Rebaixado, o Vasco tem ainda receita comprometidas de TV e sócio-torcedor por antecipações: restaram R$ 50 milhões livres em 2021. Mas o clube tem que pagar R$ 314 milhões em compromissos só neste ano, seis vezes mais. É o que revelam os dados do balanço vascaíno.
A dívida líquida do Vasco é de R$ 830 milhões ao final de 2020, o que representa um salto de quase R$ 200 milhões em relação ao ano anterior (o clube usou o valor de R$ 832 milhões em referência à dívida bruta). Isso se explica principalmente pela descoberta de uma dívida trabalhista desconhecida, além do déficit do ano. Voltaremos mais a esse tema à frente.
Mais importante é a situação do caixa do clube, isto é, a capacidade de ter dinheiro para cumprir as pendências do ano. Para isso, é preciso fazer uma comparação entre a receita disponível e os compromissos.
Bem, o Vasco tem uma receita habitual em torno de R$ 200 milhões como foi no ano passado. Com a queda à Série B, a previsão é de uma renda de R$ 100 milhões, segundo o balanço. Só que houve adiantamentos de cotas de TV e de toda receita de sócio-torcedor. Lembremos que o Vasco já tinha um valor de direitos de TV reduzido pelo Brasileiro - apenas o valor do pay-per-view - já que foi rebaixado para a Série B.
"A receita esperada para este ano é de aproximadamente R$ 100 Milhões, sendo que mais de 50% já está comprometida na fonte arrecadadora", afirmou o presidente do Vasco, Jorge Salgado, em carta no balanço. Ou seja, sobraram R$ 50 milhões livres se não consideramos receitas extraordinárias.
Rendas extras, aliás, também estariam comprometidas em parte já que há acordos para credores ficarem com 20% das vendas de jogadores de futebol e 10% das receitas de televisão.
Bem, neste quadro, o Vasco tem que pagar R$ 312 milhões em compromissos somente neste ano. O valor do passivo circulante (dívidas em até um ano) é um pouco maior, mas o clube não considerou no cálculo receitas diferidas, luvas de contratos de TV, que obviamente não terá de pagar. De qualquer maneira, só as dívidas representam seis vezes o que o clube vai receber em 2021.
Os itens que mais pesam na dívida de curto prazo são as obrigações trabalhistas, e os acordos cíveis e trabalhistas (dívidas para as quais foram feitos acordos).
Não há outra solução para o clube além de cortar custos e tomar novos empréstimos para sobreviver. "Esses recursos têm sido tomados de curto prazo, ajuda de mútuo. Todos eles mais baratos do que o custo que era antes", afirmou o vice de finanças vascaíno, Adriano Mendes. Um dos primeiros a emprestarem para o Vasco foi justamente o presidente Jorge Salgado, que fez um mútuo de R$ 7 milhões para despesas iniciais.
Em relação a cortes, o Vasco reduziu sua folha salarial de R$ 10 milhões para R$ 5,5 milhões, segundo Mendes. A intenção é tirar mais R$ 500 mil para cumprir a meta. Era uma folha que se enquadraria na queda de arrecadação vascaína com a Série B não fossem as dívidas e adiantamentos.
Para além deste sufoco, o quadro do Vasco foi de piora da sua situação em relação há três anos quando assumiu o ex-presidente Alexandre Campello. O débito teve um salto de R$ 299 milhões só nos últimos dois anos. É resultado tanto de déficits quanto de descoberta de novos passivos.
Um exemplo foi que o escritório trabalhista que defendia o Vasco apresentou dívidas novas desconhecidas durante o período de 2020. O número inicial seria de R$ 80 milhões. Após uma auditoria, descobriu-se que o valor atingia R$ 119 milhões em crescimento do passivo trabalhista.
O clube tem valores em aberto com a Receita Federal - praticamente não pagou impostos no ano passado - e em acordos cíveis. Todas essas pontas têm que ser fechadas enquanto o clube tenta sobreviver no ano de 2021 e subir para a Série A. Diante do quadro, a ascensão à elite é uma questão de sobrevivência.
Fonte: Coluna Rodrigo Mattos - UOL