Estrutura forte, base formadora e DNA cruzmaltino. Essas são algumas das características que dão o tom do projeto de eSports do Vasco da Gama, anunciado no fim de abril. Projetado com o intuito de captar jovens vascaínos para o esporte eletrônico, o projeto possui caráter formador e, começando pelo Free Fire, buscará desenvolver as line-ups profissionais das mais diversas modalidades em São Januário, sob orientação de escolinhas de eSports do clube.
A principal diretriz do Vasco nos eSports é a de "caminhar junto com a torcida", segundo conta o diretor adjunto do clube, Carlos Gama. Ele, inclusive, afastou rumores de compras de times profissionais já formados ou de vagas em algum grande campeonato. O objetivo é buscar talentos dentro de São Januário.
- As propostas de grandes empresários e grandes investidores para montar equipes chegaram até o clube. Nós olhamos, avaliamos, entendemos, mas temos um compromisso em andar junto com a torcida. Queremos isso. A torcida construiu São Januário. A torcida construiu o CT. Então por que não sair da torcida, como é uma promessa nossa, uma line de Free Fire? Vai demorar mais para chegarmos na liga principal? Vai. Mas veio da torcida. A proposta é essa desde o início. Nosso DNA é esse – declarou o dirigente em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com.
Logo após o anúncio da entrada do clube no cenário de eSports, a comunidade como um todo esperava, de imediato, o anúncio de algum nome ou de alguma line-up profissional de alguma modalidade. Isso, no entanto, não aconteceu, e demandará tempo até se concretizar.
- Sabíamos que essa pressão viria, essa cobrança pela nossa atuação em equipes profissionais. Isso está no nosso plano. Queremos encerrar já nesse ano com equipes profissionais em jogos diferentes. Estamos, nesse momento, debruçados nas escolhas que vamos fazer para termos uma atuação relevante. [...] Existe, sim, o desejo, o plano, de lançarmos equipes profissionais em um curto espaço de tempo. Como, quando ou que jogo ainda precisamos de um tempo maior – disse Álvaro Cysneiros, diretor de eSports do Vasco.
Oficializado junto ao anúncio de um torneio de Free Fire para sócios, o projeto cruzmaltino não pretende ficar só no battle royale da Garena. A ideia é que se tenha um calendário de torneios amadores ao longo do ano para diversas modalidades. O clube pretende realizar torneios, até o fim deste ano, de Clash Royale, League of Legends, PES e Rainbow Six Siege – todos para sócios e torcedores vascaínos.
Processo para desenvolvimento de time profissional esbarra no Covid
O projeto de eSports do Vasco foi anunciado no meio de abril, pouco menos de um mês depois do início do processo de quarentena e isolamento social em função da expansão do novo coronavírus. Um dos pilares do projeto cruzmaltino, a criação e o desenvolvimento das escolinhas de eSports junto aos jovens do entorno de São Januário foi freada em função pandemia - peneiras, que seriam anunciadas posteriormente, serão reavaliadas.
A ideia inicial era de que logo no fim de fevereiro ao menos 200 jovens estivessem ocupando essas vagas (da escolinha) em São Januário, que, em tese, aceleraria o processo de obtenção de um time profissional com jovens formados no clube em pelo menos três jogos: Free Fire, PES e Clash Royale.
- Havia um cronograma já com investidores e técnicos acertados, que com três meses de escolinha já começaríamos a fazer campeonatos, e a partir desses campeonatos teríamos lineups anunciadas. Então acreditávamos que em agosto ou setembro o projeto já estaria em outro patamar, mas o covid veio e agora precisamos reavaliar em qual cenário vamos entrar (pós-pandemia) – disse Carlos Gama.
- A ideia da peneira era algo que existia no cronograma original e nos comprometeríamos de que dessa peneira jogadores virassem profissionais do clube, mas agora estamos esperando voltar tudo ao normal – completou o diretor adjunto.
Conheça mais sobre o projeto do Vasco
Os quatro pilares
Idealizado sob o que a diretoria enxerga como "os quatro pilares" - projeto social, e-academy, eventos e equipes profissionais –, o projeto de eSports do Vasco tem como sua força motriz a formação de e-atletas dentro do clube e a aproximação com torcedores que se sentem distantes do clube, seja por não morarem no Rio de Janeiro ou por não gostarem tanto dos esportes tradicionais.
- Queremos ter escolinhas de PES, do Clash Royale e do mobile de Free Fire em turmas com aproximadamente 60 alunos. Queremos dar uma formação esportiva a esses meninos, uma formação dos eSports. As pessoas que não conhecem o esporte eletrônico acham que é só tiro, bomba, quando na realidade não. É um xadrez, tem que ter estratégia, entender e ler aquilo que o outro vai fazer – disse o diretor adjunto Carlos Gama.
Pensando no torcedor, além das escolinhas que formarão atletas para suas equipes profissionais, o clube contará com uma série de torneios ao longo do ano com o intuito de entreter e aproximar, cada vez mais, o torcedor vascaíno do clube e do novo setor. Entre as modalidades, uma já foi anunciada, o Free Fire, e outras quatro ainda serão divulgadas, casos de Clash Royale, LoL, PES e R6.
Sede no Rio de Janeiro, mas olho em São Paulo
Apesar de toda a infraestrutura, bem como a ideia do projeto de um modo geral, ser pensada para ter São Januário como centro de treinamento da equipe e sede do setor de eSports do Vasco, a diretoria entende a necessidade de se fazer presente em São Paulo, estado que concentra boa parte dos grandes torneios de eSports. A ideia, no entanto, é fomentar, também, o cenário carioca de eSports.
- Os eSports estão concentrados em São Paulo. A gente pensa em estar em São Paulo? Claro. Temos que estar lá jogando os grandes circuitos, sim, mas temos que olhar aqui e montar grandes circuitos aqui (no Rio) também, ajudar a montar isso. Não necessariamente trazendo um grande jogador, mas ajudar a montar trazendo bons profissionais. De repente faltam bons profissionais no Rio de Janeiro, que podem ser formados no Vasco. Às vezes um jovem que, por exemplo, gostava de narrar os campeonatos amadores na escolinha do Vasco pode ser contratado... Por tabela podemos montar um ecossistema de profissionais ligados ao esporte eletrônico para isso – idealizou Carlos Gama.
Projeto buscará ser autossuficiente
A ideia é de que o projeto do Vasco seja financeiramente autossuficiente. O que quer dizer isso? O clube não injetará dinheiro no departamento de eSports e toda a captação de recursos será feita de forma independente pelo próprio setor.
- Queremos agregar valor ao clube, queremos agregar novos tipos de patrocinadores. Entendemos que é um mercado que precisamos nos apropriar dele e nascermos independentes de receitas do clube – afirmou o diretor Álvaro Cysneiros.
- Precisamos jogar com inteligência, principalmente nesse período de quarentena que é difícil arrumar investimento para qualquer negócio. Queremos conseguir fazer um desenho para ser seguido à risca, para que não tenhamos tropeços no caminho. Não estamos para brincar, não estamos para ser um mais um clube amador. Queremos ser profissionais, sim, mas profissionais direito. Estamos com tudo no gatilho, só estamos avaliando as melhores opções – comentou Afonso Tresdê, gerente de Novos Negócios do Vasco.
Free Fire como porta de entrada
Um dos jogos mais populares no Brasil, o Free Fire foi o escolhido pelo Vasco para ser sua porta de entrada no mundo dos esportes eletrônicos. A escolha foi feita através de um estudo de dentro para fora de São Januário, mediante, inclusive, de um processo de observação feito com atletas dos esportes tradicionais na base do Vasco.
- Uma coisa que me atraía muito eram os meninos que iam treinar e ficavam na arquibancada jogando Free Fire. Eles estavam aguardando começar o treino de futebol, de basquete ou natação ali na arquibancada jogando Free Fire. Todo mundo estava passando e ninguém estava observando aquilo ali. Foi a partir de observações dentro do clube que identificamos isso. Foi um olhar de quem estava dentro – revelou o diretor Carlos Gama.
Entrada do Vasco nos esportes eletrônicos
Desejo antigo de Álvaro Cysneiros e de Carlos Gama, um projeto de eSports voltado para o público do Rio de Janeiro levou ambos a uma descoberta em comum: o Vasco. Com vasta experiência nas áreas de eSports e tecnologia, a dupla concebeu a ideia fora de São Januário e decidiu unir forças dentro do clube para a implementação do projeto.
- Há um ano e meio começamos a articular alguma coisa já dentro do clube, mas havia algumas ações isoladas e picadas. Propusemos essa liderança, à partir da Vice-Presidência do Infanto-Juvenil, do José Pinto Monteiro, na linha de trazer um novo torcedor para o clube, de trazer o jovem que, até então, não tem grandes conexões (com o clube) porque ele não pratica esportes, porque é gamer, ou sei lá porquê – disse o diretor Álvaro Cysneiros.
- Às vezes ele é um ótimo jogador, mora do lado da Barreira (comunidade próxima a São Januário considerada casa dos vascaínos), mas nunca entrou em São Januário. A ideia é trazer esse jovem para dentro do clube em uma missão de formar atletas dentro dessa modalidade com o viés final da profissionalização – completou.
Fonte: GloboEsporte.com