Honraria permite ao Vasco usar a palavra 'Real' em seu nome e a coroa portuguesa em seu escudo; conheça a história
Sábado, 12/06/2021 - 00:27
Em uma busca por reavivar as raízes lusitanas do Vasco, será incluído no Tour da Colina, a partir de hoje (11), a exposição "Club de Regatas Vasco da Gama: o traço de união Brasil-Portugal". Dentre as peças expostas há uma que reserva uma curiosa história: o clube recebeu do Chefe da Família Real Portuguesa o título de "Real Sociedade", que viria no início do século XX mas por conta do assassinato do Rei Dom Carlos I, acabou sendo concedido tardiamente.

A ideia da cúpula é também aumentar o alcance do Vasco na Europa. Há a leitura que a iniciativa pode, além de estreitar laços, abrir as possibilidades para novos investidores.

No primeiro bloco da mostra, em destaque, será possível observar um Alvará Régio de 2017, assinado por Dom Duarte de Bragança, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real Portuguesa, em que é renovado e conferido ao clube o direito de se intitular Real Clube de Regatas Vasco da Gama e, ainda, "timbar e encimar o seu escudo de armas com a Coroa Real Portuguesa, de acordo com a tradição".

Documento de 2017 concede ao Vasco a honraria da Coroa Portuguesa para se chamar "Real" - Reprodução - Reprodução

A honraria demonstra um apoio da antiga Coroa e do chefe da Casa Real àquele clube. Na Espanha, por exemplo, é comum ver-se este título honorífico, como ocorre com o Real Madrid, Real Betis, Real Valladolid, Real Zaragoza, entre outros.

No caso do Vasco a honraria seria concedida em 1908 — quando o clube tinha apenas uma década de existência —, por ocasião da visita do Rei de Portugal Dom Carlos I ao Brasil. Porém, acabou impedido pelo episódio conhecido como Regicídio de 1908, que foi o assassinato do Rei D. Carlos I de Portugal e dos Algarves e de seu herdeiro Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal. A autoria do ato foi atribuída aos carbonaros simpatizantes do movimento republicanos auxiliados por políticos antimonarquistas.

D. Manuel II, filho mais novo de D. Carlos, com apenas 18 anos subiu ao trono, mas não conseguiu conter o movimento, tendo sido deposto em 1910 com a implantação da República Portuguesa.

"Em 1908, com os festejos do centenário da abertura dos portos às nações amigas, realizou-se uma exposição na Urca. A Urca era um bairro que ainda não havia sido urbanizado, aterrado recente. Nos preparativos para esta exposição, o governo brasileiro convidou o Rei Dom Carlos para que viesse visitar o Brasil. Na época, foi noticiado nos jornais que, com a vinda do Rei, o Vasco receberia o título de Real Sociedade, equiparando-se ao Real Clube Ginástico Português, a Real Beneficência Portuguesa e outras instituições que tinham relações luso-brasileiras. Ocorreu que logo a seguir a confirmação da visita, houve o Regicídio acabando por impedir a concessão do título ao Vasco", conta o pesquisador vascaíno Henrique Hübner, que foi ex-diretor do Centro de Memória do clube.

Desta forma, apenas em 2017, no dia em que completou 119 anos, o clube de São Januário recebeu finalmente o título de Real Sociedade, através do Decreto de Alvará Régio do Chefe da Casa Real Portuguesa, Dom Duarte Pio de Bragança.

"Em 2016, o presidente da Associação dos Autarcas Monárquicos Portugueses, Manuel Beninger, visitou o Vasco, em solenidade na qual a APAM concedeu uma homenagem ao clube. Nesta oportunidade, eu estava presente e conversando com ele lembrei desse episódio da história do Vasco e de Portugal. Ele me pediu um dossiê que apresentei com autorização da presidência do clube, e em seguida o presidente da APAM fez contato com a Casa Real Portuguesa que, ao final, reconheceu o merecimento do Vasco com o título de Real Sociedade", apontou Hübner, que completou:

"Em 1908, [o título] tinha um caráter soberano. Portugal era uma monarquia com caráter constitucional. Hoje, tem um caráter mais restrito, mas autoriza a usar o termo "Real" junto ao nome do clube, bem como da Coroa Portuguesa no escudo do Vasco. O que houve foi a restituição ao Vasco de uma dignidade que teria recebido no início do século XX".



Fonte: UOL