Não são poucos os desafios que Jorge Salgado terá ao assumir o Vasco em janeiro de 2021, caso o cenário judicial em relação às eleições não mude. O empresário de 73 anos, um dos principais personagens da política cruz-maltina nas últimas décadas, chegará a São Januário numa crise que abarca as finanças, o futebol e, talvez a mais importante, a conexão com a torcida.
Grande benemérito do clube, Jorge Salgado é um empresário de sucesso no ramo financeiro. Foi sócio-fundador da Ativa, uma das maiores corretoras de investimentos do Rio de Janeiro. No futebol, duas experiências em cargos significativos: vice de finanças do próprio Vasco entre 1987 e 1989; e, posteriormente, assumiu como diretor de futebol da CBF, até 1992.
Crise financeira
Considerado por muitos dos que frequentam os bastidores de São Januário, dos mais variados espectros políticos, como o candidato ideal para liderar chapas de oposição, Salgado chega ao Vasco — após concorrer e perder para Antônio Soares Calçada em 1997 — justamente com um projeto que o alinha com a situação: Adriano Mendes, vice de controladoria de Alexandre Campello, será uma das peças mais importantes da sua gestão, focada, de início, em aliviar a situação dos cofres do clube, que acabam refletindo diretamente no futebol.
— Fazer uma captação de recursos a médio, longo prazo, com taxa de juros bastante compatível com esse cenário de juros atual, que é baixo, e trocar por uma dívida cara. Vamos sair de uma dívida cara para uma barata, uma de curto prazo para outra de longo — explicou ao GLOBO durante a campanha.
Conexão com a torcida
Sua chegada promete acalmar os ânimos da torcida em relação à diretoria. Ainda que o relacionamento entre Alexandre Campello e os vascaínos tenha melhorado nos últimos meses, o mandato foi marcado por faíscas no entendimento. Todavia, o atual mandatário conseguiu empreender projetos importantes com o apoio dos torcedores, como a massiva campanha de associação do fim de 2019 e a construção do centro de treinamento do clube, por meio de financiamento coletivo.
A nova administração terá que manter o fôlego em ambas as iniciativas. O CT segue com etapas do projeto original pendentes, e o número de sócios do clube, que já foi de mais de 120 mil, hoje é de pouco mais de 87 mil, segundo o contador disponibilizado no site do programa.
Política
Com a validação da eleição do dia 14, o corpo de 150 membros eleitos para o Conselho Deliberativo do clube será formado por integrantes das chapas Mais Vasco e Sempre Vasco, que sempre tiveram convivência pacífica. Serão 120 da chapa vencedora e 30 da segunda colocada, que se juntam a outros 150 conselheiros natos, entre beneméritos e grandes beneméritos.
Se por um lado a coesão entre os grupos tranquiliza as discussões nos bastidores do clube, também unifica uma possível oposição em bloco. O jogo político promete se transformar drasticamente com a nova administração.
Gestão do futebol
Talvez o ponto mais sensível para qualquer candidato que assumisse o clube, os resultados em campo mexem negativamente com os torcedores nas últimas duas décadas. Com três rebaixamentos na conta e uma extrema dificuldade em montar elencos competitivos, equilibrar a austeridade financeira eos desejos da torcida será um dos dilemas com os quais o Vasco de Salgado precisará lidar.
A situação pode piorar antes mesmo da chegada do novo mandatário. O Cruz-Maltino luta contra um novo rebaixamento à Série B. Uma nova queda geraria não só instabilidade esportiva, como também seria um duro golpe nas finanças em São Januário.
Salgado promete eficiência na gestão do departamento, visando a um melhor aproveitamento de recursos.
Patrimônio
Salgado herda o clube com um crescimento significativo no patrimônio. O novo centro de treinamento dos profissionais soma-se ao espaço destinado à base, em Duque de Caxias, que vem sendo reformado, em reforço à estrutura do clube. A nova diretoria terá de cuidar de posses como o Calabouço e a sede náutica da Lagoa, espaços importantes para sócios e atletas.
Mas o principal desafio nesse sentido será São Januário. No aniversário do clube, Campello apresentou carta de intenções, em cojunto com a construtora WTorre, para a reforma do estádio, hoje com capacidade média autorizada em torno de 20 mil torcedores. Em entrevista ao GLOBO na época da candidatura, Salgado explicou que um grupo de trabalho analisaria os termos do acordo com a WTorre, mas se mostrou favorável:
— Chegou a hora de fazer uma reforma de São Januário. Não sei se exatamente igual ao projeto que o Vasco tem, mas alguma coisa vai ser feita. Em relação ao centro de treinamento, pretendemos também dar sequência e concluir as obras. Temos mais ou menos quatro ou cinco campos para concluir. É um investimento ao redor de R$ 30 milhões.
Fonte: O Globo Online