Nos 10 anos do fechamento da geral do Maracanã, torcedores relembram histórias
Segunda-feira, 07/09/2020 - 04:44
Há 10 anos, em um melancólico zero a zero entre Flamengo e Santos, o juiz apitou pela última vez no antigo Maracanã. Depois de praticamente três anos, o estádio reabriu em 2013 para a Copa das Confederações. Porém, totalmente remodelado, sem um setor mais popular destinados para aqueles que gostavam de ser chamados de "geraldinos".

Os antigos frequentadores da geral do Maracanã, setor colado ao campo, mas em um nível abaixo e que obrigava os torcedores a assistirem em pé as partidas, já tinham perdido seu espaço antes.

Desde o fim dos anos 1990, o Maracanã iniciou uma série de reformas a fim de se modernizar e, em 2005, a geral acabou. Porém, deu lugar a um setor de cadeiras que ainda resistia com preços mais em conta e mantinha viva a tradição dos antigos geraldinos que ali frequentavam. Isso até aquele 5 de setembro de 2010.

- A diferença do Brasileiro de 2009 para o de 2019, quando se trata de valores, é quase incomparável pela realidade do futebol atual. O cara que não for sócio-torcedor do seu clube fica muito difícil de ter acesso ao novo Maracanã. O jogo Flamengo x Ceará de 2019 foi muito delicado, porque o ingresso estava nas alturas (para o público geral os ingressos variavam de R$ 130 o mais barato à R$ 950 o mais caro) e você teria que ter um plano nas alturas também para ter direito a mais ingressos para poder levar a sua família, diferente da grande final de 2009 (Flamengo x Grêmio) - disse Marcelo Nuba, o "Anjinho do Fla", famoso torcedor Rubro-Negro e antigo geraldino.

"Lógico que o Maracanã atual é sensacional, mas ele é muito reduzido, ele é muito diferente e a gente teve que se reinventar para poder torcer nessa nova filosofia do futebol", Anjinho do Fla

- O Maracanã antigo era marcado pelo "encontro dos povos", eram pessoas de todas as classes sociais que frequentavam o mesmo ambiente. Como o Neguinho da Beija-Flor canta na música "Domingo, Eu vou ao Maracanã", muitos faziam questão de ficar na arquibancada para sentir mais emoção. Torcer no meio da multidão era muito melhor do que qualquer camarote - afirma Gilberto Durval, torcedor ícone do Vasco, que acrescenta:

- Certa vez eu estava na arquibancada com um amigo, o jogo era Fluminense e Vasco, aí esse amigo falou ‘olha aí do seu lado, é o Gilberto Gil', aí eu falei ‘e daí? E eu sou o Gilberto Durval'. Todo mundo curtia junto, o pessoal de todas as favelas do Rio compareciam em peso, era maravilhoso.

"O meu maior sonho é ter uma geral de volta, eu tenho fé que um dia a geral vai voltar" - Gilberto Durval

Recentemente alguns projetos sobre a criação de um setor popular foram cogitados, mas nada nunca saiu do papel. Para os torcedores, mesmo depois de tanto tempo, é difícil se adaptar ao Maracanã sem a geral.

- Fiquei muito triste com o fim da geral, lá a gente podia se encontrar, todo mundo junto, aquele calor humano. Hoje, uma tristeza toma conta do meu coração, só queria que voltasse a nossa geral - disse Francisco Corrêa, o Zorro, famoso torcedor do Botafogo.

O Maracanã antigo contava ainda com uma capacidade de público maior. Tanto que os 10 maiores públicos da história do Campeonato Brasileiro foram no antigo Maracanã.

- Eu sempre fui no Maracanã. Eu levava a minha bandeira, o antigo Maracanã era a minha casa, eu sinto muita falta. Uma vez estava jogando Flamengo e Fluminense e estava lotado, quando o Fluminense fez três gols eu enlouqueci, tive que parar na enfermaria, depois que o médico me liberou para voltar, o Fluminense fez mais um gol e eu enlouqueci de novo - relembrou a dona Lurdes, a Vovó tricolor, famosa torcedora do Fluminense

"A casa principal do carioca é o Maracanã, o Maracanã é a minha casa" - Vovó tricolor

Atualmente, por conta da pandemia de Covid-19 o Maracanã está sem a presença de público desde março. Neste sábado, o estádio recebe Flamengo x Fortaleza, às 17h, pelo Campeonato Brasileiro.



Fonte: ge