Confira os motivos dos clubes do RJ terem recusado proposta da Globo pelo Estadual
Sábado, 13/02/2021 - 14:01
Na quarta-feira, foi publicado neste blog o valor da proposta da Record pela TV Aberta do Carioca: R$ 11 milhões. O montante causou surpresa e descrença no twitter: "É por clube", "Absurdo", "Muito pouco". Os grandes clubes, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo e Ferj recusavam uma oferta maior da Globo, R$ 45 milhões, por todos os direitos do campeonato. Apostam em vendas de outras fatias da competição para aumentar ganhos e em um teste para competições como o Brasileiro.
É um passo em direção um novo modelo de comercialização de direitos de transmissão de futebol em contraposição ao tradicional. Desde a década de 80, a Globo, SBT, Record e Band compram direitos de competições, pagam clubes e entidades e comercializam por conta própria o produto. Agora, os clubes fatiam direitos e tomam para si parte da venda dos seus jogos.
Esse movimento já tinha sido ensaiado pelo Flamengo no meio do ano passado na disputa com a Globo relacionada ao Carioca. Com a MP do Mandante válida, o clube fechou a venda de um jogo pelo Mycujoo em experiência fracassa pela falta de estrutura da plataforma. Além disso, exibiu jogos na FlaTV.
E esse modelo supre o dinheiro que era obtido com a venda simples dos direitos para as televisões? Essa é uma resposta que ainda não existe. O Carioca será um primeiro teste, mas em circunstâncias bem específicas.
Sem o Flamengo presente, o contrato do Carioca valia R$ 100 milhões até 2020 quando a Globo o rescindiu. Uma rápida observação do mercado de direitos de televisão, com a devolução de direitos da Libertadores e renegociações mundiais, deixa claro que esse não era mais seu valor de mercado. Trata-se de uma competição de segundo escalão na temporada que ocupa três meses de calendário com 12 times de menor expressão.
Então, o mercado já faria uma correção de preço do campeonato com a rescisão do contrato. A questão é que a venda do Carioca pelo novo modelo deixa a dúvida de quanto pode ser obtido com outros direitos além da TV Aberta. Será difícil obter o dinheiro do contrato antigo. A pergunta é: é possível obter mais do que os R$ 45 milhões da Globo?
Uma análise de outras competições mostra que o fatiamento pode, sim, aumentar a receita. É o que ocorreu na Copa do Nordeste onde os direitos são divididos em TV Aberta, Fechada e ppv por meio de streaming.
A Libertadores também tem um ppv centralizado no canal Conmebol, criado após o rompimento com a Globo e com a DAZN. Esses canais ficaram com os jogos da Sul-Americana e com parte dos confrontos da Libertadores.
Outro que vem negociando jogos pagos em plataformas diversas é o Athletico-PR no Brasileiro. Em disputa na Justiça, usando a Lei do Mandante, o time tem usado plataformas como o Twicht para distribuir seus direitos em seus canais e de terceiros. Há parcerias com divisões de receitas.
No Carioca, houve essa opção pela descentralização da negociação do ppv: os clubes poderão fazer a comercialização em seus próprios canais. Obviamente, o Flamengo, com a maior torcida, conseguirá vendas mais significativas, seguido pelo Vasco que vai precisar estruturar a sua TV. Mas qual será a renda gerada?
Essa resposta virá de acordo com a valorização que o torcedor vai dar ao Carioca e como funcionará o modelo. Serão transmissões voltadas apenas para o torcedor de um time? Essa é a preferência do público? Os clubes podem aproveitar para dar vantagens aos seus sócios-torcedores durante o período de pandemia de coronavírus sem público?
Parte dessas respostas vai servir para os clubes criarem um modelo para outras negociações de direitos como o Brasileiro. Os contratos com a Globo e a Warner só acabam em 2024. E o Flamengo, por exemplo, faz do Carioca uma espécie de laboratório para a estratégia futura na negociação do Brasileiro. Há tempo para os clubes da Série do Brasileiro iniciarem essa discussão de como pretendem comercializar seu produto. Neste sentido, o que ocorrer no Carioca pode influenciar o futuro dos direitos de TV no país.
Fonte: Coluna Rodrigo Mattos - UOL