Se centroavante vive de gols, então Germán Cano terá uma longa trajetória no Vasco. Com os dois gols que fez na vitória sobre São Paulo, pela 2ª rodada do Brasileirão, ele chega a impressionantes 11 tentos em 15 jogos. A torcida do Vasco já o chama de melhor atacante do mundo.
Escolhido a dedo para preencher uma carência que vem desde a saída de Maxi López, outro argentino, Cano se destaca pelo seu senso de posicionamento. Dos 11 gols que fez pelo Vasco, um foi de pênalti e apenas dois de cabeça. São nove gols feitos com a bola rolando, momento em que o centroavante realiza movimentos de desmarque e busca de espaço dentro da região mais povoada do campo: a grande área.
Esse espaço é muito pequeno e difícil de ser notado. No gol que fez contra o São Paulo, Cano corre junto com Andrey, que puxa o contra-ataque. Ele gira o pescoço e olha para Talles Magno. Ele sabe que Arboleda está totalmente focado em diminuir seu raio de ação, e que só há um espaço disponível para preencher quando o Vasco chegar na área: as costas de Arboleda.
Só que Arboleda já sacou que o jovem ponta do Vasco está vindo. Então Cano muda o movimento, faz uma diagonal na direção de Andrey e fica no meio do caminho entre quem está com a bola e Talles. Sabe que a defesa vai querer roubar a bola e um espaço no meio de Arboleda pode aparecer. É aí onde ele recebe de Andrey, domina com a esquerda e chuta com a direita.
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Precisão e poucos toques na bola
Cano precisa de poucos toques na bola para marcar gols e isso é fundamental a um centroavante. Direcionar a bola ao gol e dar força suficiente para que o goleiro não consiga ter mais reflexo em apenas um toque torna Cano impossível de ser marcado. Dos 11 gols, oito vieram com apenas um toque na bola (com o pé ou cabela) e três vieram com dois ou mais toques.
A economia está relacionada ao posicionamento. Cano fez outros gols da mesma forma contra o São Paulo: olhou o adversário ser atraído para um lugar dentro da área e esperou a bola num espaço vazio. O gol de estreia é um exemplo claro. Três defensores estão olhando para a bola, esperando o cruzamento para pensar no que fazer. Cano e um companheiro correm em direção ao gol.
O tempo do cruzamento ser feito é o momento dos zagueiros em vermelho se bagunçarem para ir de encontro até a bola. Primeiro fecha o espaço e depois intercepta o cruzamento. Os dois que estão correndo partem da mesma região, então fica mais fácil para o zagueiro saltar no ar e cabecear.
Cano já leu o leque de possibilidades. Já entendeu as possibilidades. Mais do que achar, ele precisa criar o espaço para finalizar. Enquanto a bola está no ar, ele para de correr e dá um pequeno salto para trás, quase fora da pequena área. Como o companheiro não parou de correr, aquele zagueiro que deveria saltar acompanha ele e a direita da grande área fica vazia. Gol.
"Ele é fundamental, ele tem uma característica espetacular de movimentar em espaço curto. Ele coloca a bola para dentro. Dificilmente, ele passa um jogo em branco. A ideia é ter o jogo voltado para ele para que possa exercer o que sabe" - Ramon Menezes
Futebol é um jogo de gestão de espaço, não só de qualidade individual
Nas muitas conversas sobre tática que teve com o autor do blog, ainda em 2013, o saudoso Valdir Espinosa diria que Cano é um especialista em "diagonais". Movimentos para confundir o zagueiro e abrir espaço dentro da área. O futebol não é só feito de qualidade individual, ele também é um jogo de gestão de espaço. Espaço significa tempo. Mais: ter espaço e tempo faz a qualidade individual aparecer mais.
Todo jogador tem qualidade. Daqueles mais criticados aos mais elogiados. A questão toda não é se ele "é bom" ou "não é bom", ou se "está a fim de jogo" ou não, mas sim do contexto que a equipe promove para que ele mostre sua qualidade. Há jogadores que precisam de muito espaço para jogar, há aqueles que resolvem com poucos espaços. O mesmo vale para finalização: se um time finaliza demais e erra bastante, ele criou muitas chances ou criou sem ter tempo e espaço para finalizar com qualidade?
Dos onze gols de Cano, cinco vieram com ele totalmente marcado e seis vieram com ele desmarcado, sozinho e de frente ao gol. Cano não é um centroavante de jogar contra defesas muito fechadas, de costas ao gol, sustentando bolas no alto contra zagueiros. Ele precisa de espaço, e o Vasco promove esse contexto a ele, quando ele mesmo não cria.
Uma contratação e tanto para tornar o ano do Cruz-Maltino mais tranquilo e cheio de "Ramonismo" e muitos gols de Germán Cano.
Fonte: Blog Painel Tático - ge