Bernardo vê Rio Branco-PR como última chance e diz que ainda sonha voltar a jogar pelo Vasco
Entre erros e acertos, Bernardo tem consciência do peso que carrega pela história que construiu no futebol. Revelado pelo Cruzeiro, ele surgiu como um meia promissor, principalmente pela passagem no Vasco – clube que carrega grande identificação até hoje. Porém, problemas extracampo deixaram no meia um rótulo de "jogador problema", consequência do que ele detalha como "escolhas erradas" que acabou tomando.
Agora, aos 30 anos, Bernardo encara no Rio Branco-PR o que ele mesmo define como "última chance" para voltar a se destacar no futebol:
"Não tem outra forma de se pensar. A oportunidade que estou tendo, creio que é a última, então tenho que aproveitar. Pela idade, pelo momento que estou vivendo. Se não for agora, posso até pensar em fazer outra coisa, estudar, fazer algo diferente. Por isso tenho que estar firme mesmo comigo, dizendo não para certas coisas que vão me prejudicar"
— Bernardo, meia, ao ge
Bernardo conversou com o ge, por videochamada, e passou a limpo a carreira. Reconheceu os erros que cometeu e custaram o rótulo de "jogador problema" - denúncias de agressão, discussão com torcedores em redes sociais e até um suposto sequestro por traficantes. Ele também reclamou da falta de sequência, contou sobre a passagem por Hong Kong e da escolha pelo Rio Branco-PR.
O futuro também entrou em pauta. Bernardo disse que "tem muita lenha para queimar" e colocou como objetivo jogar pelo menos a Série B do Brasileiro neste ano. E, claro, ele não deixou de falar do Vasco, reforçando o carinho pelo time e também o sonho de voltar a vestir a camisa cruz-maltina.
– Eu tive as escolhas erradas no passado, infelizmente paguei o preço. Mas há tempo de colocar o respeito e a dignidade de volta. Dizer: "Caraca, ele conseguiu dar a volta por cima". Eu quero mostrar isso. Por isso estou aqui, feliz. O Bernardo está no Rio Branco-PR? Não importa, estou feliz aqui. Quero deixar meu legado aqui
— Bernardo
Início no Cruzeiro, auge no Vasco
Bernardo fez toda a base no Cruzeiro, foi campeão no sub-15 e sub-17 da seleção, e subiu ao profissional da Raposa em 2009, fazendo parte do elenco vice da Libertadores. Em 2010 ele foi vice da Sul-Americana com o Goiás. Um ano depois, o meia foi contratado pelo Vasco, onde brilhou no título da Copa do Brasil e no vice do Brasileirão – foram 14 gols marcados, sendo que na maioria dos jogos ele saiu do banco.
– O ano de 2011 foi maravilhoso para mim. Tive oportunidade de jogar com grandes jogadores, que eu via quando era moleque, o Felipe, o Juninho, e ter convivido com grandes craques, ídolos do Vasco, foi uma alegria imensa. Uma oportunidade que eu pude aproveitar.
— Bernardo
A queda
O brilho também levou aos problemas fora de campo. Bernardo começou a ter o nome envolvido em várias polêmicas. Em uma delas, ele teria sido supostamente sequestrado e torturado por um traficante no Rio de Janeiro, segundo informações da polícia na época. O jogador ainda enfrentou lesões, que impediram uma sequência justamente quando esperava alcançar o auge.
– São escolhas que você acaba fazendo. Tem a escolha certa e a escolha errada. Nesse processo da vida, tive escolhas que não eram tão corretas pelo meu trabalho. O extracampo atrapalhou bastante a minha trajetória. Eu poderia ter alcançado algo a mais, seja no Vasco ou fora do país, chegar no patamar de Europa. O tempo passa, você acaba revendo o passado, não quer que ele repita.
"Jogador problema"
Bernardo teve passagens por Santos e Palmeiras, ambas sem brilho, e deixou o Vasco em definitivo em 2015, pelas "portas dos fundos", após ser afastado pelo clube. O meia acabou sendo rotulado como "jogador problema" e não conseguiu mais se firmar a partir dali.
– Todo mundo passou essa imagem. São as oportunidades que a gente dá. Mora no Rio de Janeiro, cidade badalada... No começo eu ia (para a noite), mas na hora certa, sem dar brecha. Só que você acha que nunca vai acontecer. Pela idade, 23, 24 anos, a gente quer tocar o terror, e é errado. É chato, mas tem que ser realista. Mas ninguém pode julgar, o único que pode julgar é Deus. Nunca é tarde para recomeçar. Estou bem, não ligo para o que as pessoas falam. Melhor ouvir em casa, da família, de pessoas boas, os amigos verdadeiros.
Quase no Manchester United
Bernardo acredita que poderia ter chegado a jogar na Europa, caso não tivesse cometido os erros citados. Ele conta ainda que quase foi para o Manchester United fazer um período de testes, ainda no começo da carreira, mas o Cruzeiro acabou barrando a oportunidade na época.
– Poderia chegar na Europa, esse era o objetivo. Quando eu estava no Cruzeiro, na base, tive a oportunidade de ter saído com 16 ou 17 anos. Eu já tinha o nome falado no Cruzeiro, era seleção de base, e tive a oportunidade de sair, mas o Cruzeiro, pela idade, preferiu esperar. Teve até a oportunidade de ir pro Manchester United na época, uma parceria que eles faziam de ficar lá uns dias treinando, como aconteceu com outros atletas da minha categoria de base na seleção.
Novas chances, sem sequência
Depois do Vasco, Bernardo começou a rodar. Foi para o Ceará, jogou na Coreia do Sul e depois passou rapidamente por Coritiba e Botafogo-SP (nestes dois times foram 16 jogos, apenas um como titular).
O meia só foi conseguir uma sequência de jogos ao defender o Al Khaleej, da Arábia Saudita. Ali ele conta que atuou em 32 das 38 partidas do time em 2018, marcando seis gols e dando várias assistências.
– Eu não tive uma sequência dessa aqui no Brasil em muito tempo. Pela qualidade e o talento que eu tenho, claro respeitando a opinião de comissão técnica, treinador, mas é chato porque eu poderia ter jogado mais. Principalmente no Botafogo-SP. Deixei de ficar no Coritiba para me arriscar no Botafogo-SP, o treinador (Moacir Júnior) me chamou, disse que eu ia jogar, ser o camisa 10, mas não joguei nenhum jogo como titular. Isso me magoou bastante. Aí que começou a passagem por clubes de menor expressão e fui para a Arábia Saudita.
A expectativa era voltar ao Brasil para disputar pelo menos uma Série B, mas não teve sucesso. Parou no Volta Redonda, para tentar mais um recomeço. Em 2020, Bernardo foi se aventurar em Hong Kong, onde encontrou alguns nomes conhecidos, como os atacantes Marquinhos, ex-Vitória, Palmeiras e Cruzeiro, e Nílson, ex-Santos. A passagem pelo país asiático foi interrompida por causa da pandemia.
– Diferente demais. Foi até preocupante por conta da Covid-19. Minha mãe trabalha em hospital em Sorocaba e me disse: "meu filho, cuidado, esse negócio veio de lá...". Mas a gente teve todo cuidado. Totalmente diferente a forma de treino, estrutura, futebol meio que amador. Joguei dois jogos, quando ia ter o terceiro começou a pandemia. Aí só fui treinando, fazendo coisa na academia. Fazia trilha pra caramba, nunca tinha feito, uma coisa nova. Aproveitei para tirar umas fotos, para deixar guardado. Uma coisa curta.
Recomeço no Rio Branco-PR
No Rio Branco-PR, Bernardo participou de oito dos 10 jogos do time no Paranaense até agora, sendo seis deles como titular, e já marcou um gol – de pênalti, no empate com o Londrina, na quinta rodada. O meia quer ajudar o Leão da Estradinha a evitar o rebaixamento.
O time de Paranaguá vai disputar depois a Série D do Brasileiro, mas Bernardo espera chamar a atenção para conseguir ao menos uma vaga em algum time que jogará a Série B:
– A minha mente é voltar pra Série A, mas pra isso eu preciso ter um processo de uma Série B, que é meu objetivo, o mínimo, em último caso uma Série C. Mas o objetivo é chegar em uma Série B e fazer um bom campeonato. Fazendo bom campeonato, as portas vão se abrir novamente. Tenho certeza de que eu fazendo o meu papel, me cuidando fora, fazendo as coisas certas, Deus vai abençoar e abrir as portas novamente.
De volta ao Vasco?
Sempre que tem o nome lembrado, Bernardo é associado diretamente ao Vasco. O próprio jogador reforça essa identificação. Basta ser questionado sobre o time carioca, e o sorriso aparece no rosto dele. E voltar ao Vasco é o principal sonho de Bernardo.
— É a identidade... Quando toca no assunto, o sorriso muda. Foi o melhor clube que joguei. (Quero voltar) para eu poder pendurar a chuteira realizado, ganhar um título de expressão
— Bernardo, meia do Rio Branco-PR
– Ganhei em 2011 a Copa do Brasil, ganhei um Carioca, fiz meus gols importantes, por isso marcou a passagem no clube. Tenho certeza de que se for da vontade de Deus, tocar o coração das pessoas que estiverem trabalhando ali na época, vai acontecer. Mas vamos pensar no Rio Branco-PR – completou.
Fonte: ge