Saferj é contra a paralisação do Brasileiro, mas consultará os capitães dos grandes clubes do estado
Quinta-feira, 13/08/2020 - 06:42
O Sindicato dos Atletas de Futebol Profissional do Rio de Janeiro (SAFERJ), através do presidente Alfredo Sampaio, fará uma consulta aos capitães de Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo, para sondar como está o ambiente em relação ao alto número de atletas contaminados pela Covid-19 nas primeiras rodadas da Série A do Brasileiro.
A entidade não é a favor da paralisação do torneio, diferente do que defende o Sindicato dos Atletas de São Paulo.
— Para não deixar criar dúvidas, vou fazer contato com os capitães das equipes, ver se eles estão seguros, como estão se sentindo. No Estadual fluiu tudo bem, no Brasileiro é diferente, tem muito trânsito, aeroporto, é outra situação. Vamos ver o que eles pensam. No primeiro momento está tranquilo, ninguém se posicionou, nem os clubes — explicou Alfredo Sampaio.
Segundo o presidente do SAFERJ, a própria CBF tomará medidas mais drásticas caso perceba que haverá uma contaminação descontrolada, e é necessário tempo para ajustar o protocolo depois da primeira rodada.
— A CBF tem que ajustar o protocolo. Tem que dar tempo para se reorganizar para dar segurança a todo mundo. Se não resolver, alguma coisa vai ser feita, a própria CBF se tiver com essa sequência de contaminação vai paralisar o campeonato. Tem que dar tempo para se buscar novos métodos e aguardar. Não há movimento pela paralisação.
O mesmo tom foi adotado pela Federação Nacional de Atletas Profissionais de Futebol, através do presidente Felipe Augusto Leite.
— Falar de paralisação do Brasileiro não está no nosso roteiro e qualquer posição institucional nesse sentido será somente após avaliar os resultados obtidos diante das novas regras de protocolos e suas inovações que estão sendo praticadas pela CBF e clubes. Estamos acreditando sempre na ciência médica e suas determinações visando a segurança do trabalhador, acompanhando o desenrolar dos fatos e espetando um pouco pra não tomar decisões precipitadas sem ver os novos resultados — explicou Felipe.
Decidida a dar início ao Campeonato Brasileiro mesmo num contexto em que o Brasil não consegue deixar o platô de mortes por Covid-19, a CBF viu o coronavírus se tornar o centro das atenções nas Séries A, B e C do país. Depois de apenas quatro dias do início das competições, já são 40 casos de atletas contaminados.
Os casos mais recentes vieram a público nesta terça. Na Série B, nove jogadores do CSA, de Alagoas, testaram positivo para a doença. Eles se somam a outros nove que já haviam sido afastados das atividades na última sexta-feira, também por contaminação pelo novo coronavírus. Em quarentena obrigatória, os infectados da semana passada não participaram do jogo contra o Guarani, realizado no último sábado, em Maceió.
Agora com um total 18 atletas afastados, o clube alagoano ficou sem opções suficientes para montar uma delegação que pudesse viajar a Chapecó, em Santa Catarina. À CBF, restou adiar o duelo dos nordestinos contra a Chapecoense. Inicialmente marcado para quarta-feira, ele agora não tem data para ocorrer.
O mesmo ocorreu com o confronto entre Goiás e São Paulo. O jogo não só estava previsto para o último domingo, pela Série A, como quase foi disputado. Somente a poucos minutos antes da realização da partida veio a confirmação de que nove atletas da equipe esmeraldina estavam contaminados. Agora, o confronto também aguarda uma remarcação, que vai depender de quando o apertado calendário montado pela CBF dará uma brecha.
Nesta terça, o Goiás sofreu mais um desfalque para o novo coronavírus. Um atleta foi diagnosticado nos exames realizados no domingo, já visando ao confronto com o Athletico, nesta quarta, em Curitiba. Com isso, já são dez atletas do clube que testaram positivo desde o início da Série A. Ao todo, 12 estão afastados. Os outros dois foram diagnosticados antes do Brasileiro e ainda não terminaram de cumprir a quarentena.
Na Série C, a partida entre o Treze, de Campinas Grande (PB), e o Imperatriz (MA) também foi adiada. Dos 19 jogadores da equipe maranhense, 12 testaram positivo para Covid-19. O resultado só foi descoberto no domingo, quando os atletas já estavam no interior paraibano para a realização da partida.
Um dia antes, a Terceira Divisão já havia registrado dois casos positivos para Covid-19. Foram de atletas do Vila Nova (GO). O clube só foi comunicado dos resultados quando já estava em Manaus, para a partida contra o time de mesmo nome da cidade. A comunicação tardia gerou revolta no clube goiano, já que não impediu os contaminados de viajarem com o restante da delegação. No entanto, nesta terça, o vice-presidente Leandro Bittar informou que a contraprova destes jogadores deu negativo.
Mudanças no protocolo
A explosão de casos e os jogos adiados colocaram o protocolo da CBF em xeque. E a entidade precisou reagir. Como parte da confusão se deu pelo atraso na divulgação dos exames, a entidade liberou os clubes para realizar os testes em laboratórios locais, "desde que portadores do selo de acreditação laboratorial, outorgado pelas entidades de saúde competentes, e obedecendo aos padrões de teste molecular especificados pelos protocolos".
O Albert Einstein, onde as análises seriam centralizadas, continua como parceiro da confederação. No entanto, a falha na coleta das amostras dos jogadores do Goiás e o atraso na entrega dos resultados geraram insatisfação geral. A CBF também determinou que os resultados deverão ser enviados a ela em até 24h antes da partida pelo clube mandante. Já o visitante precisa fazê-lo até 12h antes da viagem.
A descentralização do laboratório foi anunciada nesta segunda-feira ao lado de outra novidade no protocolo médico: todos os jogadores inscritos na competição por cada clube precisarão se submeter aos exames antes dos jogos. Inicialmente, apenas os relacionados para o confronto e o treinador precisavam passar pelo teste. O objetivo é impedir que muitos resultados positivos de uma só vez inviabilizem o trabalho de escalar uma equipe para a partida.
Por uma questão de tempo hábil, as mudanças só valem a partir de sexta-feira. Elas são uma tentativa de se responder aos problemas surgidos durante os primeiros dias de Brasileiro. Mas, numa competição disputada num momento de auge da pandemia no país, fica o receio de que novos obstáculos surjam nos próximos dias.
Fonte: O Globo Online