Campello: 'Um atleta não pode ficar parado um período tão longo. É muito prejudicial'
Quarta-feira, 17/06/2020 - 02:26
A discussão sobre a volta dos estaduais traz a reboque um vislumbre a respeito do futuro do Brasileirão e em quais condições os clubes da elite nacional iniciariam a competição. A queda de braço envolve especialmente os clubes do Rio, já que o Carioca está na iminência de ser retomado. A Ferj já aprovou a sugesstão de tabela para que o Flamengo x Bangu aconteça na quinta-feira, mediante aprovação da prefeitura.
Em termos de datas, a CBF deu prioridade e até aconselhou as federações a concluírem os respectivos torneios, como uma forma de preparar o terreno para as competições nacionais. Mas a realidade aponta cenários diferentes em cada estado, o que não permite à entidade planejar um retorno simultâneo de todos os 20 clubes.
Para a CBF, o desejável seria iniciar o Brasileirão após o término dos estaduais. Só que, internamente, a entidade entende que nada impede a realização das competições de forma concomitante. A cúpula admite não ter controle sobre o retorno dos estaduais.
São Paulo exemplifica bem a disparidade entre os estados. Os paulistas são 25% da Série A, e ainda não retomaram os treinos presenciais. O Flamengo, por outro lado, já está há quase um mês em ação nos campos do Ninho do Urubu. É na análise dos efeitos desse cenário que a discussão entre os dirigentes se acirra.
O Fluminense, que é contra a volta imediata do Carioca, defende a tese de que os clubes do Rio, ao fim das contas, acabariam em desvantagem em relação aos vizinhos paulistas.
— Se a gente volta agora e encerra o estadual rapidamente, supondo que o Brasileiro retorne no início ou no meio de agosto, teríamos 40 ou 50 dias sem competição. É isso que os jogadores estão preocupados — disse o presidente Mário Bittencourt, em live na FluTV, ainda acrescentando:
— Se o Paulista tiver acontecendo em 30 de julho, vamos chegar com 50 dias sem competir e os nossos adversários estarão competindo muito perto do Brasileiro. Acho que seria muito ruim, não só para o Fluminense.
O tricolor conjuga a postura política com as ações. Contrastando com Flamengo e Vasco, o Flu só começará nesta terça-feira a primeira bateria de testes em jogadores e comissão técnica (IGG/IGM e PCR). A visão sobre o problema que seria eventual hiato entre Carioca e Brasileirão leva em conta ciclos de treinamento e de evolução física. Ela é compartilhada pela diretoria do Botafogo.
Esse problema não é dos clubes pequenos. O bloco quer concluir o estadual logo para receber os valores devidos pela competição e não precisar renovar contratos de jogadores por mais tempo. Muitos elencos seriam desfeitos ao fim de maio.
Mas até entre os grandes, como o Vasco, há a defesa de que é melhor antecipar o reinício da competição do que deixar jogadores de alto rendimento com tempo ainda maior de inatividade.
— Pode ser que pare de novo, mas uma etapa já será cumprida. É muito importante para a equipe estar treinando. Um atleta não pode ficar parado um período tão longo. É muito prejudicial. Vamos ter uma temporada muito dura, um jogo em cima do outro. Se não tiver bem treinado, vai ter uma lesão em cima da outra, pelo estou prevendo — disse o presidente do Vasco, Alexandre Campello.
Pelo país
O Campeonato Catarinense está avançado: já divulgou até que as quartas de final ocorrerão a partir de 8 de julho. Mas não há representantes do estado na Série A do Brasileiro. O presidente da Federação Mineira, Adriano Aro, terá uma reunião nesta quarta-feira com o secretário estadual de Saúde para discutir um possível retorno. A expectativa é obter um panorama mais claro sobre a volta. No Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio retornaram aos trabalhos de recondicionamento físico, mas ainda com muitas restrições, já que as autoridades puxaram o freio diante do avanço do coronavírus.
— A impressão que eu tenho é que, no momento em que tiver condições técnicas sanitárias de fazer o Brasileiro andar, a CBF vai fazer andar. Não precisa acabar tudo junto para começar o Brasileiro e Copa do Brasil. Não tem como equalizar isso, fazendo todo mundo jogar em uma data específica. Até porque não vamos forçar a questão sanitária — disse o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan.
No Inter, o presidente Marcelo Medeiros sugere que uma solução para o hiato entre estaduais e Brasileiro seja antecipar torneios de 2021. Mas a incerteza evita debate mais concreto.
— Não é só São Paulo. Tem Fortaleza, com dois clubes na Série A, que tem uma contaminação dramática. Conversando com presidente da CBF (Rogério Caboclo), a ideia é terminar as competições nacionais. Se em 2020 ou 2021, ninguém sabe — disse ele.
Fonte: O Globo Online