Julio Brant: 'Não tem como pensar em desenvolver qualquer trabalho com salário atrasado'; ouça
Jornalista de formação e com pós-graduação em Administração, o empresário Julio Brant tenta pela terceira vez derrotar o que enxerga como um "sistema que privilegia interesses privados há mais de 20 anos" no Vasco. Ele coloca como pilares de seu programa a formação de um futebol competitivo sob a batuta do ídolo Felipe, salários em dia como obrigação inegociável e exploração mais inteligente da marca do clube.
- Primeira coisa é salário em dia, é obrigação. Não haverá atraso de salário na nossa gestão, isso é uma promessa. Atraso de salário é a antítese de gestão. Não tem como pensar em desenvolver qualquer trabalho com salário atrasado. Qualquer um. Do trabalho mais simples ao mais complexo de futebol - afirmou Julio, 43 anos, mais jovem dentre os cinco candidatos no pleito de 7 de novembro.
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Brant é o terceiro entrevistado na série do ge com os candidatos à presidência do Vasco. De sexta a terça, será publicada uma por dia, sempre no início da manhã. As conversas também são gravadas em áudio. É só dar o play acima para ouvir o podcast com o candidato. A série começou com Alexandre Campello, na sexta, e teve sequência com Jorge Salgado no sábado. Leia as entrevistas nos links abaixo.
Leia a entrevista
Nas suas duas primeiras eleições, o senhor concorreu contra um candidato que era o centro das atenções sempre, o Eurico Miranda. Essa eleição está mais pulverizada. Na sua opinião, quais são as semelhanças e diferenças em relação à última eleição?
- As semelhanças são que os grupos políticos continuam os mesmos. A grande diferença é que você tem uma discussão um pouco melhor sobre projetos. Nas últimas duas eleições de que participei, era um grupo falando de projeto, e outro atacando e sendo agressivo.
Fico muito feliz de a Sempre Vasco ter introduzido de forma inovadora a discussão de projeto, o que facilita e melhora para o sócio a condição de ele escolher qual candidato tem o melhor projeto ou o projeto mais possível de ser feito dentre aqueles apresentados pelos candidatos.
Em todas as suas manifestações, você fala que o Campello representa o atual sistema e que este vigora há mais de 20 anos no Vasco. O que é esse sistema? Como ele opera e quais são as características?
- Ele opera com base em interesses privados em detrimento dos interesses do clube. Vou dar um exemplo muito claro: quando quisemos introduzir no Estatuto uma revisão para impedir que conselheiros remunerados, seja como funcionários ou como prestadores de serviço, votassem no conselho, houve uma reação violentíssima contra essa proposta.
Então o poder no clube se estabelece a partir de benefícios privados em detrimento da necessidade do clube. Atacamos esses interesses, interesses que mantêm o clube na situação em que está... O Vasco não está em estado falimentar à toa, tem razão para isso. Interesses privados se sobrepõem aos interesses coletivos do clube.
Como nós atacamos esses interesses e esse sistema vigente, fomos violentamente confrontados. Como nós atacamos? Criando uma gestão que pudesse de fato passar para o sócio cada detalhe das decisões tomadas pelo clube. Que decisões tomadas no clube não fossem tomadas de forma escusa ou escondida, mas de forma transparente. Para que cada contrato que fosse celebrado no clube, salvaguardadas questões confidenciais, pudesse ser efetivamente colocado à disposição.
Que fosse explicado para o clube o andamento das reuniões do Conselho Deliberativo. Para que a reunião do Conselho Deliberativo, pelo menos para os sócios, fosse algo possível de ser assistida ou com presença da imprensa.
Expor de forma qualificada aqueles que de fato têm interesse com a vida do clube. O clube não é de um ou de dois, é da coletividade, é do sócio. O sócio tem o direito de saber o que acontece no clube e como é conduzida uma reunião de Conselho Deliberativo. Esse é o modelo e o confronto que nós fizemos. São duas frentes muito claras. Uma frente na questão da gestão, tornando-a mais profissional, menos personalista nas decisões de quem vai fazer o quê. Quem vai estar em determinado cargo vai estar por questão de competência.
E você precisa dizer para o sócio quem são os responsáveis e por que estão naqueles cargos. Gestão transparente e competente numa frente. E na outra frente a questão política, e a questão política vai no cerne desse benefícios que eu estou falando para vocês agora.
O senhor disse que essa eleição seria um tira-teima entre Campello e o senhor? Já faz um mês dessa entrevista ao ge. Continua com a mesma opinião? Ou acha que a eleição está um pouco mais dividida?
- Aquela entrevista foi num contexto do início de campanha. Neste momento, qual o cenário que se coloca? Você tem três chapas que estão à disposição dos sócios e que são bem diferentes, discordo quando falam que são parecidas. Não têm nada de parecidas e vou explicar por quê.
E não estou falando mal de outras chapas, estou apenas qualificando e as classificando. Não há nenhum juízo de valor, todas elas têm pessoas de valor e que fizeram bem ou que não fizeram tão bem ao Vasco. Mas o fato é: a gente tem uma chapa que abraçou o euriquismo, que dentro dela tem pessoas e membros que durante várias décadas apoiaram o Eurico.
Que chapa é essa?
- A chapa do Leven Siano. A chapa do Jorge Salgado, em sua grande maioria, abraçou egressos da situação. É uma chapa muito de situação, são pessoas que estavam lá há sete, oito meses na gestão do Campello e em cargos-chave. Não é qualquer cargo. É uma chapa que tem forte componente de continuidade. Inclusive com declarações dadas nesse sentido por líderes da chapa. Declarações públicas que falam que na área financeira tem que ser manter o que está sendo feito. É em parte um continuísmo.
E uma outra chapa que propõe uma gestão inovadora, que nunca esteve dentro da gestão do Vasco e que de fato propõe uma ruptura total com o modelo de gestão que é feito no Vasco até hoje. É a nossa. Então são características muito diferentes em cada uma delas. Basta o eleitor ver os apoiadores para entender o que estou dizendo. E não estou dizendo que fulano é melhor que o outro, esse julgamento é do sócio. São diferenças muito claras entre as chapas, o sócio tem que percebê-las e fazer a escolha.
A chapa do Salgado tem pessoas que saíram do Campello, mas também alguns grupos que apoiavam o senhor no último pleito. Temos duas perguntas sobre isso. Por que essas pessoas não o apoiam mais? E o que o senhor diria ao eleitor indeciso entre essas duas chapas?
- As pessoas têm total liberdade de ter as suas pretensões, é normal no processo político. Lógico que, quando você está num grupo em que você não tem sua pretensão política contemplada, é natural que se vá buscar um outro lugar para fazer isso. Faz parte do jogo, não tem problema nenhum.
A diferença básica, e eu coloquei muito claro, é que em uma chapa você tem pessoas que estavam na gestão do Campello e que fizeram práticas que o sócio tem que julgar se são boas ou ruins. É uma chapa de continuidade, liderada por pessoas que já estiveram na gestão do clube no passado e por pessoas que estiveram na atual gestão. A grande diferença é essa.
Não são apoiadores, são pessoas que estiveram na cabeça da gestão do Campello, foram líderes da gestão do Campello e montaram todo o planejamento financeiro do Campello. Não é um apoio ou outro, é uma visão estratégica que está nessa chapa. E nós pensamos totalmente diferente, não concordamos com esse modelo. Para o sócio que está indeciso, ele tem que entender. O que está sendo feito agora é bom ou ruim? Ele tem de escolher a alternativa melhor.
Vamos ao futebol. Em entrevista recente ao ge, você prometeu um time competitivo. Como cumprir? E outra: é possível montar essa equipe tão logo que assumir?
- Há dois momentos aí: o momento da vitória, entre 8 e 9 de novembro. E o momento de assumir o clube. Quando isso vai acontecer depende muito da gestão atual. Ela pode ser mais rápida, mais breve. E pode ser mais longa. Quem define isso é o presidente. Especificamente no futebol, claro que vamos trabalhar um time competitivo. Time competitivo não exatamente é um time caro. Não gosto de citar outros clubes porque seria antiético, mas quem entende de futebol sabe do que estou falando.
Temos pelo menos quatro exemplos de clubes na Série A com equipes muito justas em termos de orçamento e que têm feito um trabalho maravilhoso para a proposta dos seus respectivos elencos. Estão muito à frente do Vasco, estão na primeira metade do Brasileiro, beliscando uma Sul-Americana ou até Libertadores. Então é possível, sim, fazer um time competitivo mesmo em dificuldades financeiras. E time competitivo não tem a ver só com peças de elenco, mas também com lideranças do clube.
Com capacidade de a nossa liderança extrair o melhor dos atletas e da comissão técnica, mas com confiança no trabalho e no projeto. E mostrando que a situação do clube como um todo está sendo equacionada e que o clube está buscando todos os meios para atingir os resultados acertados entre o clube e os atletas. O que é feito hoje é o contrário, isso claro que influencia no campo. Quando você chega no vestiário, diz que vai pagar um salário e não paga, isso tem influência no desempenho da equipe. É evidente que tem.
Não estamos falando só de questão técnica, mas estamos falando também de questões de gestão, que influencia no campo muito mais do que qualquer movimento eleitoral. Muito mais. Temos um plano de negócio muito sólido, com entrada de capital prevista para o início do nosso mandato. O impacto vai ser imediato não só nas finanças, como no clima do clube todo.
O atleta se motiva com uma reestruturação do clube, assim como vocês quando a empresa passa por um momento de reestruturação. Quando a empresa traciona, como costumamos dizer, e as coisas começam a acontecer, todos os funcionários se motivam e empolgam. É natural, são seres humanos.
Estamos falando de duas situações. Primeiro: suprir de imediato deficiências que existam no elenco. Isso é fundamental, não adianta dizer que não tem. Tem que ser suprida de imediato com análise de mercado. Nesse nosso projeto atual, revisamos nossa análise de mercado, que naquela época era coordenada por duas pessoas.
Mudamos o projeto para a análise de mercado se tornar uma gerência, então vai ter um gerente com uma equipe mais robusta. Para exatamente trazer as melhores oportunidades técnicas e comerciais do mercado. Selecionar melhor com base em ferramentas de mercado de estatística para tornar mais assertivas as escolhas. E claro: facilitar e melhorar a questão comercial desses ativos. Comprar melhor e vender melhor. O Vasco hoje faz o contrário, então isso naturalmente causa impacto nas finanças do clube.
Como administrar a questão dos salários atrasados no Vasco? O senhor falou que tem dinheiro pronto para entrar no Vasco em caso de vitória sua. Qual é a origem desse dinheiro?
- Primeira coisa é salário em dia, é obrigação. Não haverá atraso de salário na nossa gestão, isso é uma promessa. Atraso de salário é a antítese de gestão. Não tem como pensar em desenvolver qualquer trabalho com salário atrasado. Qualquer um. Do trabalho mais simples ao mais complexo de futebol.
Salário atrasado é inaceitável. Não vou falar nomes de atletas, mas temos alguns exemplos de atletas que se destacam hoje no Campeonato Brasileiro que foram para os seus clubes praticamente de graça, alguns sem custo nenhum. Quando falo em análise de mercado, é isso. Não é contratar qualquer porcaria. E nem pegar 300 milhões de euros e contratar o Messi.
Se você tem 400 milhões de euros, você não analisa o mercado. Vai lá, contrata o Messi e está resolvido. A mesma coisa vale para o outro ponto. Para trazer qualquer porcaria, também não é análise de mercado, não é gestão.
A fina flor da análise de mercado está exatamente em fazer o que já está fazendo pelo nosso concorrente (Flamengo). Identificar no mercado as potencialidades e trazê-las na melhor modalidade comercial possível. Clubes que hoje estão no topo da tabela, e não estou falando de clube que luta no sexto ou sétimo lugar, estão fazendo isso. E jogadores que estão nesse clube vieram dessa forma.
Não estou criando uma fórmula mágica, é a realidade do mercado. Dou aqui N exemplos de clubes europeus que fazem isso em outra dimensão. Compram muito barato e vendem muito caro. O Porto tem esse histórico, por exemplo, porque faz a análise de mercado correta. Ele ajusta sua régua ao seu orçamento. E, com o orçamento definido, você vai ao mercado buscar essas carências.
Na hora de ir ao mercado, você precisa de duas clarezas: qual é sua carência e quais são os atletas que vão suprir? Esse é o ponto número 1. Parece básico, mas não é. O Vasco não faz isso. Contrata sem nenhum critério, o cara chega sem ser bom, sem resolver o problema de carência do elenco e custando caro. Claro que temos o exemplo negativo e positivo.
Quando a gente fala nesse trabalho, não falo em despejar milhões de dólares no Vasco. Não estou falando isso porque é irreal. Estou falando de trabalho sério e gestão séria que foi feita por todos os clubes que estão lá em cima.
Não estou inventando a roda. Negócio de pirotecnia não é com a gente. Temos uma clareza muito grande do que tem que ser feito: trabalho sério, gestão competente e austera na questão das finanças. Austeridade não é não gastar, é gastar com assertividade e de forma correta o recurso.
Fale da gestão de futebol, por favor. Qual será a estrutura, com vices e diretores? E quais serão as funções do Felipe e do Edmundo?
- Edmundo nesse momento tem contrato com a Disney. A princípio, vai cumprir até o fim. Felipe de fato estará conosco no projeto, mas não somente por ser um ídolo, por ter sido o craque que foi e por ser o ter sido o jogador que mais títulos venceu com a camisa do Vasco, o que já seria uma grande credencial. Mas por ser um profissional que fez todas as certificações necessárias para estar nessa posição. Se preparou academicamente para isso e tem experiência profissional para isso. Felipe recebeu algumas propostas do exterior, eu o segurei. Disse: "Não vai, fica porque a gente tem um projeto grande". Ele ia agora no meio do ano.
Quero o Felipe como diretor técnico de desenvolvimento de futebol. É o responsável pela garantia de implantação da filosofia de jogo do Vasco. É a partir dela que se define todo e qualquer trabalho de comissão técnica e que se define qual trabalho será feito nas categorias mais inferiores da base, dos 5 aos 8 anos de idade e assim por diante. É a partir dessa filosofia que você define todo o trabalho feito no clube.
É inadmissível um clube contratar um técnico com características ofensivas, dois meses depois demiti-lo e contratar outro com características defensivas. Que filosofia é essa de trabalho? Que mensagem o clube está dando para o futebol de organização e planejamento? Nenhuma! Absolutamente perdido, só quer resolver o problema político. "Contrata alguém, pelo amor de Deus". Não queremos isso!
E o restante da estrutura do futebol?
- Os nomes todos não temos agora, não posso dizer. Tenho alguns nomes, definidos, mas o que vamos fazer principalmente é avaliar os que lá estão. Precisamos ter certeza de que os profissionais que lá estão realizam um bom trabalho e podem aprimorá-lo. E seguir adiante. Eles conhecem o Vasco. Você não pode chegar, mandar todo mundo embora e começar um trabalho do zero sem histórico nenhum, isso não é gestão.
Gestão séria é você avaliar quem lá está, propor alterações de filosofia de modelos e medir essas pessoas dentro desse contexto. E claro: permitir que se aprimorem e dar condições de crescimento a esses profissionais. A gente conta, sim, com profissionais que estão lá no clube atualmente.
Agora, eu estou falando de algo maior. Falo de filosofia, porque ela veste todo o trabalho. E essa é a função específica do Felipe. O Felipe vai ter ao lado dele um diretor executivo que vai cuidar dos aspectos executivos do futebol: orçamento, jurídico e questões burocráticas do futebol. São duas pastas que são análogas, andam juntas, mas uma tem peso filosófico e a outra tem peso executivo, burocrático, do dia a dia, de entrega, controle, metas, jurídico, marketing. É outra história.
A análise de mercado trabalha para os dois, mas tem custo e orçamento. Tem que ser integrado esse trabalho. É claro que quem vier tem que bater bola com o Felipe. Ele vai ajudar a trazer essa pessoa e já está conversando com profissionais do mercado. Não vamos anunciar porque dois deles estão empregados, inclusive. A partir daí você começa a montar uma equipe. São dois diretores que têm autonomia para montar dentro do que desenvolvemos a sua estrutura e a sua gerência daí para frente.
Sabemos que Edmundo está sob contrato com a Disney, mas ele é um entusiasta do projeto da Sempre Vasco. A entrada dele é uma possibilidade real. Caso aconteça, qual será o espaço dele? E o temperamento do Edmundo lhe preocupa em termos de gestão?
- As pessoas têm na cabeça o Edmundo jogador. Ele tem quase 50 anos, hoje é um profissional maduro, preparado e uma pessoa extremamente carinhosa, afetuosa e de grupo. Briga pelo grupo o tempo todo, é uma liderança e uma pessoa que conhece futebol profundamente. O Edmundo jogador, que tinha um temperamento mais quente, deu lugar hoje a um Edmundo muito mais tranquilo, equilibrado e profissional no ponto de vista técnico.
É uma pessoa que tem hoje dentro do grupo uma liderança significativa. Edmundo não é um apoio nosso, é um dos fundadores da Sempre Vasco, porque teve a visão de formar o grupo lá atrás exatamente com o objetivo de mudar a realidade do Vasco. Não é qualquer jogador que tem essa iniciativa, tem que ser alguém diferenciado e que pensa: "Vamos mudar esse clube, não vamos deixar o Vasco como está. Está indo para o buraco". Daqui a pouco o Vasco se torna um time pequeno.
Essa liderança dele é importante, claro. Mas a definição de vir ou não para o projeto é uma decisão muito pessoal. Qualquer clube gostaria de ter o Edmundo no projeto, essa decisão cabe ao Edmundo.
A preocupação em ofuscar o Julio ou não ofuscar, eu não tenho nenhuma. Todos sabem o espaço de cada um. Eu não sou candidato à toa, eu fui selecionado pelo grupo. Tenho o respeito, a admiração e a confiança do grupo para liderar esse projeto. Isso faz toda a diferença. Todo mundo sabe da capacidade que eu tenho e todo mundo me apoia.
Uma hora o Felipe, que vai estar no futebol, vai ser o protagonista natural. Em outra hora o presidente vai ser o protagonista. O presidente está na última instância olhando tudo, você tem uma agenda enorme. Você tem que delegar e garantir que as pessoas vão trabalhar satisfeitas, com delegação plena e capacidade de tomar decisão. Assim funciona gestão moderna.
O Vasco hoje tem apenas a 11ª maior arrecadação da Série A, com R$ 215 milhões. Por que o time com a quinta maior torcida do país está tão longe do seu potencial em arrecadação? Como adequar os ganhos ao tamanho da torcida?
- Esse é o foco do nosso projeto: gerar mais propriedades para gerar mais receitas para o clube. O Vasco praticamente não trabalha seu potencial comercial. De cada R$ 10 que o Vasco fatura, quase R$ 7 vêm do contrato de televisão. O resto é programa de sócio e patrocínios. Patrocínios que têm valores muito irrisórios para o tamanho do Vasco. Então não tem nenhum trabalho além disso, que é o básico do básico. É o mínimo. Sócio, botar marca na camisa e o contrato da TV.
Você não vende, o mercado compra. É um trabalho do mercado. Nossa proposta é o contrário disso. A gente desde 2019 vem trabalhando no plano de negócios para o triênio 21/23. Veio a pandemia, nós alteramos significativamente o nosso negócio, já olhando o novo mercado e a nova realidade. Fomos ao mercado internacional para buscar um parceiro que se adequasse a esse plano de negócios que estamos montando, muito focado no digital, no streaming, que é o grande mercado do futuro.
Não do futuro distante, mas do futuro atual. A gente já tem dados que mostram que o consumo de conteúdo via streaming é hoje maior do que o da TV convencional em algumas faixas etárias. Será a maior de forma geral em alguns anos. Nos Estados Unidos já é, a pandemia acelerou esse movimento. Esse movimento estava planejado para acontecer em 2025 ou 2027.
Redesenhamos o nosso modelo de negócio, o que é extremamente inovador para o mercado nacional. É a utilização de canais digitais de forma intensa e desenfreada em cada uma das frentes de negócio do Vasco, criando novas propriedades, algo fortemente focado na Vasco TV.
Quando falo em propriedades, são oportunidades de negócios que o Vasco vende. Patrocínios, merchandising, anúncios, programas que são franqueados a outros patrocinadores. Criar novas propriedades é fundamental. Outra coisa que fizemos é algo que tem potencial de faturamento imediato brutal, dado os números de consumo que o Vasco tem hoje na própria Vasco TV, de youtubers vascaínos e da audiência que o Vasco tem em canal esportivos.
Além disso, fizemos uma série de esforços para rever linhas de negócio que hoje são praticamente deficitárias no Vasco. Por exemplo: camisa. O Vasco pagou para ter camisa no ano passado. O que queremos fazer agora? Rever completamente esse negócio. De cada R$ 10 que você tem de camisa, R$ 4 ficam no varejo, R$ 4 ficam no fabricante. Quando muito, R$ 2 vão para o clube.
Queremos criar um market place para eliminar o varejo desse canal e nós fazermos a venda direta ao vascaíno. Não é a produção de camisa própria, mas a venda direta aproveitando os canais logísticos desses grandes market places, como Magalu, B2W, Americanas, Casas Bahia e vários outros. Você se aproveita do canal, paga uma pequena taxa e se aproveita da logística desses grandes market places. Isso é significativo. O Vasco foi recordista de venda de camisa da Kappa. E sem atender a torcida. Imagina quando passar a atender.
Nessas frentes de criação de novas propriedades, envolvendo digital e games, já temos um contrato assinado com a maior empresa dessa área na Europa. Isso de imediato é colocado no clube e precificado. Parte dessas propriedades são antecipadas em contratos feitos com o mercado. E com esses valores colocados no fundo.
Além disso, temos outras iniciativas robustas, como o projeto de remissão, e revisão de modo geral das estruturas de custo do clube.
Quais são seus planos para CT, reforma de São Januário e relacionamento com o Maracanã?
- CT nós apresentamos o projeto em 2017, feito pela Tecnoplano, a maior empresa europeia da área de centro de treinamentos e estádios. Os trouxemos e fizemos um CT. O CT, na nossa visão, tem que integrar base e profissional.
Sobre São Januário, nós também fomos os primeiros a apresentar um projeto, também feito pela Tecnoplano. Projeto 100% orçamentado com a seguinte premissa: tem que ser viável, não queremos vender maquete. Queremos fazer o estádio acontecer. Nosso projeto tem viabilidade econômica.
Ponto número 2: queremos fazer com que São Januário continue sendo um estádio raiz, feito para o vascaíno. Não é uma arena Fifa, gourmet. O vascaíno tem que sentir em casa. Premissa do nosso projeto é continuar com suas características. Um caldeirão, estádio de pressão, onde o torcedor em parte dele assiste em pé. E principalmente: uma área onde o torcedor tenha acesso a ingressos baratos. Não adianta fazer estádio caro e cobrar R$ 200 no ingresso porque aí você elitiza a torcida, como aconteceu em alguns casos. Não queremos isso, São Januário é a nossa casa e tem que ter a nossa cara.
Em relação ao Maracanã, temos uma grande vantagem. Temos a casa própria e uma casa de veraneio, que é o Maracanã. Então fazer esse balanço entre jogar um jogo no Maracanã e jogar um jogo em São Januário é a forma mais inteligente de fazer. Quando você quer mostrar o gigantismo do Vasco e o tamanho da sua torcida num jogo grande, você vai lá e bota 80 mil no Maracanã. Só o Vasco e o nosso rival fazem isso. Em jogo de Série B, botamos 76 mil no Maracanã.
Temos que usar Maracanã e São Januário com inteligência. O Maracanã é o maior palco do futebol mundial. O Vasco, com seu gigantismo, não pode deixar de jogar no Maracanã. E o Maracanã só é viável com a presença do Vasco.
Em 2018, o senhor pediu numa reunião do Conselho para apresentar proposta de parceria com um fundo de investimento. Que fim levou essa proposta? Ela tem a ver com a entrada de capital citada no início da entrevista?
- São duas coisas diferentes. A Sempre Vasco colocou seu projeto à disposição do clube. Perdemos a eleição e colocamos a Tecnoplano à disposição da atual gestão. A Tecnoplano, que fez o CT que está lá hoje, é a empresa que nós trouxemos. E nós trouxemos para o Conselho Deliberativo o gestor do fundo que estávamos trazendo para o Vasco, para colocar à disposição da atual administração, que nem sequer recebeu o gestor.
A situação hoje é diferente. No mercado, você tem algumas formas de captar dinheiro. Você pode captar através de endividamento, pegando empréstimo. Pode fazer isso através de um investimento de capital num negócio que você cria. Ou você pode fazer um modelo em que você cria novos negócios, vende isso ao mercado e antecipa essas receitas, como é feito com a TV. É muito parecido.
Você vai no mercado, desenvolve propriedades robustas, comercializa esses contratos e antecipa essas receitas num fundo. Dada a situação macroeconômica brasileira e mundial, essa é a melhor modalidade. Trazer dinheiro de fora hoje tem um custo cambial altíssimo e um risco muito grande. Você corre o risco de criar um problema financeiro muito pior para o futuro.
Que tipo de propriedades vocês podem trazer além da Vasco TV?
- Não posso falar de todas porque estamos criando algumas, eu quero lançar no dia 3, na nossa convenção. Vou falar da Vasco TV porque ela tem um guarda-chuva, e dentro dela há várias iniciativas em andamento que são coisas legais e que não posso detalhar.
Imagine a Vasco TV e o super app como um grande hub de negócios que envolve grandes redes de comercialização e uma plataforma global de comercialização de patrocínios e espaços publicitários. Esse é o nosso modelo com a Mediapro, que tem uma área de desenvolvimento de games, transmissão de jogos... Ela transmite o Campeonato Espanhol, jogos do Barcelona e do Real Madrid. Faz esse trabalho que estou falando para esses clubes. Os museus do Barcelona e do Real Madrid, por exemplo, são feitos pela Mediapro.
Ela faz uma série de iniciativas para esses clubes. E essas iniciativas são colocadas numa plataforma global de comercialização onde você negocia com grandes marcas a entrada nesses projetos. Você sai de um mercado publicitário e de marketing do Brasil e passa a acessar um mercado global, que é o que estamos fazendo agora.
Um contrato de patrocínio de R$ 30 milhões, que seria robusto, nós estamos falando de um contrato de 4 milhões de euros, que é irrisório do ponto de vista internacional. Nós temos a capacidade de entregar o que pouquíssimos clubes têm capacidade de entregar de massa de consumo e de audiência.
Já apresentamos os números e os históricos do Vasco, já precificamos isso para o mercado e nesse momento estamos fechando algumas iniciativas comerciais, tendo a Vasco TV e a plataforma de aplicativo como central, e isso envolve, inclusive, alguns outros clubes. Isso vai se tornar um grande agregador de conteúdo esportivo no Brasil, diria que um dos maiores do mundo.
Como repercutiu no grupo político o fato de Christiano Campos, uma das lideranças da Sempre Vasco, ter sido alvo de uma operação do MP-RJ que investiga um suposto esquema de rachadinha na Prefeitura do Rio? Se você vencer, Christiano terá alguma participação na gestão do Vasco?
- Primeiro, a gente confia muito na defesa do Christiano e nele. Ele tem uma defesa muito sólida e firme em relação a isso, está muito confiante do grande mal-entendido que isso foi. Ele vai comprovar que não tem nenhuma relação contratual com o poder público. Sobre a nossa gestão, ele não terá nenhuma participação.
Existe alguma relação do presidente da Assembleia Geral, Faués Mussa, com o seu grupo? E como vê a atuação dele no processo eleitoral?
- O Mussa é o presidente da Assembleia Geral, então é claro que tem relação institucional com todas as chapas. Assim como o Roberto Monteiro, presidente do Conselho Deliberativo, tem relação com todas. Eu me lembro muito bem que esse choro acontece de forma frequente. Na época da reforma do Estatuto, eu falava muito com o Roberto Monteiro, e todo mundo dizia que eu estava fechado com o Monteiro, fazendo uma aliança. Tiraram até uma foto minha conversando com o Roberto Monteiro no Conselho Deliberativo.
Falam agora a mesma coisa do Mussa, não tem nada disso. Cada um desses poderes é independente. Eles fazem o que acham. Cabe a nós, de forma madura, ter interlocução com esses poderes. É parte do ordenamento político do clube. Tive com Roberto Monteiro e com o Mussa.
A Assembleia Geral é o conjunto de sócios de clube, e o Mussa os representa. Ele tem que olhar o interesse dos sócios do clube, e é inegável que o Mussa hoje é o cara mais popular do Vasco. Basta você fazer uma pesquisa. Só aqueles grupos que estão interessados em fechar o clube são contra o Mussa. Te desafio a perguntar a qualquer sócio, ele é o cara mais popular do clube. Ele viabilizou a eleição direta, então é claro que o sócio adora o Mussa. Não sou eu, Julio Brant. São os sócios.
A Sempre Vasco apoia a eleição online, presencial ou híbrida?
- Não é em cima do muro, não, estou sendo bem sincero: para nós, o mais importante da eleição é nossa briga desde 2014. O mais importante é que ela não tenha fraude, que tenha lisura no processo eleitoral. Independentemente do modelo. A vantagem da eleição online é que ela permite que vascaínos de todo o mundo possam votar. Não podemos prender o Vasco no século 20. Vários clubes no mundo inteiro fazem eleição online.
Nos Estados Unidos, o eleitor vota para presidente pelo correio. Bota o voto no envelope, passa a língua e bota no correio. O voto à distância é uma realidade no mundo inteiro, altamente utilizada. O que o Mussa está fazendo é muito corajoso. Idade não é inovação. Vejo muito jovem com cabeça retrógrada e muitos idosos com cabeça moderna.
O Mussa é um cara desses, 83 anos pensando online, em inovação e inclusão. Por isso, ele é popular. Então não tem nada de Sempre Vasco, A ou B. Ele está fazendo um trabalho que prejudica um grupinho que faz barulho e que está no Vasco há 40 ou 50 anos. E dá voz e participação ao sócio, que foi esquecido nos últimos 20 anos no Vasco.
Se me perguntar: "Você fala com ele?" Claro. Na reforma do estatuto, eu falava muito com o Roberto Monteiro. Na eleição direta, tenho que falar com o presidente da Assembleia Geral.
Em fevereiro de 2020, a Sempre Vasco reprovou o balanço de 2018, que foi auditado e considerado o melhor da história do clube. Por quê?
- O balanço foi reprovado por inconsistências técnicas, o que foi comprovado, inclusive. Fizemos um relatório e enviamos à Diretoria Administrativa pedindo que fossem feitas alterações e inclusões, como empréstimos, no balanço do clube. Isso não havia sido colocado. Nós queríamos que fossem feitas retificações no balanço para que fosse feita a publicação. Manifestamos isso oficialmente à Diretoria Administrativa, não fomos recebidos. Não se colocaram à disposição para debater.
Um exemplo: questionamos os pagamentos do Profut porque na época estavam dizendo que vinham sendo feitos. E depois ficou comprovado que não foram feitos, por exemplo. Vínhamos questionando várias linhas de custeio e de endividamento que estavam em pacotes sem qualificação e sem explicação. Queríamos explicações, era só isso.
Como representante do sócio, eu tenho a obrigação de reprovar até que ele explique para mim. Aí vou poder explicar para o associado. Nosso voto foi sempre técnico, a prova disso é que nós mantivemos o Campello quando o grupo dele quis tirá-lo da presidência lá atrás. Ele está lá porque nós o mantivemos, não havia evidências para afastá-lo. A mesma coisa valeu para o balanço, e a própria auditoria faz as ressalvas.
Como a Sempre Vasco está financiando a sua campanha?
- Nossa candidatura é do povo para o povo (risos), é muito barata. Não temos financiamento de ninguém. É cada um de nós se cotizando e botando dinheiro. Por isso vocês não vão ver pirotecnia ou show nosso, não temos dinheiro para isso.
Se for derrotado, você pensa numa quarta candidatura ou vai desistir?
- A escolha de candidatura não é minha, é da Sempre Vasco. Está muito prematuro para falar do futuro, mas vou estar sempre à disposição do grupo que criei e do qual sou parte.
A Sempre Vasco é favorável ao voto do sócio-torcedor?
- Sim.
Apoia uma possível reforma do Estatuto na próxima gestão?
- Sim, vamos reformar o Estatuto.
Você faria algo diferente do processo da eleição de 2017?
- Faria tudo diferente (risos), não faria a união que eu fiz (com Alexandre Campello).
Para finalizar, gostaríamos que o senhor definisse os candidatos com uma palavra ou uma frase. O primeiro é Julio Brant.
- Vascaíno e gestor.
Alexandre Campello
- Irrelevante.
Jorge Salgado
- Experiente.
Luiz Roberto Leven Siano
- Aguerrido.
Sérgio Frias
- Esforçado.
Você tem algum recado final para a torcida do Vasco?
- Gostaria de dizer para o sócio e para o torcedor para que olhem com cuidado as diferenças entre as chapas e os grupos. Existem diferenças conceituais muito grandes. É importante que, antes de votar, você defina por uma grande possibilidade de mudança ou por manutenção no clube. Se você quer mudança, se você quer que as coisas sejam diferentes a partir de 2021, vote na Sempre Vasco, vote em Julio Brant.
Fonte: ge