Vasco: Jorge Salgado se diz decepcionado com desistências de outros candidatos e faz crítica a Leven Siano: 'Muito esquisito não querer comparecer'
Em entrevista ao ESPN.com.br, candidato à presidência do Vasco ainda fez apelo ao rival na eleição
Salgado não nega possibilidade de usar recurso próprio para ajudar o Vasco e cita caso de Paulo Nobre: 'Ele acreditou na recuperação do Palmeiras'
Fonte: ESPN.com.br
Vasco, especial eleições - Salgado faz apelo a Leven e vê clube com maior faturamento em três anos: 'Eu acredito na recuperação'
Depois das discussões judiciais e da eleição suspensa no último dia 7, o Vasco elegerá um novo presidente no próximo sábado (14), com um modelo de votação híbrido, com o sócio podendo participar de forma presencial ou virtual.
O ESPN.com.br dá sequência às entrevistas com os candidatos. Nesta sexta-feira (13), Jorge Salgado, da chapa Mais Vasco, é o entrevistado. Além dele, também foram entrevistados Julio Brant, da chapa Sempre Vasco, que segue na eleição, Alexandre Campello e Sérgio Frias, que desistiram do pleito.
Veja abaixo a entrevista completa com Jorge Salgado:
- Qual seria a primeira ação, caso eleito?
"A gente tem que atuar duas frentes. Temos que procurar uma solução para o Caixa do clube. Até que, hoje, o clube é um dos poucos da Série A que está equilibrado. Hoje, temos uma dívida de 210 milhões para uma despesa equivalente. A gente acaba tendo um pequeno prejuízo no balanço por conta da despesa financeira. O que temos que fazer? O clube está equilibrado, o que massacra a gente são as dívidas de curto prazo, que massacram o clube. Por isso se vê no noticiário que o Vasco está atrasando salários. Às vezes, até fornecedor. Não é que o clube esteja desalinhado no ponto de vista receita e despesa. Mas, às vezes, sofre ações judiciais e não tem caixa para pagar sua despesa e a ação. Então, temos que corrigir isso, é a primeira coisa que temos que fazer. Eu trabalho com a minha empresa e a gente lançou um projeto de uma debênture, para fazer essa captação, que vai render ao investidor juros de, mais ou menos, 7%, então, vai ser uma debêntures competitiva, nós vamos oferecer garantias. É um título de cinco anos, um ano e meio de carência e, a partir daí, a gente começa a pagar mensalmente esse título, até o final de cinco anos. Já fiz a apresentação desse fundo para mais de 50 investidores vascaínos, ficaram muito surpresos, não estavam sabendo que o clube estava tão avançado no ponto de vista de planejamento de despesas, de dívidas. Então, isso é um trabalho que a gente realizou e temos que executar isso assim que entrar no clube, para trabalhar as dívidas de curto prazo. No decorrer da gestão, a gente pretende fazer uma nova captação, para atacar nossa dívida. Pagar a dívida cara e atacar a mais barata com mais longo prazo, melhorando o perfil dessa dívida. Ao final dos três anos, está planejado reduzir essa dívida de uns 650 para 400 milhões, e aumentar nossa receita em torno de 200 para 350, 400 milhões. Se você considerar os oito primeiros colocados, todos tem uma arrecadação de 350 a 400 milhões. Muitos atingem essa arrecadação com venda de jogador. Nós, ano passado, ficamos equilibrados sem vender nenhum jogador. A maioria dos clubes tiveram prejuízo operacional, só não tiveram pela venda de jogadores. Mas essa venda de jogadores é algo extraordinário, não é recorrente. Não se pode contar com a venda de um jogador para se planejar financeiramente. Mas o Vasco é uma empresa, se for analisada assim, estamos prontos para decolar. Porque qualquer venda de jogador vira tudo lucro. Então, é uma situação mapeada, tem solução, mas é preciso de competência, pessoas que conheçam futebol para realizar esse planejamento".
- Como vê as desistências de outros candidatos?
"Eu fico muito decepcionado. Eu acho que você tem razões para desistir se você percebe que não tem nenhuma chance de ganhar a eleição. Não digo nem ganhar. Mas, se você está muito atrás, se tem certeza de que não consegue nada, você tem uma justificativa para sair. Agora, se você tem chance de ganhar, você tem que comparecer. É um desrespeito com o sócio, com o vascaíno, com as pessoas que ficaram na fila em São Januário. Porque é muito simples. Decisão judicial se acata, não se desobedece. O que aconteceu foi um verdadeiro escândalo. No final da semana passada, eu fui para minha fazenda em Minas. Tranquilamente, estou passando meu final de semana, quando a chapa me telefona dizendo que tinha eleição marcada para o dia seguinte. Conseguimos ir para São Januário, com menos de 13 horas. Nossa chapa não tinha cédula, abrimos uma gráfica de madrugada, conseguimos imprimir, comparecemos à eleição, de acordo com uma decisão judicial. Ela transcorria normalmente, na boca de urna, aparecia que eu iria ganhar a eleição, se não fosse interrompida, porque eu estava descontando no final (a diferença). Aí, vem, mais ou menos umas 20h, outra decisão, suspendendo a eleição. Nesse momento, os candidatos decidiram que as urnas deveriam ficar lacradas com as assinaturas de cada candidato e a votação interrompida. Qual foi a surpresa disso tudo? O presidente da junta mais o candidato (Leven Siano) não obedeceram à ordem judicial. As outras chapas, a minha, a do presidente (Campello) e do outro candidato (Brant) se retiraram e ficaram duas chapas no recinto. Eles continuaram a eleição, que estava suspensa por decisão judicial. Quando foi 2h, resolvem abrir as urnas que estavam lacradas, sem nenhuma fiscalização das chapas que se retiraram. É muito difícil aceitar um resultado dessa maneira. E o estádio já estava com as luzes apagadas. Eles ficaram, resolveram contar esses votos. Como isso pode ser válido? Eu não posso aceitar esse tipo de resultado. As eleições estavam marcadas para esse sábado (14). Houve o movimento de liminar, que alterou para o sábado passado. Eu sempre me coloquei à disposição para obedecer às ordens judiciais. Agora, a eleição voltou para o dia 14. Eu vou comparecer. Já fiz um apelo ao candidato que se diz vencedor das eleições (Leven Siano) comparecer, também, a essa eleição. Para ratificar sua vitória. Se ele tivesse um sentimento de vascainismo, tivesse a certeza da vitória, deveria comparecer às urnas sábado. É muito esquisito ele não querer comparecer, no mínimo. Então, esse imbróglio todo poderia ter sido evitado lá atrás. Mas os poderes do clube não se entendem, há conflito de interesses. Eu não sei como isso não se resolveu de uma forma pacífica. Faltou bom senso, grandeza nessas decisões todas. É muito triste para a imagem no nosso clube, para o vascaíno. O clima é de guerra, eu tenho sofrido ataques no meu celular, mais de 350 mensagens que eu recebi da chapa adversária me insultando, me ameaçando, dizendo que sabia onde eu moro. Uma baixaria absurda. Eleição deveria ser um momento de festa, onde todos são vascaínos e se encontram para decidir quem será o presidente. Deveria ser um momento de confraternização entre os candidatos, os sócios. Hoje, a gente não tem esse ambiente, um nível muito baixo. As pessoas querem ganhar de qualquer maneira. Eu não tenho o menor problema em perder uma eleição, desde que seja limpa, auditada, feita dentro da conformidade. Eu já perdi uma eleição em 1997, houve fraude de tudo que é jeito. E, novamente, o clube está nesse imbróglio. Quer dizer, o clube não evoluiu nesse campo. É muito triste isso, um péssimo exemplo para a sociedade, para a torcida do Vasco".
- Quais os planos para o Centro de Treinamento e obras em São Januário?
"Não é porque os projetos começaram em outra gestão que nós vamos abandonar. Achamos que são projetos que possuem bastante êxito, foram bem planejados. O CT já foi inaugurado, os profissionais já estão lá, falta concluir. Eu acho que, em três anos, dá para finalizar esse CT de profissionais e da base, não vamos interromper essas obras. Em relação ao estádio, eu conheço o projeto. Estive presente em duas apresentações, achei interessante o projeto, é muito bem elaborado, muito bem concebido, houve um estudo, realizado antes da execução do projeto, em que foram visitadas as arenas que foram construídas recentemente. Eu vou apoiar, também, esse projeto. Obviamente, entrando eu terei que me inteirar novamente, porque faz oito meses ou um ano que eu vi. Então, vou olhar novamente o projeto com pessoas da área, mas nós queremos fazer uma reforma do estádio de São Januário. Está prestes a completar 100 anos, já não atende mais às necessidades do torcedor, administrativas. As pessoas trabalham lá de forma precária. Agora, temos que nos inteirar dessa carta de intenção que o Vasco assinou com a WTorre, em que ela seria uma espécie de gestora do estádio, teria algumas fontes de receitas e o clube outras. Temos que conhecer de que maneira a WTorre vai captar os recursos para construir um estádio, se será por um banco, que depois vai captar esses recursos através de um fundo imobiliário. Enfim, a gente vai ter que entender essa dinâmica toda para aí sim iniciar a construção do estádio. É uma meta que temos, eu ficaria muito feliz se pudesse começar a obra desse estádio".
- Acha que o clube deve atuar na gestão do Maracanã?
"A gente vai tentar entrar. Eu tive uma primeira conversa com a atual gestão, fui muito bem recebido. Não vai ser problema nenhum participar dessa gestão do Maracanã, se assim a gente resolver e decidir. Mas o Vasco tem que voltar a jogar no Maracanã. Para se ter uma ideia, o Vasco foi o primeiro campeão carioca do Maracanã, em 1950, por isso que a gente fica do lado direito, foi uma escolha do Vasco, na ocasião. Mas isso é uma questão menor. A maior é que devemos, sim, voltar a jogar no Maracanã. Nosso torcedor gosta, é um estádio moderno, confortável, que se consegue entrar e sair, tem transporte público, tem estacionamento, todas as facilidades".
- Qual seria a sua política com relação a reforços no time profissional e quais as metas para o esporte nesse período?
"Essa gestão teve muitos pontos positivos. Agora, o futebol não evoluiu. Achei uma gestão falha, bastante ineficiente. A gente gastou mal, tem um elenco muito inchado, com cerca de 50 jogadores. E a gente tem improvisado muito na gestão do futebol. Temos uma média de três treinadores por ano. Esses querem sempre contratar jogadores e esse estoque fica lá, porque o outro que entra também quer contratar. O clube só quer contratar, não quer vender. Eu não posso ter 11 jogadores no campo, mais 11 no banco, mais os goleiros, mais 10 que não jogam e mais 20 que recebem e nem são relacionados. A gente está jogando dinheiro fora. A gente tem que ter uma gestão muito mais eficiente do que temos hoje. A gente tem que ter menos jogador, com maior performance. Se possível, também ter um treinador que começasse seu trabalho em janeiro e terminasse em dezembro ou seguisse para o próximo ano. A gente, aqui, tem uma cultura de, a cada momento de fragilidade, trocar o treinador. Isso é uma cultura nossa, que é muito presente, até hoje. Não é minha cultura, eu gostaria de bancar o treinador em momento difícil. Porque tem o seguinte, o melhor emprego que tem é ser treinador de futebol. Porque, no Vasco, treinador de futebol trabalha três meses e recebe 12. É uma beleza isso, mas quem fica com esse ônus. A gente mapeou uma ineficiência de mais ou menos 2 milhões de reais. Em doze meses, dá 24 milhões. Em três anos, 72 milhões".
- Como é seu planejamento para gestão de outros esportes e futebol feminino?
"Todos esses esportes demandam custo. A prioridade, dada a escassez de recursos, é priorizar o futebol e dar um pouco ao remo, que é nosso esporte estatutário. Os outros esportes vão se viabilizar na medida que a gente resgatar nossa certidão CNB, que é uma questão de Imposto de Renda, que com ela consegue-se captar recursos via incentivo fiscal. É assim que esses clubes atuam. Tem essa certidão, fazem um projeto e vão nas empresas para tentar captar recursos para esses esportes. É isso que queremos".
- Como planeja fazer a gestão salarial do clube?
"Isso vai passar por uma captação de recursos. Precisamos captar recursos para colocar nossa casa em ordem. Precisamos de tempo na captação desses recursos, para pagar. Voltamos no problema do endividamento. Sem uma injeção de dinheiro novo é muito difícil. A gente tem feito apresentações a investidores e planejamos ter uma injeção inicial para os primeiros seis meses. Agora, a meta é pagar salário em dia. Eu tenho a minha empresa, no dia 25 do mês, eu pago salário dos meus funcionários há 37 anos, nunca atrasei um dia. Por que não fazer isso no clube? Se a gente for responsável, tiver planejamento, não entrar em maracacutaia, roubalheira, sacanagem, a gente consegue. O que a gente não pode é dar espaço para algumas situações que acontecem toda hora. A gente escuta cada coisa que acontece em gestões agora, no passado. A nossa candidatura está sendo colocada para acabar com isso, para ter uma gestão de maneira responsável, dentro da lei. Ter uma área de compliance para ver se estamos cumprindo nossas obrigações de acordo com o regulamento. Eu sei o quanto isso ajuda em uma gestão".
- Como foram os empréstimos realizados para o clube recentemente? Colocaria patrimônio próprio no clube?
"Eu emprestei recurso ao Vasco várias vezes ao longo da minha trajetória vascaína. Mas, o último empréstimo que eu fiz foi em 2013, e eu não recebi até hoje. No mês de março, o presidente me chamou e fez um apelo que eu emprestasse mais recursos ao clube, porque estávamos em uma situação aflitiva, com três ou quatro meses de salários atrasados, com jogadores que à qualquer momento poderiam sair do clube, com passe livre. Me sensibilizei e combinei com ele o seguinte: ‘Não faz sentido eu colocar mais dinheiro, antes de eu receber o que eu tenho. Vamos chegar a um acordo e tentar criar uma solução'. Eu peguei o dinheiro que eu emprestei em 2013 e corrigi de acordo com o que estava escrito no contrato. Deu uma quantia elevada, eu dei um desconto e acresci o novo empréstimo. Qual é a cláusula desse empréstimo? ‘Você vai receber isso se eu vender algum jogador ou quando a gente receber a premiação do Campeonato Brasileiro, no final do ano'. Eu aceitei, os advogados assinaram e está lá o contrato. Mas criam narrativas mentirosas sobre isso. Eu que sou vítima entro como vilão. Eu estou prestando um serviço ao Vasco em um momento de dificuldade e tentam manchar minha pessoa sobre isso" "Em uma situação emergencial, se eu puder, tiver condições, vou ajudar. O que fez o Palmeiras com o Paulo Nobre? Por que o clube está nessa situação extraordinária? Porque o Paulo adiantou recursos ao Palmeiras, acreditou na recuperação do Palmeiras, que se recuperou, ele recebeu todo dinheiro e não teve prejuízo algum. Eu acredito na recuperação do Vasco. Se precisar, em um momento de sufoco, eu vou emprestar o dinheiro, se eu tiver".
Fonte: ESPN.com.br