Com policiamento reforçado, Clássico dos Milhões volta a São Januário 3 anos após jogo tumultuado
Quebra-quebra, pancadaria, confronto entre torcedores e a Polícia Militar, jogadores correndo para o vestiário e desviando de objetos e um morto do lado de fora do estádio. Este foi o saldo do último Vasco e Flamengo que ocorreu em São Januário, em 2017, que culminou numa pena pesada ao Cruz-Maltino pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Três anos depois, os rivais voltam a ser enfrentar no local, às 17h de hoje (10) , e, mesmo com a pandemia, trazem alerta à PM.
Os portões fechados mudam a dinâmica do policiamento para o clássico, mas isso não significa que não há mobilização das forças de segurança. Apesar de estar sem público, o Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios (BEPE) aumentou o efetivo e terá mais homens atuando do que o normal em tempos de coronavírus.
O clima de instabilidade política no Vasco, além da rivalidade normal do clássico, fez com que a Polícia Militar tomasse um cuidado extra. Haverá policiais montados no entorno de São Januário e aqueles que foram destacados para a segurança da arbitragem serão acionados em caso de necessidade.
Os pontos de concentração das organizadas de Fla e Vasco também são alvos de monitoramento constante e as unidades das respectivas áreas já estão de sobreaviso para o caso de haver alguma ameaça de conflito nestes pontos da cidade.
"Nós mantemos uma rotina em todos os clássicos, mas houve um reforço para esse. Tem todo esse ambiente político [no Vasco], além de colocação na tabela e o jogo em si", disse o tenente-coronel Leonardo Faulhaber Martins, comandante do BEPE.
Uma morte e três baleados
São Januário foi palco de guerra ao final do clássico, válido pelo Campeonato Brasileiro daquele ano e vencido pelo Flamengo por 1 a 0, com gol de Éverton, hoje no Grêmio.
Torcedores atiraram os mais diversos objetos a campo, em protesto pela derrota. Os jogadores rubro-negros só deixaram o gramado 30 minutos depois do apito final, e ainda assim sob chuva de moedas, calçados, cadeiras e até rojões.
Quando a Polícia Militar tentou intervir, os vascaínos passaram a brigar na arquibancada e depredar o estádio. Torcedores que não estavam envolvidos na confusão ficaram sem ter para onde ir. Houve cenas de guerra, com crianças chorando, mulheres desesperadas e gente caída por causa da briga, dos tiros de bala de borracha e do gás de pimenta usado pelos policiais.
A confusão se estendeu para fora do estádio, e o torcedor David Rocha Lopes, de 27 anos, foi baleado e morto. Pelo menos outras duas pessoas deram entrada no Hospital Souza Aguiar com ferimentos a bala.
O UOL Esporte conversou o vascaíno Rafael Serra, personal trainer, que esteve na arquibancada naquele fatídico jogo e que detalhou os momentos de tensão vividos dentro e fora do estádio:
"Lembro que, depois do apito final, começou uma confusão generalizada em São Januário. A nossa torcida não aceitava perder para o rival dentro de casa e ainda estávamos próximos das eleições do clube. Alguns torcedores começaram a jogar bombas para dentro do campo, e a Polícia Militar jogando gás de pimenta em toda massa vascaína. Clima de guerra total. Perrengue para sair do estádio e desespero do lado de fora. Cavalaria acionada e policiais dando tiros de borracha. Lembro como se fosse hoje a gente correndo e tentando achar um lugar seguro. Esse foi o Vasco x Flamengo mais tenso que já fui."
"Legítima defesa"
A morte de David Rocha Lopes ocorreu após um confronto de policiais e torcedores já do lado de fora de São Januário. Policiais militares que estavam em uma viatura ficaram encurralados e eram alvejados por paus, pedras e garrafas de vidro. Foi então que, segundo as investigações, o policial Renan Pongeluppe Freitas efetuou disparos e um acertou o tórax do vascaíno, que já chegou ao hospital morto.
O inquérito da Divisão de Homicídios concluiu que Renan agiu em legítima defesa e o absolveu, algo que até hoje causa revolta nos familiares de David, que afirmam que ele não estava envolvido na confusão.
Remanescentes
Vasco e Flamengo ainda possuem alguns jogadores remanescentes daquela partida. Pelo lado do Cruz-Maltino, estavam presentes Yago Pikachu, Andrey, Henrique e os lesionados Breno e Ramon. Já no lado rubro-negro, Diego e Everton Ribeiro, que não irá jogar por estar servindo a seleção brasileira.
Crise na Colina
Há seis jogos sem vencer e com duas derrotas acachapantes para Atlético-MG (4 a 1) e Bahia (3 a 0), o Vasco mergulhou numa crise sem fim após a diretoria resolver demitir, na última quinta-feira (8), o técnico Ramon Menezes, seus auxiliares e o coordenador-técnico Antônio Lopes. O Cruz-Maltino será comandado no clássico pelo técnico Alexandre Grasseli, que originalmente é comandante da equipe sub-20 e tem feito um bom trabalho. No mesmo dia da demissão de Ramon, ele classificou seu time para a final da Taça Guanabara da categoria.
Estratégia dos técnicos
Grasseli terá dois importantes retornos para a partida: o meia Martín Benítez e o volante Andrey, que estavam suspensos. Em compensação, não poderá contar com o zagueiro Ricardo Graça e o volante Juninho, lesionados. Por conhecer bem os garotos revelados na base, o treinador poderá apostar e extrair o melhor dos jovens que têm à disposição. Domènec Torrent manterá a estrutura da equipe que bateu o Sport por 3 a 0, mas Pedro Rocha surge como alternativa. Caso opte pela entrada do atacante, o mais provável é que Diego saia do time.
Fla mais forte
Após um período marcado pelo surto da Covid-19 e lesões, Domènec Torrent tem peças à disposição. As baixas ficam por conta dos jogadores chamados para suas seleções, além dos lesionados Diego Alves e Gabigol. Sem Isla, Matheuzinho assume a vaga.
Duelo de artilheiros
O clássico marca um duelo à parte de artilheiros. Pelo lado rubro-negro, Pedro soma seis gols nos últimos cinco jogos e vive grande momento. O Cruz-Maltino tem no argentino Germán Cano a sua principal esperança de gols, mas o artilheiro vive um jejum de seis partidas. No Brasileiro, o jogador do Fla tem seis gols. Cano marcou um a mais.
Fonte: UOL