no processo assim que atingiu cada etapa. O tempo pouco importava. O mais importante era devolvê-lo em condições de jogar. Ele ganhou massa magra e força, e isso é o avião para nós. Era importante que ganhasse massa magra e não muito peso. Fizemos um trabalho a muitos mãos de conscientizá-lo, e ele passou a ir mais na academia.
MT liga o "modo atleta" após lesão
Em 30 de abril, a um mês da estreia do Vasco na Série B, o preparador Daniel Félix, em entrevista ao ge, afirmou que MT já havia ganho muita força física.
- Perdeu muito de carga específica de campo porque ele não pôde fazer as ações motoras do jogo e dos treinamentos de campo, mas por outro lado ganhou muita resistência na sala de força. A gente procurou nesse tempo torná-lo um cara mais forte para que ele agora possa progredir no campo nas ações mais específicas - disse Félix.
Para se dedicar integralmente a esses trabalhos físicos, MT, em contato constante com a psicóloga Maíra Ruas, deu uma virada de chave em sua ainda curta carreira. Quem acompanha o atleta desde o início destaca que, a exemplo de muitos jovens, ele "só queria saber de bola".
Fazia o básico nos treinamentos físicos, mas não dava a importância necessária antes de sofrer o edema ósseo na vértebra lombar l5. A lesão o fez ter maior preocupação com esse "lado atleta".
Com muito mais força após tratamento pautado por paciência, conversa e equilíbrio, o touro está solto para ajudar o Vasco em campo na busca por melhores resultados na Série B e a continuidade na Copa do Brasil.
Fonte: ge