Renovação com a Kappa é alvo de investigação interna no Vasco; empresa e Campello comentam
A renovação do contrato da Kappa com o Vasco é motivo de duas investigações internas no clube. Uma no Conselho Fiscal e outra na recém-criada Diretoria de Integridade. O objetivo é entender os motivos que levaram o ex-presidente Alexandre Campello a assinar a renovação três meses antes de o vínculo ser renovado automaticamente, como previa o contrato inicial.
Em resumo, de acordo com os documentos em poder do Conselho Fiscal, o novo vínculo (que vai até dezembro de 2024) excluiu cláusulas que eram consideradas favoráveis ao clube, ao passo que manteve praticamente as mesmas obrigações da fornecedora de material esportivo com o Vasco. A informação de que o novo contrato estava sendo investigado e que o clube deixou de ter "cláusula de saída" fora noticiada anteriormente pelo portal Papo na Colina.
O blog confirmou e apurou mais detalhes. Entre as modificações, está a exclusão da cláusula que dava a possibilidade de o Vasco rescindir com a Kappa, sem pagamento de multa, caso recebesse proposta em melhores valores de uma das concorrentes da empresa, entre elas, Nike, Adidas, Puma e Umbro. Na direção oposta, no novo contrato a multa para rescisão aumentou de R$ 3,5 milhões para R$ 6 milhões, sem esta brecha para saída por parte do clube.
O pedido interno de verificação (PIV), como é chamado o instrumento apuratório interno criado pela nova diretoria, foi aberto após encaminhamento dos documentos pela Vice-Presidência de Marketing, onde o contrato está baseado.
De acordo com apuração da reportagem, o novo contrato manteve a obrigação de fornecimento de 30 mil peças por ano, sendo que somente 12 mil são incluídas no pacote como gratuitas, as outras 18 mil precisam ser pagas. A Kappa continua pagando os R$ 600 mil por temporada pela exploração da marca, além de cerca de 13% em royalties nas vendas de produtos e R$ 300 mil em verba de marketing – dinheiro carimbado para fins promocionais da parceria. Estes valores seriam os mesmos do vínculo anterior.
Renovação automática
Pelo contrato anterior, para renovar o vínculo automaticamente por mais dois anos, mantendo as cláusulas iniciais, era necessário que a Kappa vendesse pelo menos R$ 216 mil em produtos. E isso ocorreu. Segundo levantamento feito pelo clube, esta meta foi batida em cerca de seis meses. O ex-presidente Campello confirmou ao blog que a empresa "já tinha atingido a meta que dava a eles (Kappa) o direito de prorrogar o contrato", mas disse que o novo contrato tem "concessões que são favoráveis" ao Vasco. Leia abaixo a íntegra da resposta.
Somente por este ponto (metas atingidas) o contrato já teria sido renovado até abril de 2024, sem a necessidade de um novo termo. No entanto, em novembro, decorridos apenas seis meses da assinatura do primeiro contrato, o vínculo foi renovado, em outras bases.
Base forte
Outra mudança no novo contrato é quanto à exploração da marca Base Forte, um nicho que o clube quer criar para geração de receita dedicada às categorias de formação. Pelo novo contrato, a Kappa precisa ser consultada caso o clube queira confeccionar itens com esta marca e tem a possibilidade de produzi-lo, caso queira.
Resumo dos principais pontos do antigo e do novo contrato:
Como era:
- Vigência: até fevereiro/2022 com possibilidade de extensão automática por mais 2 anos se batesse as metas
- Valor e demais condições: R$ 600 mil por ano, 13% de royalties, R$ 300 mil de verba em marketing, 12 mil peças de uniforme garantidas
- Multa em caso de rompimento: R$ 3,5 milhões
- Brecha de rescisão (pró Vasco): caso recebesse proposta melhor de Nike, Adidas, Puma ou Umbro
Como ficou:
- Vigência: até dezembro/2024
- Valor e demais condições: mesmas do contrato anterior
- Multa em caso de rompimento: R$ 6 milhões
- Brecha de rescisão (pró Vasco): saiu do contrato
Respostas da Kappa às perguntas do blog:
- Queria entender de quem partiu a iniciativa de renovação do contrato. Da SPR (Kappa) ou do clube?
"Já estava previsto no contrato a renovação automática. Foi solicitado pelo Clube ajustes contratuais".
- Visto que o contrato anterior tinha cláusulas de renovação automática, o que motivou a renovação em outros termos, sem fazer valer o novo vínculo automático?
"O vínculo automático foi acionado porque houve o cumprimento das metas estipuladas. Existe uma parceria muito saudável entre Kappa e Vasco em todos os aspectos e revisão de termos são naturais".
- Soube que um dos executivos da SPR (representante da Kappa no Brasil) irá prestar esclarecimentos ao Conselho Fiscal esta semana. Como a empresa avalia esta convocação?
"Não fomos convocados pelo Conselho, mas caso o clube precise de novas informações, que precisem ser esclarecidas por nós, a Kappa está sempre à disposição para qualquer solicitação de nossos parceiros".
- O Vasco abriu, pela sua Diretoria de Integridade, um procedimento de verificação dos termos da renovação do contrato. Como a empresa avalia este procedimento? O que tem a dizer a respeito?"
"Sabemos que com toda mudança de Diretoria criam-se novos processos adequados à nova gestão. Isso é uma rotina natural dentro dos clubes de futebol, e vemos com a mesma naturalidade qualquer tipo de questionamento ou análise que precise ser feita por uma das partes".
Resposta do ex-presidente Alexandre Campello:
- Tomei conhecimento disso ontem. Eu vejo com bastante tranquilidade isso, porque a Kappa já tinha atingido a meta que dava a eles o direito de prorrogar o contrato. Eles bateram a meta num primeiro momento, vale lembrar que a gente passou a enfrentar uma pandemia e eles foram parceiros o tempo todo. As alterações que foram feitas nas cláusulas, a começar a multa, este aumento é proporcional ao aumento do contrato e por outro lado também foram feitas concessões que favoreciam o clube, como por exemplo, a não obrigatoriedade de não usar Kappa nos esportes olímpicos e no futebol de base e isso traz vantagens para o clube porque diminui o custo e em última análise aumenta as receitas do clube, oriundas de venda de material esportivo da Kappa. Não vejo nenhum problema em relação a isso, lamento, só que, com isso (essas coisas têm no fundo questões políticas), lamento que eles acabem expondo um parceiro que é a Kappa, expondo de maneira negativa alguém que é parceiro do clube.
A assessoria de imprensa do clube preferiu não se manifestar sobre as investigações, mas deu respostas sobre como são os processos de avaliação dos contratos, por parte da Diretoria de Integridade:
O processo de avaliação dos contratos é um processo técnico baseado em fatos, dados e documentos. Foi implementado um Plano de Auditoria baseado em matriz de risco aplicada, com o intuito de tratar de forma prioritária o que é mais urgente às demandas do Clube.
Com base nos resultados desta matriz o procedimento seguirá o seguinte processo:
i) planejamento, elencando os objetivos de trabalho, escopo, recursos e atividades;
ii) execução, incluindo inspeção documental, observação in loco, procedimentos analíticos, entrevistas com a gestão, dentre outros;
e iii) reportes e recomendações para melhoria na Governança, Gestão de Riscos e Controle Interno para objeto de acompanhamento.
O trabalho é baseado em análise documental. Por esta razão os prazos de conclusão podem variar para execução da diligência necessária e obter evidência adequada e suficiente para subsidiar o documento final."
Fonte: Blog da Gabriela Moreira - ge