O presidente do Vasco, Jorge Salgado, colocou em balanço, pela primeira vez, a identificação de dívida de antigos empréstimos realizados por ele ao clube, em 2013 e 2020 . O dirigente aceitou estender o prazo e receber uma antiga dívida, hoje estimada em cerca de R$ 7 milhões, até janeiro de 2023, no fim de seu mandato.
Ele anunciou tal acerto em carta anexada ao balanço patrimonial referente ao exercício de 2020, divulgado nesta sexta-feira. O valor é referente ao um empréstimo de R$ 3 milhões, realizado em 2013, na gestão de Roberto Dinamite, além de um novo empréstimo no ano passado (R$ 2 milhões), à gestão de Alexandre Campello, para ajudar com pagamentos de salários atrasados.
No documento, o Vasco explica que seu presidente, Jorge Salgado, concordou em renegociar para que o pagamento da dívida ocorra até 10 janeiro de 2023, com juros de 7,5% e sem incidência de correção monetária até o seu vencimento. Em acordo prévio com Campello, em junho de 2020, o prazo para a quitação da dívida acabou em 20 de dezembro, mas o pagamento não ocorreu.
Segundo o balanço, Salgado emprestou R$ 3 milhões ao Vasco em 25 de junho de 2013 para pagamento de salários de jogadores e funcionários. A dívida deveria ter sido quitada no mesmo ano pelo então presidente Roberto Dinamite, com taxa de juros de 2% ao mês. Mas não aconteceu.
No ano passado, em encontro intermediado pelo então vice de futebol José Luis Moreira, Salgado fez um novo empréstimo, dessa vez no valor de R$ 2 milhões. O acordo previa quitação da dívida até 20 de dezembro do ano passado, e Salgado tinha como garantia a premiação do Campeonato Brasileiro ou uma venda robusta de algum atleta. Como foi rebaixado e não recebeu premiação, o pagamento mais uma vez não ocorreu.
No ano passado, durante a candidatura, Salgado explicou os empréstimos em entrevista ao ge.
- Em 2013, na gestão do Roberto Dinamite, fui procurado em um momento de extrema dificuldade de fluxo de caixa do Vasco para emprestar recursos. Eu receberia esse empréstimo 15 dias depois, com o patrocínio da Nissan. Cobrei o Roberto, mas não me pagou. Depois veio o Eurico, reconheceu minha dívida, levei a documentação, mas pediu um tempo para vender jogador. Quando venderam o Douglas Luiz, o clube recebeu mais de R$ 60 milhões. Fui lá receber, e já não existia mais o dinheiro. Foi usado para pagar folhas atrasadas, fornecedores, bancos, não recebi. Aí veio o Campello em 2018. Ele disse que resolveria quando tivesse uma folga. Nunca pressionei. Só emprestei porque tinha para emprestar e não precisaria desses recursos. Não sou irresponsável. Esse dinheiro paga uma boa casa. Sete anos depois, agora em 2020, o Jose Luís Moreira me telefonou e me chamou para ir ao Vasco a pedido do Campello, pois a situação estava crítica, estava indo para o quarto mês de atrasos, o Castan dando declarações, o Vasco tinha que renovar com o Marrony para fixar o passe dele por um valor maior para não sair quase de graça. O Campello me fez um apelo. Eu disse que o Vasco já estava me devendo desde 2013. Ele atualizou a dívida de 2013, pediu para eu colocar mais recursos e disse que me pagaria no final de dezembro com a venda de jogador, com direitos de televisão ou com a premiação do Brasileiro. Ele tem esse compromisso comigo – disse Salgado, em outubro do ano passado.
Confirmado pela Justiça em dezembro como presidente do Vasco, Jorge Salgado tomou posse no fim de janeiro deste ano.
Aumento do débito trabalhista surpreende
O crescimento da dívida trabalhista do Vasco nos últimos meses talvez tenha sido uma das revelações mais impactantes na apresentação do balanço financeiro do clube, nesta sexta. O VP de finanças, Adriano Mendes, chamou a atenção para o fato e disse que a atual gestão, que assumiu em janeiro com presidente Jorge Salgado, foi surpreendida com um acréscimo substancial a partir de outubro do ano passado.
A dívida trabalhista, nas contas do clube, aumentou na ordem de R$ 80 milhões desde outubro, o que impactou significativamente no aumento da dívida líquida do Vasco de R$ 832 milhões, anunciada nesta sexta.
A situação causou desconforto interno e resultou na substituição do antigo escritório de advocacia responsável pelas questões trabalhistas, Paulo Reis Advogados Associados, do ex-diretor jurídico Paulo Reis. A mudança ocorreu logo no primeiro mês de gestão de Jorge Salgado. O escritório Ideses TVM Advogados realizou auditoria e passou a responder pelas área trabalhista do clube.
No balanço publicado em seu site no final da tarde desta sexta, o Vasco cita um "descontrole administrativo das ações trabalhistas" e alega que, no ano passado, o escritório de advocacia apresentou informações dando conta da elevação de dívidas judiciais trabalhistas da ordem de R$ 83 milhões, a maior parte advinda de exercícios anteriores. No entanto, a Paulo Reis Advogados Associados era responsável pelas ações há muito tempo e, segundo o Vasco, só informou sobre o montante no fim da gestão de Alexandre Campello, o que surpreendeu a atual diretoria.
- O departamento financeiro do Vasco teve estranheza do número, começou a tentar entender de um aumento muito grande. A gente fala de um aumento em volume de dívida de mais de R$ 80 milhões. Havia processos de longa data que existiam, mas não eram informados. Andou, assumimos. O que fizemos? Foi entender o valor real dessa dívida, tomar ciência exata para não ter mais surpresas, endereçar ações para negociar e preparar o pagamento aos credores. Precisávamos ter entendimento claro - disse Adriano Mendes, em coletiva realizada na tarde desta sexta, completando:
- A maior parte da dívida é tributária, mas para a nossa surpresa a questão trabalhista ganhou um vulto muito grande. No ano passado, era menos de R$ 100 milhões. Hoje, ela grita com mais R$ 235 milhões.
Fonte: ge