Existem duas linhas de conduta entre os clubes de futebol, que às vezes não se cruzam: a das ações publicitárias e a da vida real. Nem sempre o que é pregado em troca de boa reputação é praticado quando se tem a chance. O caso da acusação de assédio sexual e moral contra o presidente da CBF, Rogério Caboclo, é um bom exemplo disso.
Apesar de as campanhas contra a violência contra a mulher se tornarem cada vez mais recorrentes na comunicação dos clubes brasileiros, o episódio envolvendo o dirigente máximo do país nem sempre tem abordagem proporcional. Flamengo e Fluminense, procurados pela reportagem, afirmaram que não iriam se pronunciar a respeito das acusações que fizeram com que Caboclo fosse afastado temporariamente do cargo.
O silêncio contrasta com a campanha rubro-negra de 2020, que abriu espaço no Maracanã para o atendimento de rubro-negras vítimas de assédio. Em2018, o tricolor jogou um clássico contra o Vasco de luto pelas vítimas de violência contra mulher.
Uma das ações mais recentes no futebol carioca foi a do Vasco. O zagueiro Ricardo Graça entrou em campo com um "X" vermelho no lugar da cruz de malta e o telefone para denúncias estampado na camisa. Até a publicação da reportagem, o clube não havia respondido ao pedido para que se posicionasse a respeito das acusações contra Caboclo.
Entre os grandes do Rio, o Botafogo foi o único que se posicionou:
"O Botafogo apenas tem conhecimento do caso através de informações veiculadas na imprensa. Se confirmadas, as denúncias são muito sérias e graves. O Clube monitora o andamento com máxima atenção e aguarda a investigação que está em curso na Comissão de Ética da CBF".
Paulistas fazem pronunciamento em conjunto
Na teoria, o desconforto dos clubes paulistas para se pronunciarem sobre o caso seria maior. Rogério Caboclo é do futebol do estado, saiu da Federação Paulista de Futebol para a CBF.
No caso do São Paulo, é pior. Caboclo faz parte do Conselho Vitalício do clube. Sua história com o tricolor do Morumbi é antiga, seu pai, Carlos Caboclo, foi dirigente famoso nas décadas de 1970 e 1980. Ainda assim, o clube se manifestou a respeito e disse, em nota oficial, que aguardará o resultado da investigação pelo Comitê de Ética da CBF para tomar qualquer decisão sobre o status de Caboclo no quadro social.
Os clubes paulistas contaram com a ajuda da Federação Paulista de Futebol para evitar maiores desgastes com o dirigente. Em uma nota assinada por todos os integrantes da Série A1 paulista, a entidade afirmou que "prezando por transparência, conduta ética e moral, o Futebol Paulista segue unido e acompanhando atentamente todas as apurações envolvendo o caso. A FPF e os clubes paulistas entendem que medidas céleres e justas devem ser tomadas, para que o futebol brasileiro continue seu rumo de desenvolvimento e profissionalização".
Fonte: O Globo Online