Estudo mostra 'buraco' nas contas dos clubes brasileiros em 2020
Quinta-feira, 30/07/2020 - 03:23
Embora as finanças dos clubes, em geral, já tenham chegado combalidas ao início de 2020 - com algumas exceções -, o cenário da pandemia trouxe a reboque um problema de fluxo de caixa para o período atual e o futuro próximo. O tamanho estimado desse buraco bate nos R$ 822 milhões, segundo estudo conduzido pelo economista César Grafietti, do Itaú BBA.

A projeção mostra o fundo do poço já neste mês de julho e um quadro preocupante que se replicará em janeiro. Isso tem a ver com a alteração do calendário e a conclusão do Brasileirão em fevereiro de 2021.

- Independentemente do balanço registrar até dezembro, parte das receitas vai entrar em fevereiro porque está relacionada a desempenho. Com os custos aumentados até fevereiro, pode haver um impacto não só de redução de receitas, mas o fluxo de caixa também vai ser mais apertado. Os clubes vão entrar em 2021 com uma situação muito complicada. O cenário vai ser bastante desafiador - avalia Grafietti.

Tecnicamente, o indicador usado pelo estudo é o Ebitda - o quanto o clube gera de caixa com a operação, antes de serem descontados juros, impostos, depreciações e amortizações. Os R$ 822 milhões são, portanto, um Ebitda negativo acumulado entre os principais clubes.



Efeito TV

No que diz respeito aos direitos de transmissão do Brasileirão em TV aberta e fechada, a maioria dos clubes é signatária de um contrato que prevê o seguinte modelo: 40% são divididos igualmente entre todos os clubes; 30% são divididos conforme número de jogos transmitidos; 30% são divididos de acordo com colocação na tabela. Ou seja, os dois últimos itens só se confirmam ao término da Série A.

Além disso, o calendário reformulado jogou a final da Libertadores para janeiro. Ou seja, quem chegar às fases mais agudas demorará mais do que o previsto anteriormente - a final seria em 21 de novembro - para colocar a mão no dinheiro.

- A receita de TV vai ficar diluída no tempo - completa Grafietti.

As dívidas a curto prazo também sufocam o fluxo de caixa dos clubes. Levando em conta o fechamento dos números de 2019, o cenário é grave para clubes como Sport, Cruzeiro, Botafogo, Vasco, Atlético-MG e Corinthians, cujas dívidas de curto prazo superam os 100% das receitas totais.



Mas para 2020, a projeção feita pelo Itaú BBA é de uma perda em R$ 1,49 bilhão nas receitas totais dos clubes em relação a 2019 (cerca de 24%). Pelos balanços do ano passado, os clubes, juntos, até geraram R$ 1 bilhão de caixa, mas foi possível ver um viés de queda na comparação com 2017 e 2018.



O que pode amenizar a defasagem do caixa é um controle melhor dos custos: "precisam cair pelo menos 45% em relação a 2019 para que haja alguma chance de manutenção dos pagamentos ao longo do segundo semestre", apontou a análise.

No Brasil, alternativa usada durante a pandemia tem sido buscar empréstimos - como o Flamengo fez - ou linhas de crédito, como a que foi acertada entre CBF e clubes da Série A, dividindo R$ 100 milhões. Essa solução pode ser boa ou ruim, dependendo das condições de quitação - juros, por exemplo.

A curva que projeta o fluxo de caixa leva em consideração ainda a janela de transferências. A saída de atletas do Brasil tende a se concentrar em agosto e setembro, deixando o volume dos cofres mais perto do ideal. Só que a diluição deságua numa virada de ano complicada. Receitas fora do script podem amenizar o quadro.

- Vejo muito clube com pouca capacidade de pagar suas contas mesmo. Uma forma de se financiar neste momento é com a própria torcida. O Vasco fez isso com o sócio-torcedor. Mas a própria torcida está em um período difícil. Até as alternativas estão mais difíceis. O Vasco pode fazer um dinheiro com Talles Magno, talvez consiga equilibrar minimamente e empurrar com a barriga. Mas fica difícil fechar mesmo assim - completou o economista do Itaú BBA.

Fonte: O Globo Online