A Copa do Brasil começa diferente para o Vasco. Ao contrário das últimas edições, desta vez não receberá premiações milionárias nas duas primeiras fases. Pelo jogo desta quinta, contra a Caldense-MG, o clube garantirá R$ 560 mil. Caso avance, abocanha mais R$ 675 mil. A soma não chega à metade do que o Botafogo, também rebaixado à Série B e já classificado para a próxima etapa, assegurou. A razão disso está no ranking da CBF. Pela primeira vez, os cruz-maltinos não estão entre os 15 primeiros.
Desde 2013, este sistema de ranqueamento considera o desempenho dos clubes nas últimas cinco temporadas (antes, contabilizava todo o histórico em competições nacionais). Com isso, passou a fazer um recorte mais temporal. E suas aplicações vão além de ajudar no emparelhamento das chaves da Copa do Brasil.
Uma delas é justamente a definição das premiações. O Vasco está no Grupo 3 (formado por aqueles que não estão nem entre os 15 primeiros do ranking e nem na Série A do Brasileiro). Nas duas primeiras fases, estes clubes têm direito ao menor valor do bônus por participação. Flamengo e Fluminense (que estreiam na terceira fase por jogarem a Libertadores), além do Botafogo, estão no Grupo 1.
O Vasco é o 16º do ranking. Há oito anos, era o terceiro. Aquele foi seu último momento de protagonismo no cenário nacional. Venceu a Copa do Brasil de dois anos antes e fez boas campanhas nos Brasileiros de 2011 (vice-campeão) e de 2012 (quinto colocado). A partir daí, foram temporadas brigando contra o rebaixamento ou na Série B.
Ainda que não seja capaz de representar fielmente a temporada de cada clube (pois não contabiliza competições internacionais), o ranking oferece, ao longo dos anos, um retrato da movimentação de forças no país. A versão de 2013 foi liderada pelo Fluminense, campeão nacional em 2010 e 2012. Os tricolores eram seguidos pelo Corinthians, que venceu a Copa do Brasil de 2009 e o próprio Brasileiro, em 2011. Assim como o Vasco, também sofreram um declínio à medida que se afastaram do protagonismo das competições.
Hoje, Flamengo, Palmeiras e Grêmio formam o pódio. Um topo que não surpreende. Afinal, são os clubes que passaram a quase que monopolizar a briga por títulos nos últimos anos.
Tanto os movimentos de ascensão quanto os de declínio passam pelo mesmo fator: saúde financeira. O Fluminense ainda busca um caminho desde a saída da Unimed, que bancava elenco repleto de estrelas. O Corinthians se vê às voltas com inúmeras cobranças judiciais — principalmente as ligadas à Arena. Já o Vasco se afundou numa espiral de dívidas e de brigas políticas da qual não consegue escapar.
Cada um a seu modo, Flamengo e Palmeiras se tornaram as principais forças econômicas do país. Os rubro-negros, pelo trabalho de reorganização iniciado na gestão Bandeira de Mello. Os alviverdes, a partir da presidência de Paulo Nobre e da ascensão de Leila Pereira, da Crefisa, na política do clube. Embora não tenha o mesmo capital que os dois, o Grêmio colhe os frutos da política de austeridade posta em prática ainda na metade da década passada.
— O futebol como um todo vive uma era de reordenamento de forças. Isso tem a ver com vários aspectos. Fundamentalmente, a globalização, que concentrou riquezas num grupo de clubes e alija outros. O Brasil não ia ficar alheio — analisa Carlos Eduardo Mansur, colunista do GLOBO e comentarista do Sportv, que vê as crises de Corinthians, Fluminense, Vasco e também Cruzeiro ligadas à demora em mudar de postura ante a nova realidade do mercado:
— Alguns demoraram a se atentar para este processo, a se organizar enquanto gestão e buscar dinheiro novo. E há aqueles que, como ostentavam a marca de clubes grandes, se viram obrigados a continuar agindo como se estivessem no topo. Fabricaram dívidas astronômicas e, agora, as contas estão chegando.
Base se beneficia
O ranking ainda possui uma aplicação pouco lembrada. É através dele que são definidos os participantes do Brasileiro sub-20 e sub-17. Entrar no grupo dos 20 primeiros representa colocar sua base para competir entre as principais do país.
— É a melhor oportunidade de avaliar a qualidade de nossa base, tanto dos atletas quanto dos profissionais. Porque agora estamos incluídos no mais alto nível de competição de base do Brasil — diz Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, que este ano subiu cinco posições e passou para 18º. —Isso faz com que nosso trabalho de captação e avaliação seja mais assertivo por estar disputando com outras bases que já têm um nível mais avançado de competitividade.
Fonte: O Globo Online