Clubes se articulam para criação de liga nacional; federações se manifestam sobre iniciativa
O anúncio da criação de uma liga de clubes para organizar o Campeonato Brasileiro já a partir de 2022 gerou reações diferentes dos dois lados dessa disputa. De um lado, a CBF tenta discretamente torpedear a operação. De outro, clubes se movem para montar uma entidade que vai formatar o que será a liga.
Embora a CBF não tenha publicamente demonstrado oposição ao projeto, nos bastidores a entidade age para enfraquecê-lo e manter o esquema de poder atual. Dirigentes duvidam que os clubes serão capazes de superar suas históricas desavenças internas e organizar sozinhos o Campeonato Brasileiro. A CBF também entende que a bola está com os clubes e são eles quem devem se movimentar agora.
É precisamente o que estão fazendo. Os presidentes dos clubes da Série A se movimentam para montar por de pé a estrutura que vai organizar o campeonato – departamentos esportivo, jurídico, financeiro, de comunicação, de captação de investidores. O plano é ter algo estruturado em até três ou quatro semanas e então voltar a conversar com a CBF.
A ideia é que a liga tenha como CEO um executivo sem ligação direta com algum clube, mas que responda a um Conselho que seja formado por eles e que dê aos times igual poder decisão entre si.
Presidentes de clubes de ouvidos pelo ge reconhecem que o movimento se deu agora por causa do momento de fragilidade institucional da CBF – seu presidente, Rogério Caboclo, está afastado por causa de uma denúncia de assédio sexual e moral – mas usam tom diplomático e conciliador quando se referem à relação com a entidade.
O discurso é de que a CBF deve ser uma parceira, afinal é ela quem se relaciona com a Fifa e a Conmebol, e ninguém quer criar uma liga pirata. O exemplo recente da Superliga Europeia é citado como um exemplo de fracasso por tentar operar fora da estrutura estabelecida do futebol.
O grande nó a ser desatado é com as federações estaduais. Nenhum dos envolvidos topa um Campeonato Brasileiro espremido entre maio e dezembro, como é hoje, para acomodar os campeonatos estaduais no início do ano. Todas foram procuradas pelo ge, mas a maioria preferiu não se manifestar. Chama atenção o fato de a Federação Paulista, a mais rica e com o campeonato estadual mais forte, ter se posicionado a favor da liga.
Além de articular a criação de uma liga, os clubes deixaram claro para a CBF num documento entregue na última terça-feira que querem mais poder de decisão dentro da entidade. Os clubes querem a equiparação no peso dos votos (hoje as federações estaduais têm o poder de vencer sozinhas as Assembleias Gerais) e mudanças na cláusula de barreira para registro de candidatos à presidência da CBF.
Na confederação, tais pleitos foram entendidos como contraditórios. Nas palavras de dirigentes da CBF, a ideia de querer mais poder dentro da entidade não combina com a ideia de tomar da confederação a organização do Campeonato Brasileiro.
Presidentes envolvidos na criação da liga contestam essa leitura. Afirmam que não há nada de contraditório no pleito, que a liga trata de um produto específico – o Campeonato Brasileiro – e que mesmo assim não abrem mão de serem ouvidos nas demais decisões da entidade, que para eles deve continuar cuidando da Copa do Brasil, das competições de base, do futebol feminino e das seleções brasileiras.
O QUE DIZEM AS FEDERAÇÕES ESTADUAIS SOBRE A LIGA
Federações
SP
Reinado Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol:
– A FPF entende o movimento dos clubes, torce para que dê certo e espera que a liga tenha uma gestão profissional.
SC
Rubens Angelotti, presidente da Federação Catarinense de Futebol:
– Este tema só será discutido após se resolver o problema do presidente (Rogério Caboclo).
PB
Michelle Ramalho, presidente da Federação Paraibana de Futebol:
– Eu fiquei sabendo da proposta dos clubes para a criação de uma liga para organizar o Campeonato Brasileiro. Mas fiquei sabendo de uma forma muito genérica. Então seria prematuro emitir uma opinião não sabendo as entrelinhas desse projeto. De toda a forma, eu estou à disposição dos clubes e das demais federações para conhecer melhor esse projeto e poder me posicionar com segurança.
BA
Ricardo Lima, presidente da Federação Bahiana de Futebol:
– Não participei da reunião e soube do assunto pela imprensa. Irei aguardar a CBF atualizar as federações, como não tenho informações suficientes não irei me manifestar. Mas garanto que toda e qualquer solução que exista para o engrandecimento do futebol será bem recebida.
AL
Felipe Feijó, presidente da Federação Alagoana de Futebol:
– Precisamos entender melhor o que está sendo proposto. Inicialmente, estamos acompanhando o que foi veiculado pela mídia. Ainda estamos aguardando um retorno da CBF sobre a reunião, com maiores informações, para formarmos esse entendimento. Adianto que qualquer solução que seja amplamente debatida e construída por várias mãos, que venha a fortalecer o futebol brasileiro, será sempre bem aceita.
CE
Mauro Carmélio, presidente da Federação Cearense de Futebol:
– Não vejo problema com o surgimento da Liga. Isso já foi tentado. Um novo modelo de gestão deve ser pensado. A nossa preocupação é como será o tratamento com os nossos clubes cearenses e que eles tenham direitos iguais e sejam respeitados no espaço delineado com os demais clubes.
AM
Dissica Tomaz Valério, Presidente do Federação Amazonense de Futebol:
– A Federação Amazonense de Futebol entende que o esporte passa por um momento de profissionalização e este tipo de discussão é válida, contudo, nenhuma posição será anunciada antecipadamente".
PE
Evandro de Carvalho, da Federação Pernambucana de Futebol:
– Nem eu nem a CBF somos contra qualquer liga. Na verdade, não é nenhuma novidade. No caso específico de clubes da Série A, não tem qualquer prejuízo, muito pelo contrário. A CBF economizaria recursos.
SE
Milton Dantas, Presidente da Federação Sergipana de Futebol:
– Não tenho nada contra os clubes criarem uma liga para se organizarem melhor, buscarem receitas, discutirem melhorias e outras coisas mais. O melhor exemplo disso é a Liga Nordeste, que foi criada para discutir melhorias para o futebol na região e reivindicar o retorno da Copa do Nordeste, que voltou e é organizada pela CBF. Porém, para organizar a competição, eu sou radicalmente contra. Clube não pode organizar competição, não é papel dele, cabe à CBF e federações essa tarefa. Os clubes usaram de oportunismo nessa situação, foi um momento oportunista para propor isso. Já existia o Clube dos 13, e quando ele acabou, deixou uma dívida que acabou tendo que ser assumida pela CBF. Não posso concordar com isso. Clube é clube, federação é federação, cada um no seu papel. Os clubes são totalmente independentes para negociar patrocínios, para negociar receitas de televisão, enfim, a CBF não se mete nisso. Agora organizar competição não é papel do clube. Vimos um exemplo recente na Europa, os maiores clubes do mundo tentaram organizar uma competição independente e não foram para lugar nenhum, não teve futuro porque não faz sentido. Aqui a mesma coisa.
RJ
Não se manifestou
MG
Não se manifestou
RN
Não se manifestou
DF
Não se manifestou
RS
Não se manifestou.
PR
Não se manifestou.
MT
Não se manifestou.
PA
Não se manifestou.
As demais federações não responderam.
Fonte: ge