Clássico deste domingo tem elo japonês: Honda, meia do Botafogo, e Keita Brasil, torcedor do Vasco
Qual a ligação que o Japão poderia ter com um clássico entre equipes do Rio de Janeiro? Botafogo e Vasco se enfrentam hoje, no Nilton Santos, pelo Campeonato Brasileiro, com uma certa influência da Terra do Sol Nascente. Enquanto o time alvinegro tem Honda, meia que chegou como uma das grandes contratações para a temporada, o time de Ramon Menezes conta com a torcida de Keita Brasil, um japonês de coração cruz-maltino.
Uma das estrelas do atual time alvinegro, Honda chegou a General Severiano em fevereiro e, logo de cara, pôde sentir o calor da torcida. No dia da apresentação, diversas bandeiras do Japão e faixinhas no estilo samurai podiam ser vistas na arquibancada.
O acerto também teve a cobertura da mídia japonesa, que buscava apresentar o próximo desafio de uma dos grandes nomes do futebol do país.
E se a relação de Honda com o Botafogo é nova, não se pode dizer o mesmo de Keita Brasil com o Vasco. O jornalista japonês é um apaixonado pelo Brasil desde novo e tal amor teve reflexos no futebol e no samba, fazendo dele um cruz-maltino e um amante da Escola de Samba Império Serrano.
Um dos pilares para aquele menino do outro lado do mundo se interessar pelo Cruz-Maltino, além do nome, foi o então atacante Roberto Dinamite, que se tornou o maior ídolo do clube.
"Estou com uma camisa bem antiga, da Copa do Mundo da Itália, de 1990. Foi a minha primeira camisa do Brasil. Desde criança, amo a paixão brasileira. Era a aparência de torcedores na arquibancada, cheios de alegria, e com o ritmo do Brasil. E o samba, né? Arrepiei e mudei o meu coração. Brasil sempre foi emocionante e sensacional. Futebol, Carnaval e Ayrton Senna... Conheci o Vasco com uns sete anos, por aí, aqui no Japão, com Roberto Dinamite. Para mim, foi um surpresa do tipo "Que nome! Vasco da Gama e Dinamite". Eu não conseguia esquecer. Depois, apareceu Romário, Sorato, entre outros", lembra.
Keita ainda viu alguns ex-vascaínos atuarem no Japão e, em uma oportunidade, surpreendeu Ramon, que hoje é técnico da equipe.
"Alguns vascaínos, depois, jogaram em um time que fica bem perto de onde moro, no Tokyo Verdy. Bismarck, em 1993, depois Donizete, Edmundo. Até o Ramon também. Eles moravam perto da minha casa e podia encontrar com eles na rua, sem compromisso, como vizinho. Uma vez, encontrei o Ramon no salão, em 2003, e ele ficou surpreso: "Você é japonês, ritmista do Império Serrano e vascaíno, sério?" (risos). Lembra, Ramon? Estou Ramonizado aqui com você", brinca ele, entrando na onda do novo meme da torcida.
Para acompanhar às partidas, Keita Brasil tem de superar o fuso-horário entre os países, mas nada que o impeça de assistir aos confrontos e se manter conectado ao time cruz-maltino.
"Temos 12 horas do fuso. Brasil e Japão estão completamente ao contrário no planeta (risoe). É muito difícil assistir aos jogos, tenho de acordar bem cedo, tipo uma 4h, 5h da manhã, mas já estou ramonizado".
Keita fez elogios a Honda e torce para que o camisa 4 alvinegro possa criar um sentimento com o Brasil. Ele ressalta também que alguns fãs do jogador passaram a acompanhar a passagem pelo Alvinegro através das redes sociais, mas lamenta que não haja tanto comentário sobre o Campeonato Brasileiro no país.
"Eu gosto muito do Honda, suas características, sua humanidade. Ele é muito carismático. Eu acho maravilhoso que ele possa conviver com os jogadores do Botafogo. Espero que ele possa amar o Brasil, de verdade, para sempre. Os fãs dele estão acompanhando o Botafogo pelas redes sociais. Isso eu já vi, mas, infelizmente, as mídias aqui no Japão quase não têm apresentação sobre o Campeonato Brasileiro. É triste", apontou.
O torcedor vascaíno lembrou que o encontro de hoje será o primeiro de uma sequência importante entre os dois times. Além da partida pelo Brasileiro, as equipes vão duelar também na Copa do Brasil.
"Espero muito que o Vasco vença. Um terço da Série A está prestes a passar e teremos de lutar com o Botafogo três vezes em duas semanas. São jogos importantes. Temos de ganhar".
Vindas constantes ao Brasil
Músico e jornalista sobre o Brasil, Keita já veio diversas vezes ao país e conheceu algumas cidades de Norte a Sul. Nos anos 90, o samba e o Vasco acabaram ajudando em novas descobertas e na comunicação com os brasileiros.
"Sou músico, repórter e jornalista sobre o Brasil, aqui no Japão. De 1997 até hoje já fui mais de 31 vezes ao Brasil, em vários lugares. Já fiquei na cidade natal de Yago Pikachu [lateral-direito do Vasco], Belém do Pará, trabalhei em Juazeiro e Petrolina, Olinda também, e em vários lugares na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Nos primeiros anos, não tinha internet e celular. Tive um momento muito difícil, estava sozinho, não falava português e não tinha amigo no Rio. Pessoal perguntava: "Japonês no samba?". Mas depois que mostrei meu samba e falei do Vasco, todo mundo já ficava simpático. Isso é brasilidade, é o charme. Característica bem comunicativa, 24 horas por dia na rua (risos)".
Já tocou com grandes nomes do samba e "ganhou" Esquenta!
Keita Brasil conta que estuda os diversos estilos da música brasileira, mas aquele que faz o seu coração bater mais forte é o samba. Ele, inclusive, já esteve em diversas baterias de Escola de Samba.
"Amo a cultura do samba, algo bem comunicativo, de brasilidade mesmo. Claro que eu gosto de todas as formas de música, do mundo todo. E também o Pop brasileiro, forró, MPB, Chorinho, Bossa Nova, Carimbó, entre outros, mas o samba é a essência do Brasil. O samba me deu muitas coisas, inspirações, e felicidades. Aprendendo sobre o samba, no Rio, participei da Mangueira em 1998, com o [enredo] "Chico Buarque da Mangueira". Já toquei na bateria da Vai-Vai, de São Paulo. E são 20 anos com o nosso glorioso Império Serrano. Já participei da bateria da União da Ilha também. Tenho muitos amigos nas Escolas do Rio", recorda.
O japonês vascaíno também já tocou com nomes conhecidos do samba e ganhou um concurso no programa global Esquenta, que era comandado por Regina Casé.
"Já toquei com Arlindo Cruz, Moacyr Luz e o Samba do Trabalhador, Teresa Cristina, que é uma grande vascaína, Pretinho da Serrinha, Monobloco e vários artistas. Apresentei com Anitta no Esquenta, Cantei "Essa mina é louca" em japonês e ganhei".
Participação na VascoTV
Recentemente, Keita Brasil fez uma participação em uma live na VascoTV. Na atração, ele pôde contar um pouco de sua história, a ligação com o Cruz-Maltino e com o samba. Além disso, teve a oportunidade de conversar com o leteral-direito Yago Pikachu.
Fonte: UOL