Elogiado por Marcelo Cabo, Caio Eduardo foi descoberto em projeto em Acari e já ganhou chuteira de Paulinho
Cria da base do Vasco, o volante Caio Eduardo fez a estreia no profissional no duelo com o Resende, sábado, e foi um dos mais elogiados pelo técnico Marcelo Cabo, que o apontou como um jovem promissor que pode ganhar espaço no elenco ao longo da temporada. Descoberto em um projeto em Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ele chegou a São Januário ainda menino, driblou algumas adversidades da difícil realidade nas comunidades cariocas, e até ganhou um par de chuteiras de Paulinho, que hoje está no Bayer Leverkusen, da Alemanha.
Já sem chances de classificação à semifinal do Campeonato Carioca, o Cruz-Maltino deu alguns dias de folga a parte do elenco, o que fez com que nomes do sub-20 fossem relacionados para a última rodada da Taça Guanabara. Um deles foi Caio Eduardo, ou Buiu para os íntimos, destaque na base e autor do gol do título na Copa do Brasil Sub-20, em janeiro. Contra o Resende, ele entrou na vaga de Bruno Gomes, aos 30 minutos do segundo tempo.
"Tenho um carinho enorme pelo Caio Eduardo. Típico menino do Rio de Janeiro, criado com as dificuldades nas comunidades, e tendo de sair para jogar desde cedo. Tem uma identidade muito forte com o Vasco. Tem muita personalidade, muita dinâmica de movimentação, qualidade no passe e coragem para invadir os espaços. É um volante que não é fácil de achar hoje em dia no mercado", disse Celso Martins, técnico do volante no sub-17 do Vasco e que, atualmente, é auxiliar técnico no Azuriz, do Paraná.
"O Marcelo Cabo, juntamente ao Fábio Cortez, está fazendo um grande trabalho, tendo coragem de lançar esses meninos e aproveitando todo o trabalho que tem sido feito na base. Muito gratificante ver esses meninos chegando ao profissional e em alto nível", completou.
Caio desembarcou na Colina através de Marco Aurélio, que por muitos anos atuou em diversas categorias da base vascaína e hoje está no sub-20 do Pinheiro, clube da primeira divisão do Maranhão.
"Ele foi descoberto na favela de Acari, que tem um trabalho muito bom encabeçado pelo Damila, que é um amigo meu, e pelo Misael. O levei para o Vasco e o apresentei à comissão da categoria e ele foi aprovado de imediato, seguindo essa trajetória", lembra.
De origem humilde, o volante não tinha condições nem mesmo para ter materiais mais básicos. Marco Aurélio, então, pediu um pequeno auxílio a um outro jovem, que já era apontado como grande promessa do Cruz-Maltino e, inclusive, tinha contrato com a Nike: Paulinho.
O atacante chegou ao elenco profissional em 2017 e, com bola na rede, logo caiu nas graças da torcida. Em 2018, então com 17 anos, se tornou o jogador mais jovem do Vasco a marcar um gol na Libertadores. Em abril do mesmo ano, foi negociado junto ao Bayer Leverkusen, da Alemanha. Na ocasião, os valores não foram relevados, mas o UOL Esporte mostrou que o acordo foi selado por algo em torno de 20 milhões de euros (cerca de R$ 85 milhões, na cotação da época).
"Eu era o treinador do sub-16 e auxiliava o sub-17. O Paulinho, já no sub-17, tinha pego seleção e tinha contrato com a Nike. Aí, falei com ele: 'Paulinho, se for se desfazer de alguma chuteira, coloca lá para mim porque estou precisando para um garoto que está chegando aqui'. E ele me deu a chuteira", conta Marco Aurélio.
Tanto Marco quanto Celso lembram que algumas broncas foram necessárias nesta caminhada do volante, mas salientam que ele amadureceu muito neste período em São Januário.
"Como todo menino da idade dele, demos alguns puxões de orelha, uma 'pegadinha' nele. Já ficou fora de algumas situações de jogo por causa de bobeira mesmo, mas evoluiu muito, adquiriu maturidade. Hoje vemos que é um baita profissional. Fico lisonjeado em vê-lo chegar ao profissional e desempenhar tão bem", afirma Celso
Elogios de Cabo
Mesmo distante no que diz respeito à geografia, Marco Aurélio se mantém próximo a Caio Eduardo e os contatos são constantes. O ex-treinador, inclusive, avisa que, apesar dos elogios, o jovem tem de manter o foco.
"Como costumo falar com o Caio quase todos os dias, [os elogios] servem como combustível, mas tem de manter os pés no chão e pensar sempre no amanhã. O hoje fica para trás. É dar equilíbrio emocional para ele, que sabe as armadilhas que tem no futebol, e ir subindo os degraus, galgando o espaço dele".
Após a vitória sobre o Resende, o treinador vascaíno enalteceu a atuação de alguns jovens, como Arthur, Riquelme, João Pedro e Caio Eduardo.
"Também quero ressaltar a entrada dos jovens do Vasco. O Caio entrou e, em 20 minutos, mostrou porque nós o trouxemos da base, colocamos para jogar em um jogo dificílimo e ele nos deu confiança. Fez uma excelente partida (...)", disse.
"Às vezes os reforços estão dentro do próprio Vasco. A gente já tinha subido o Caio uma vez, depois voltou para a base, deu continuidade. Hoje eu só tinha os dois volantes que iam iniciar o jogo, e trouxe o Caio. Ele já tinha demonstrado nos treinamentos, e hoje o que ele apresentou no jogo... A gente tem buscado essas soluções dentro do Vasco e tem potencializado esses meninos", completou.
Gol de título
Caio Eduardo já foi herói de título no Vasco. Em janeiro, na final da Copa do Brasil Sub-20, contra o Bahia, ele marcou, aos 49 minutos do segundo tempo, o gol do empate em 3 a 3, resultado que assegurou a conquista inédita ao time cruz-maltino. Nesta partida, entrou na reta final, improvisado na lateral esquerda.
"Passaram milhares de coisas dentro da minha cabeça. Joguei camisa pro alto, a emoção foi tanta que depois eu fiquei procurando e não achava, e um companheiro veio trazer para mim. É uma camisa com muita tradição, o Vasco é gigante! Tenho que sempre honrá-la porque ela tem muita história", disse na ocasião, em entrevista ao site da CBF.
Fonte: UOL