Roupeiro da base do Vasco tem contrato suspenso e busca renda no comércio informal de rua
Ao longo de 10 anos em São Januário, o roupeiro José Luiz de Oliveira se acostumou com atrasos salariais no clube. No meio da pandemia que provocou a suspensão de seu contrato por dois meses - até o fim de junho -, o atraso do clube se somou ao do repasse do governo (que deve arcar com 70% de seu salário) e ele resolveu buscar alguma renda no comércio informal de rua.
Em ônibus e próximo de casa, em Padre Miguel, o roupeiro de 59 anos vende balas, pipoca e paçoca para ajudar dentro de casa. Zé Urso, apelido dele no sub-13 e sub-14, viu de perto a despedida de um amigo, Jurandir dos Santos, que jogou futebol profissional, com suspeita de coronavírus, e mais problemas e também mortes pela doença em outras casas próximas do bairro na zona oeste.
Ex-funcionário do Bangu, ele mora com a filha de 20 anos, que está desempregada, e os dois netos - um de seis e outro de dois anos.
- Consigo arrecadar uns R$ 40, R$ 50 por semana. Não está dando para vender muito, no sinal as pessoas não estão nem abrindo o vidro. Mas já ajuda. Dá para comprar um quilo de carne, comer alguma coisa. Vendo cinco paçocas por R$ 1, um saco de pipoca por R$ 2 e cinco balinhas por R$ 0,50 - conta Zé Urso.
Nos últimos dias, a mobilização de torcedores vascaínos o aliviou. Mesmo com toda dificuldade no dia a dia do Vasco - recebeu um valor referente a março de cerca de R$ 1 mil -, ele agradece pelo clube não tê-lo demitido, o que aconteceu com outros 60 funcionários.
Uma campanha de Marcia Veras, mãe de um pequeno jogador, hoje no Madureira, já o auxilia para conseguir se sustentar nesses tempos difíceis.
- Agradeço muito aos torcedores do Vasco. A senhora que fez a campanha para mim. Quando isso acabar quero ir dar um abraço nela. A gente sempre tem que agradecer, principalmente a Deus e às pessoas que gostam da gente. Isso é muito importante. Sempre dei valor a uma boa amizade, agora vou dar maior valor ainda. Não sou só eu que estou passando, meus amigos roupeiros do Vasco, massagista, estão passando também. Mas sei que isso vai passar.
A situação salarial do Vasco
Jogadores: quem ganha até R$ 50 mil, recebeu o mês de janeiro. Esses atletas e os demais têm ainda os meses de fevereiro, março e abril por receber. Além disso, parte deles convive com a falta de pagamento dos direitos de imagem desde a metade do ano passado. Férias também não foram pagas.
Funcionários: quem ganha até R$ 1,8 mil, recebeu o mês de fevereiro e agora parte de março. Os que têm salário superior a R$ 1,8 mil, receberam apenas o valor parcial de R$ 1,3 mil referente a fevereiro. No entanto, os meses de janeiro, março e abril, além do restante do mês de fevereiro, ainda estão em aberto.
O clube fez ainda o pagamento de R$ 1,1 mil referente à folha de março a 192 trabalhadores. Há atrasos, portanto, a diferentes categorias salariais dos meses de janeiro, fevereiro, março e abril. Férias do ano passado também não foram pagas.
Fonte: GloboEsporte.com