Cocada relembra gol histórico na final do Estadual 1988 e lamenta perda de vinil com narração
Um herói improvável, de apelido curioso, que entrou aos 41 minutos do segundo tempo, fez o golaço do título aos 44, foi expulso aos 45 e entrou para a história do Vasco. Este é Cocada, que há 32 anos carrega a alcunha de ter sido o último carrasco do Flamengo em finais pelo Cruz-Maltino.
"Não é na minha opinião, é uma realidade. Decisão de um campeonato contra o Flamengo que o Vasco da Gama esteve envolvido, e que nós [Vasco] tivemos vitória, foi a que eu fiz o gol em 88", salienta.
O feito de Luiz Edmundo Lucas Corrêa remete a um período folclórico do futebol brasileiro a ponto de, logo após o bicampeonato carioca de 1988, ele distribuir "seu doce" pelas ruas do Rio de Janeiro.
"Foi uma Confraria lá no Rio de Janeiro que, após o gol, teve a ideia de fazer um monte de cocadas e distribuir nas ruas. Eu fui convidado para participar daquela brincadeira por conta daquele momento", se recorda ao UOL Esporte o ex-jogador, que hoje mora em Campo Grande (MS).
Não bastasse isso, ele ainda motivou, na época, um disco de vinil em que a capa trazia um desenho de uma baiana distribuindo cocadas e que continha a narração do gol pela vez do locutor José Carlos Araújo, o Garotinho.
"Tive esse disco até um tempo, depois fiz muitas mudanças e ele se perdeu. Sempre vejo esse vinil no YouTube. É algo gratificante, maravilhoso, a voz do Garotinho... Ele tem a compreensão do lance maravilhosa, faz uma narração fantástica e que ficou marcada na minha vida", destaca.
Descoberto por ídolo do Flu e com início no Fla
Hoje em dia o ex-jogador não tem dúvidas em afirmar que é o Cocada do Vasco. Antes e depois, porém, ele teve ligações e passagens por rivais do Cruz-Maltino no Rio de Janeiro.
Cocada foi descoberto no Operário (MS) por Castilho, goleiro ídolo do Fluminense entre as décadas de 40 e 60. Foi o ex-arqueiro que o levou para o Flamengo.
"Tudo o que eu conquistei de 17 a 21 anos foi o que ele [Castilho] me orientou. Quando eu participei do Campeonato Brasileiro de 82, tive uma boa participação, aí no outro ano disputaram a minha contratação Bangu, Botafogo, o próprio Fluminense - que era o time do Castilho - e o Flamengo. O Castilho escolheu me levar para o Flamengo. Então, eu tive a felicidade de iniciar a minha carreira sob a batuta e orientação de um cara fantástico como o professor Castilho, que tinha um entendimento de futebol muito grande", recordou.
No Flamengo, Cocada jogou com Zico e cia, e foi campeão brasileiro de 1983, mas não chegou a se firmar. Em sua avaliação, lhe faltou maturidade:
"Olha, eu era muito imaturo naquela oportunidade, tinha saído daqui do Operário e tinha chegado num clube das dimensões do Flamengo. Eu creio que, na oportunidade, não tinha uma estrutura psicológica, não estava preparado para fazer parte de um clube tão grandioso como o Flamengo".
Após o Vasco, o ex-jogador também passou pelo Fluminense, onde começou a ser chamado de Lucas Cocada.
Vascaíno de coração, mas 'pés no chão'
Cocada não esconde de ninguém seu amor pelo Vasco. O ex-jogador, inclusive, está animado com o momento vivido pelo clube no Campeonato Brasileiro, onde é vice-colocado e com um jogo a menos. Ele, porém, prefere manter os pés no chão.
"Acompanho o Vasco sempre, sou vascaíno, estou muito feliz porque esse ano o Vasco completou 122 anos e ganhou um presente do céu, que é estar liderando o campeonato [entrevista foi feita antes da última rodada]. Há de convir, porém, que o Vasco, hoje, é um time limitado financeiramente e no seu elenco, mas conseguiu no início do Brasileiro fazer algo que nem o Fla conseguiu. Então eu estou muito feliz."
Confira mais trechos da entrevista:
Irmão de Müller
"Somos muito amigos, nos falamos sempre. Para mim, o Müller [ex-São Paulo] foi um dos melhores atacantes que eu vi jogar, Inteligente, rápido, habilidoso, tinha um sentido de dupla muito grande, todo jogador que fez dupla com ele, a maioria foi artilheiro. Às vezes, eu conversava com Careca, Raí, Luizão... Os caras falavam que jogar com meu irmão era muito fácil, porque ele não era aquele jogador fominha."
Problemas financeiros de Müller
"Foi uma fase muito difícil, que eu nem gosto muito de falar, porque são momentos pessoais que a gente procura...Se pudesse apagar da biografia... Acho também que a gente não pode julgar, porque não merece um cara daquele porte passar por isso, mas são coisas da vida pessoal e que eu fico muito triste. Eu, na época, conversava bastante com ele, somos muitos amigos até hoje e, se ele precisar de alguma coisa, ele liga aqui em casa, a gente conversa, ele pede conselhos, a gente bate bastante papo... O Müller é um cara do bem."
Motivo para Vasco não vencer mais o Fla em finais
"São vários motivos, vários fatores, várias situações que culminaram com a gente chegar na decisão ali e o Flamengo levar a melhor. Um clássico como esse não tem, nunca teve e nunca terá favorito, mas ultimamente a estrutura do Flamengo tem mostrado que está superior ao Vasco da Gama."
O que representou aquele gol
"Representa um troféu. Eu sempre falo que ali foi um presente que Deus me deu. Ali, foi a cereja do bolo na minha carreira."
Origem do apelido
"Eu nasci e cresci numa comunidade aqui em Campo Grande chamada Lar do Trabalhador, são casas de Cohab, e a gente vivia muito próximo, mais de 20, 30 garotos vivenciando aqueles momentos maravilhosos da infância, e ninguém passou ali sem ter um apelido. E eu, por ser aquele menino que adorava esse doce, a cocada, ai pegou rapidinho (risos). Não teve alguém em específico que me apelidou. Foi a gurizada."
Fonte: UOL