Ex-jogadores como o vascaíno Rodrigo fazem renda extra vendendo vídeos personalizados
Quinta-feira, 01/04/2021 - 16:26
Se até jogadores profissionais estão com medo das consequências financeiras da paralisação de competições devido ao descontrole da pandemia de covid-19 no Brasil, imagine ex-jogadores que muitas vezes contam com o cachê de jogos festivos e eventos corporativos para garantir o mês. Na falta desse tipo de renda, uma solução online foi descoberta por alguns: venda de vídeos exclusivos aos fãs.
Alex Silva, Cicinho, Dinei e Oséas são alguns dos boleiros com cadastro num site que funciona assim: a pessoa escolhe sua celebridade preferida, detalha o tema, paga e depois de alguns dias recebe uma mensagem em vídeo exclusiva e personalizada do ídolo. Geralmente são votos de aniversário, mas já rolaram pedidos de namoro, provocações sobre produtividade entre colegas de trabalho, incentivo para aulas online, revelação de sexo de bebê e até cobrança de dívida no maior bom humor.
A primeira vez que se noticiou algo assim foi nos Estados Unidos: uma empresa chamada Cameo, criada em 2017, bombou durante a pandemia e vendeu mais de 1,3 milhão de mensagens. O ex-jogador de futebol americano Brett Favre contou ao jornal Guardian que gravou 80 vídeos no Dia das Mães. O ator Brian Baumgartner, famoso pelo personagem Kevin da série "The Office", fez US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,6 milhões na cotação atual) na plataforma em 2020, segundo a revista Vanity Fair. Ele cobra US$ 195 (R$ 1,1 mil) por vídeo e enviou mais de cinco mil.
No Brasil, plataformas como Manda Salve e OKanal apostam no que se convencionou chamar de "marketplace para engajamento de celebridades". Outro site é o TamoVip, que tem a mesma estratégia e compartilha investidores com o Cameo.
Este começou no meio do ano passado com atores, cantores, youtubers e humoristas e chegou ao futebol em março. A pedido do UOL Esporte, os responsáveis pela plataforma mostraram os números de uma das personalidades do futebol durante uma semana de fevereiro: 11 vídeos gravados no total de pouco mais de quatro minutos (23 segundos cada, em média) que geraram ao famoso R$ 1.050 (R$ 95 cada gravação).
Hoje a internet é o maior meio de visibilidade para qualquer negócio, gera mais renda e patrocínio para os jogadores. Quando eu jogava tudo era muito diferente. As empresas que acreditavam no futebol eram poucas, o retorno era pouco. Quando tinha eram só as empresas muito grandes que iam atrás dos clubes famosos e olhe lá. Agora a internet dá mais oportunidades, estou sempre de olho."Oséas, ex-atacante de Palmeiras e Cruzeiro
Segundo Fábio Filho, que é um dos responsáveis pelo TamoVip, Oséas recebe muitos pedidos de vídeos para relembrar a conquista do Palmeiras na Copa Libertadores de 1999. Esse elemento da nostalgia é muito presente na plataforma, que dá relevância digital e renda extra a personalidades que estão longe dos holofotes.
O medo do "cancelamento"
"Cancelar" é um termo recente usado na internet quando se decide boicotar o perfil e os conteúdos de pessoas famosas por causa de comportamentos que parte do público considera inadequado. O medo do "cancelamento" ainda é uma realidade nesta história de comercializar vídeos online.
"A ideia de cobrar o fã por um vídeo soa estranha. O medo do cancelamento ronda a classe dos famosos já há algum tempo. Nós trabalhamos para criar o hábito de que tornar um presente inesquecível na vida de alguém é incrível e mais forte do que qualquer opinião. O mais gratificante é sabermos que na nossa empresa o fã comprou algo incrível por um valor inferior ao de uma pizza, isso quebra esses julgamentos", conta o empreendedor espanhol Pedro Vizeu, um dos responsáveis pela plataforma no Brasil.
Já acontece quando um fã aborda uma celebridade na rua com o tradicional pedido "grava um vídeo para mim, para o meu pai, para o meu tio, etc" que eles em vez de negarem digam algo assim: "Gravo, sim. Entra lá no meu Instagram e clica no link da minha bio [a descrição que fica no topo do perfil] que eu gravo hoje mesmo." Novos tempos.
A qualidade dos vídeos produzidos pelas celebridades na plataforma também é um tema importante. Angeline Close Scheinbaum, que é professora de marketing esportivo da Universidade Clemson, nos Estados Unidos, disse ao Guardian que é preciso notar um "esforço sincero" do famoso na produção do vídeo — não dá para ser de qualquer jeito.
"Nós orientamos sempre sobre as melhores práticas, mas o pessoal facilita muito a nossa vida. Como são todos conhecidos e com boa bagagem de mídia, a maioria se dá bem super bem com a câmera e a qualidade do vídeo acaba impactando na mensagem pedida pelo fã", diz o executivo Fábio Filho.
Dos cerca de cinco mil vídeos já vendidos no Brasil há alguns em que a celebridade está dirigindo, deitada no sofá e até dentro da piscina.
Hudson é o recordista
"Em tempos de pandemia, isolamento social e cancelamento de shows e atividades com aglomerações, estamos gerando renda extra para comediantes, músicos e demais artistas. Por que não ex-jogadores?", questiona Joe Hirakuri, ex-jogador de beisebol e terceiro sócio do TamoVip.
Mas a plataforma também conta com jogadores na ativa. Um deles, aliás, é o recordista em pedidos: Hudson, volante do Fluminense com passagem marcante pelo São Paulo. O atleta cobra R$ 20 por vídeo gravado, entrega o produto em apenas cinco dias e doa sua arrecadação para entidades beneficentes associadas ao site — é uma possibilidade para todas as personalidades e uma das instituições contempladas é a Fundação Fenômenos, ligada a Ronaldo.
Entre outros nomes do futebol estão Alex Silva, Neto Baiano, Alline Calandrini, Paulo Miranda, Giovanna Crivelari, Nilton, Rosana e Luis Ricardo cobrando R$ 100 por vídeo, e Rodrigo (ex-zagueiro de São Paulo e Vasco), que cobra R$ 150, enquanto um vídeo de Cicinho chega a R$ 200 e de Dinei até a R$ 300. Outros são mais "econômicos", como Léo Moura (R$ 75), Oséas (R$ 50) e Kelly Santana (R$ 50).
De acordo com Hirakuri, outros boleiros serão adicionados em breve, porque futebol é o atual foco do site. Estão planejadas parcerias com empresas que cuidam da imagem dos jogadores e até com clubes. Um dos objetivos é ter páginas exclusivas para cada equipe em que será possível comprar uma mensagem de qualquer jogador.
A ideia é ter algum produtor de conteúdo na área do esporte que consiga bater os recordes da dupla de cães Mada e Bica, que é um absoluto sucesso no TikTok e no primeiro mês comercializando vídeos personalizados embolsou R$ 2.400. Ou melhor, quem embolsou foi Leonardo Bagarolo, dono das cadelinhas das raças pinscher e bulldog e "dublador" das produções.
Elas é que são o time a ser batido.
Fonte: UOL