Ex-diretor do Vasco, Franck Assunção quase levou o italiano Vieri para o Boavista
Boavista e Vasco iniciam, hoje (1º), a briga por uma vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil. O duelo, no Elcyr Resende, em Saquarema, coloca em lados opostos clubes que pertencem a prateleiras distintas no futebol brasileiro, mas que já tiveram uma figura em comum nos bastidores.
No fim de 2010, o Boavista — que era o Esporte Clube Barreira e foi refundado em 2004 — ganhou as manchetes. Afinal, o modesto clube do Rio de Janeiro negociava com o atacante italiano Christian Vieri, à época com 37 anos e um currículo que contava com passagens por grandes clubes europeus e participação em Copa do Mundo. Por trás desta negociação estava Franck Assunção, que quase uma década depois viraria cartola vascaíno.
A ideia era que o jogador defendesse o Boavista no Estadual do ano seguinte, com a possibilidade de atuar pelo Duque de Caxias na Série B do Brasileiro, uma vez que os clubes tinham uma parceria. O acerto, que seria o de maior impacto na história do clube, porém, não aconteceu.
"O Franck tem total participação no Vieri no Boavista. Poucas pessoas sabem como foi esse trâmite. Vieri ficou quatro meses no Rio, treinando todos os dias, com o Nilton Petrone [o Filé] e o Joelton Urtiga. Emagreceu, ficou ótimo, mas teve um problema de ordem pessoal bem antes da estreia e teve de sair. Mas tínhamos o contrato assinado, o visto pronto. Foi uma pena, mas foi muito positivo", disse, ao UOL Esporte, João Paulo Magalhães, presidente do Boavista, lembrando que, naquela temporada, o time disputou a final da Taça Guanabara contra o Flamengo.
Franck, por sua vez, lamentou que o planejamento não pudesse ser concluído da forma imaginada.
"Naquele momento o Christian [Vieri] estava finalizando sua vitoriosa carreira e convidei ele para vir ao Brasil, especialmente ao Rio de Janeiro. Apresentei o Christian a um grande amigo, o João Paulo. Surgiu o convite para que, se o Christian entendesse ser bom para ele, o Boavista estaria de portas abertas para recebê-lo. Iniciaram algumas tratativas, mas, infelizmente, houve um inesperado chamado na Itália e não pode seguir adiante o plano", indicou.
Poucos anos depois, em março de 2013, de forma quase surpreendente, Franck foi anunciado como diretor executivo de futebol do Vasco, assumindo vaga até então ocupada por Daniel Freitas. Na ocasião, o presidente era Roberto Dinamite e o vice de Futebol era José Hamilton Mandarino. A contratação pegou até mesmo alguns funcionários de surpresa e, na apresentação, ele chegou a esquecer o discurso impresso na sala de imprensa. Após cerca de um mês em que "tocou violino e não saiu som", na avaliação da cúpula, Assunção foi dispensado pelo Cruz-Maltino.
"Se a pessoa diz que toca violino e não sai som, não toca, não é? O clube imaginou uma coisa e apareceu outra. Não podemos ficar sentados e esperando. A diretoria está definindo os últimos detalhes dessa questão, mas no meu entendimento é uma coisa que se aproxima do desfecho", afirmou Mandarino, ao UOL Esporte, na ocasião.
Franck Assunção, por sua vez, afirma que fez o trabalho da "melhor forma possível", lamenta que a empreitada não tenha seguido e aponta que houve um certo boicote de integrantes da diretoria vascaína.
"Embarquei para a Europa no dia seguinte para desenvolver os trabalhos pactuados com o clube. Mantive contato direto com o presidente Roberto Dinamite, reportando todas as atividades. Naquele momento, tínhamos um grande jogador no Vasco, o zagueiro Dedé, que era cobiçado por muitos clubes. Consegui articular a venda para três grandes clubes europeus. O plano era, com o recurso, conseguirmos pagar, em primeiro lugar, os salários atrasados do elenco, e buscar ofertas viáveis para o grupo para uma competição tão importante como a Libertadores", lembra.
"Busquei nomes que estavam livres no mercado europeu que, para a época, eram utópicos no Brasil, que a diretoria fez questão de vazar à imprensa até mesmo como chacota, boicotando o trabalho. Mas reforço que, naquela época, estávamos à frente em termos de gestão. Qual não foi a minha surpresa quando descubro, depois de três semanas de árduo trabalho na Europa, que a diretoria estava me descredibilizando para minar minha autonomia. Se iria dar certo? Não sei, mas estava fazendo meu trabalho da melhor forma possível. Confesso que, em um primeiro momento, fiquei com mágoas, porque com esse plano, e em um prazo curto que tínhamos para montar o elenco, envolvia também uma conversa já iniciada", completou.
Prisão em Campinas
No último dia 20, Franck Assunção foi preso em Campinas (SP), por porte ilegal de armas. Após dois dias no Centro de Detenção Provisória de Hortolândia, ele recebeu um alvará de soltura da Justiça, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária do estado de São Paulo (SAP).
O empresário explicou que o caso está em segredo de Justiça, mas comentou rapidamente o episódio, dando sua versão dos fatos.
"Conclui o meu curso de atirador profissional, tirei a minha CR [Certificado de Registro], e estava portando as minhas duas armas registradas e desmuniciadas, conforme a lei. Chamei um Uber apara ir ao apartamento que tenho em Campinas. O fato é que esse motorista viu as armas e ficou com medo, não sei. Ele me levou até perto de um carro da polícia que estava fazendo a ronda e parou o carro dizendo que eu estava armado. Quando os policiais viram os documentos das armas e minha CR, o motorista começou a dizer que eu o agredi. Fomos para a delegacia e resolvemos tudo da melhor forma. Quem me conhece sabe que sou um cara que não tenho esse tipo de conduta agressiva ou intempestiva", contou.
Drogba no Corinthians e Balotelli no Fla?
Franck Assunção esteve envolvido em outras duas negociações que ganharam destaque no futebol brasileiro: Drogba, com o Corinthians, em 2017, e Balotelli com o Flamengo, em 2019. As conversas, porém, não se concretizaram na assinatura de contrato.
À época, o atacante marfinense acabou fechando com o Phoenix Rising, dos Estados Unidos. Atualmente, está aposentado dos gramados. Já Balotelli, acertou com o Brescia, da Itália. Hoje, está no Monza, também da Itália.
"O Drogba é um amigo. Estávamos com as tratativas muito bem encaminhadas, ele viria de fato para o Corinthians, mas, na última hora, resolveu que o melhor para ele era seguir um outro caminho. O Balotelli foi praticamente a mesma coisa. Tudo ok e apalavrado com o Flamengo e, na hora de assinar, resolveu seguir uma outra proposta por razões profissionais, pessoais e familiares".
Fonte: UOL