O zagueiro Miranda tem apenas 20 anos - completou em 19 de janeiro -, mas sua história no futebol já é bastante rica. Destacou-se muito nas divisões de base, onde sempre foi capitão da badalada "Geração 2000". Chegou ao clube em 2006, ganhou todos os títulos possíveis no futsal. Já no campo, além de levantar taças, foi convocado para a Seleção nas categorias sub-15 e sub-17.
Também enfrentou momentos difíceis, como o ato de racismo sofrido contra o Independiente-ARG na Copa RS 2019, torneio sub-20 disputado anualmente no final da temporada. Não se omitiu, marcou o gol da vitória, decidiu não comemorar em protesto e desabafou às câmeras: "Macaco não, eu tenho orgulho da minha pele". Após o triunfo por 2 a 1 sobre os argentinos, registrou ocorrência na polícia por injúria racial contra Ayrton Henrique e Tomas Augustin do Independiente.
Já soma cinco jogos como profissional, três disputados em 2020 - todos clássicos. Não foi bem, e o próprio, autocrítico, admite isso. Em conversa com o GloboEsporte.com, Miranda revela como tem sido a quarentena, já que a paralisação se deu justamente quando evoluía na adaptação ao elenco principal do Vasco. Também falou de referências vascaínas e externas, de conversas com Ramon Menezes e ainda contou que está lendo um dos livros de Pep Guardiola.
Leia tudo abaixo:
A quarentena atrapalhou sua entrada em definitivo no time profissional. Como tem sido os contatos com companheiros e no que você tem focado para crescer agora na equipe principal?
Eu converso sempre que eu posso com o Ricardo (Graça), ele me orienta e ajuda bastante. Tenho buscado me aperfeiçoar cada vez mais
O que tem feito de extraordinário nessa paralisação que não tinha o costume de fazer antes dela?
Nessa quarentena tirei um tempo pra ficar com minha família e minha namorada. Jogo bastante videogame, estou terminando de ler um livro do Guardiola (Pep Guardiola - A Evolução) e tenho treinando bastante.
O que mais gostou ou aprendeu com o livro do Guardiola?
Sim, é um estudo sem dúvidas. Aprendi muito sobre conceito de jogo e sobre a questão disciplinar dentro e fora de campo! Pep é muito inteligente e se adapta rápido às circunstâncias. Foi assim no Barcelona, no Bayer e agora no City. É um homem vitorioso, que busca o melhor de cada jogador. Ele entende o jogador e tira de você sua melhor característica, fora que com ele você joga em mais de uma posição e aprende a jogar em todos os lados do campo. Wle estuda o adversário, acha um ponto negativo e joga nesse erro do adversário, é um super estrategista.
Como tem sido sua relação com o Ramon, já que ele te treinou em vários trabalhos do time reserva? Já bateram papo depois que ele assumiu?
Ramon é muito inteligente, um treinador que entende o jogador, conversa e orienta. Sabe os pontos positivos e negativos de cada um. Chegamos a conversar sim, falou para eu continuar firme e que tenho tudo para me tornar um jogador de alto nível.
Quem são suas referências no Vasco e fora do clube?
Dentro do clube são os mais experientes: Breno, Castan, Ramon, Guarín e Bastos... São jogadores que ganharam muitos títulos e busco estar aprendendo com todos eles. Fora do clube, eu vejo também os que estão jogando em alto nível, como Piqué, Sérgio Ramos, Van Dijk, De Ligt e Thiago Silva.
Apesar do grande destaque na base, você não foi bem nos jogos do time reserva nos clássicos. Onde acha que errou e no que pode melhorar?
Eu sei que nesses jogos eu não mostrei o meu melhor futebol, mas ganhei carinho dos meus companheiros e da torcida. Estou bastante motivado e disposto a crescer dentro do Vasco
Você já sofreu racismo em campo. Depois dessa crise mundial, acha que o ser humano aprenderá e cometerá menos atos absurdos como o que você enfrentou na Copa RS?
Essa pandemia está fazendo muita gente repensar, e espero que, quando isso passar, tenhamos seres humanos mais evoluídos do que antes. E que não cometam mais nenhum tipo de preconceito ou discriminação.
Como acha que será o futebol pós-pandemia?
Temos que estar cientes que o problema não está resolvido. Importante ainda tomar os devidos cuidados. Estádio sem público infelizmente vai se tornar uma rotina, mas temos que nos acostumar com isso. Vamos sentir falta, ainda mais porque a torcida do Vasco fazia ferver em São Januário.
Mas é para o bem de todos e não seremos os únicos. Então faz parte. A magia, o encanto e rivalidade vão continuar igual, isso não muda.
Fonte: GloboEsporte.com