Paulinho, sobre volta do futebol alemão: 'É normal o receio, mas me sinto bem para jogar'
"Tudo é muito novo, assustador. Mas necessário". É assim que o atacante brasileiro Matheus Cunha, do Hertha Berlim, vive a nova rotina. Primeiro, o confinamento em casa. Depois, os testes para detecção do novo coronavírus e, em seguida, treinos em grupos pequenos, com distanciamento, sem compartilhamento de vestiário ou contatos com funcionários do clube.
Mais uma semana de concentração forçada em hotéis e hoje, enfim, os jogadores da Bundesliga voltam a campo, com seis jogos — todos de portões fechados — a partir das 10h30min (horário de Brasília, com transmissões de Espn Brasil e Fox Sports). O destaque é o clássico entre Borussia Dortmund e Schakle. Será a primeira competição de futebol de alto nível a regressar.
Ao GLOBO, jogadores brasileiros relataram uma mistura se sentimentos. Doses de medo e insegurança, misturadas com a confiança em protocolos de um país que combateu bem a epidemia. Curiosa é a sensação de serem parte de um jogo totalmente novo, que testará estratégias observadas por todo o planeta.
Sem cuspes ou abraços
Afinal, tantas ligas ansiosas por salvar contratos comerciais depositam esperança no sucesso dos alemães e seus protocolos de higiene.
— Quando passamos por todo este protocolo, nos sentimos protegidos. Mas, ao mesmo tempo, pensamos: "se estão investindo tanto, é por ser algo grave". Mas a sensação de proteção é maior — diz Matheus.
A vida num país diferente diante do inimigo invisível e desconhecido envolve conflitos emocionais. Em especial para um jovem de 19 anos.
— Eu e minha família tivemos sintomas no início, mas estamos bem. Todos os dias cada jogador recebe um relatório para preencher, informando algum sintoma. Somos testados duas vezes na semana. É normal o receio, mas me sinto bem para jogar. Por sorte tenho meus pais aqui — diz o ex-vascaíno Paulinho, hoje no Bayer Leverkusen.
A vontade de voltar a competir prevalece, mas as primeiras reuniões dos jogadores, quando os treinos coletivos foram retomados, tiveram momentos curiosos.
— Um se aproximava e o outro já pedia para não chegar tão perto. No início, quando chegávamos para treinos em grupos pequenos, parecia um clube abandonado. Só nós, parte da comissão técnica e fisioterapeuta — relata Raffael, 35 anos, atacante do Borussia Mönchengladbach.
A partir de hoje, surge, ao menos provisoriamente, um futebol diferente. Há orientação para evitar cuspir no campo e comemorar com abraços.
— O mundo estará vendo. Somos exemplos. E se o mundo não pode se abraçar, acho que devemos seguir isso — afirma Matheus.
Mas a disputa pela bola, a competição, deverá preservar características. A maior delas, o contato.
— Nos treinos já tivemos uma amostra. Em campo, é cada um defendendo o seu pão — disse Paulinho.
Fonte: O Globo Online