Autor de grandes obras, como "O Bêbado e a Equilibrista", o escritor e compositor Aldir Blanc, que morreu hoje (4) vítima da Covid-19, tinha uma íntima relação com o Vasco. O clube de São Januário, pelo qual o artista nunca escondeu a paixão, esteve presente em algumas produções assinadas por ele, e esse amor foi passado para suas filhas na comemoração do Brasileirão de 1989.
Em 2009, Aldir Blanc escreveu o livro "Vasco - a Cruz do Bacalhau" em parceria com o jornalista e historiador José Reinaldo Marques. Nele, narra momentos inesquecíveis, glórias e grandes jogadores que fazem parte da história do Vasco Em um trecho da obra, conta que "contraiu a doença" de torcer para o Cruz-Maltino em 1956, então com dez anos, quando o time conquistou o Campeonato Carioca após triunfo sobre o Bangu.
"Daquela tarde, aos 10 anos / não esquecerei: / fui para a rua dos artistas / me gripei, caí de cama... / Doido, com 40 graus, / encolhido dentro de um pijama, / contraí essa doença: Ser Vasco da Gama", aponta parte do texto intitulado "Febre vascaína".
Na capa do livro "Direto do Balcão", em que Aldir fala sobre diversos assuntos, como bares, política, futebol e música, há uma ilustração que representa Aldir, de costas, com a camisa do Vasco.
O Cruz-Maltino aparece ainda explicitamente na letra de "Gol anulado", composição com João Bosco, um grande parceiro musical. A música conta a a decepção de um homem ao descobrir, depois de "três anos vivendo juntos", que a parceira torcia para o rival Flamengo.
A música, que anos depois recebeu críticas por conta da alusão à violência doméstica, foi interpretada por Elis Regina.
Em entrevista à revista Placar, em 1993, Aldir recordou as celebrações pelo título das edições do Campeonato Brasileiro de 1974 e 1989, indicando que a comemoração pela conquista do bi, contra o São Paulo, marcou a primeira vez que as filhas se envolveram verdadeiramente com o clube.
No fim de 2008, ao jornal O Globo, demonstrou o amor pelo Vasco, que, à época, atravessava uma crise e havia acabado de ser rebaixado à Série B do Brasileiro pela primeira vez.
"Se for para a Segunda Divisão, sou Vasco. Se for para a Terceira, sou Vasco. Se o Vasco acabar, ainda sou Vasco", disse.
Em diversos textos e entrevistas, nunca se refutou a falar do clube de São Januário, até mesmo em temas mais polêmicos. Em 2007, ao site da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), fez críticas ao então presidente Eurico Miranda.
"Tenho uma relação afetiva com o clube, mas não me identifico com o Vasco do Eurico, com suas cavalices e a perseguição estúpida ao Flamengo, que só nos deu vexame. Perdemos três títulos depois que ele escolheu esse caminho como meta eleitoral. Por isso eu o chamo de 'Maquiavel ao Zé do Pipo'", afirmou.
Aldir ainda participou indiretamente do processo eleitoral vascaíno. Em 2014, declarou apoio à chapa "Identidade Vasco", que, na ocasião, era encabeçada por Roberto Monteiro.
Lembrado pelo Vasco
Aldir Blanc foi lembrado pelo Vasco em algumas postagens em redes sociais. No ano passado, em repúdio à ditadura militar, o Cruz-Maltino publicou um vídeo da música "O bêbado e o equilibrista", que se tornou um hino da anistia.
O clube também endossou a campanha em prol de doações para a transferência de Aldir, que já estava internado devido às complicações causadas pelo coronavírus.
Música embalou o tetra
A relação de Aldir com o futebol também esteve presente em diversas outras oportunidades. Em parceria com João Bosco, escreveu canções que tinham o esporte como pano de fundo. "Linha de passe" e "Incompatibilidade de Gênios" são alguns exemplos.
Em "De Frente Pro Crime", a frase "Tá lá o corpo estendido no chão" acabou se tornando um dos bordões mais famosos do narrador Januário de Oliveira, usado quando havia um jogador machucado em campo.
Em relação à paixão nacional, talvez, a obra mais conhecida do artista seja "Coração verde e amarelo", feita e pedido da Globo e que veio a embalar a conquista brasileira na Copa do Mundo de 1994. A música foi realizada em parceria com Luiz Otávio de Melo Carvalho, o Tavito, que morreu no ano passado.
Fonte: UOL
Vasco, Zico e seleção: nove vezes que Aldir Blanc compôs sobre futebol
Um dos maiores cronistas das mazelas e alegrias do país, ele deixa 500 canções, sendo algumas com diversas referências esportivas
"É preciso lembrar sempre que o Vasco da Gama não é o Eurico Miranda. É sua história e suas glórias, incluindo o Aldir Blanc". A frase de Luis Fernando Veríssimo em uma de suas crônicas no GLOBO dão o tom da importância do futebol para Aldir Blanc. Vascaíno fanático, o tijucano que morreu hoje, aos 73 anos, com infecção generalizada em decorrência do novo coronavírus.
Em suas crônicas, músicas ou textos, o futebol sempre esteve presente, como era de se esperar de um artista que gostava de narrar o cotidiano, e vivia e entendia a cidade como poucos. O GLOBO lista dez vezes em que o futebol foi personagem das músicas compostar por Aldir.
1. Coração verde e amarelo
Você já ouviu e provavelmente conhece os acordes de cor. Não sabia, porém, que Aldir Blanc, em parceria com Tavito, era o compositor. O jingle "Coração Verde e Amarelo" embalou a campanha do Brasil na Copa do Mundo de 1994 e até hoje é usado pela TV Globo para jogos da seleção brasileira.
Não lembra? Os versos do refrão vão fazer você recordar: "Eu sei que vou, vou do jeito que eu sei/ de gol em gol, com direito a replay/ eu sei que vou com o coração batendo a mil/ é taça na taça, Brasil".
2. Incompatibilidade de Gênios
A composição, parceria com João Bosco, que narra a vida de um casal em pé de guerra é um dos grandes sucessos da MPB composto por Aldir Blanc.
Das pequenas brigas do cotidiano e da convivência, o futebol é a escolha para o primeiro verso que mostra que marido e mulher já não se davam bem: "Dotô/ Jogava o Flamengo, eu queria escutar/ Chegou/ Mudou de estação começou a cantar".
3. De frente para o crime
Outra conhecida canção de Aldir, "De frente para o crime" é uma composição que usa referências do futebol para falar da violência urbana na cidade.
Aldir usa dois bordões do narrador Januário de Oliveira, famoso no Rio no começo dos anos 90, para narrar a história. Uma no próprio título da música, "De Frente Para o Crime", que era o que o jornalista usava para dizer que um jogador estava na cara do gol. E o verso mais famoso: "tá lá um corpo estendido no chão", quando algum atleta se machucava.
4. Gol anulado
Narrando um casal em violência doméstica, em que o marido bate na mulher quando ela comemora um gol do Zico, "Gol anulado", de Aldir Blanc e João Bosco, não tem referência ao futebol só no título ou nos primeiros versos.
A história do fim de amor de um casal há três anos juntos é comparada, brilhantemente no fim: "Eu aprendi que a alegria/ De quem está apaixonado/ é como a falsa euforia/ De um gol anulado".
5. Linha de passe
A canção, que virou até nome (e trilha sonora de abertura) de renomado programa de debate esportivo da ESPN Brasil, não fala muito em futebol.
Mas a narração, de várias situações que se completam, são comparadas com uma tabelinha de um time de futebol, ou seja, uma linha de passe.
6. Par ou Ímpar
Canção baseada em fatos reais, a parceria de Aldir com Guinga narra a história um ex-torturador da Ditadura militar no Brasil, depois dos "Anos de Chumbo" no Brasil.
Agora já na democracia, o ex-torturador usa de suas técnicas de violência nas peladas que joga em Xerém.
"Conta que é torturador/ Não é nada pessoal/ Se convocado outra vez/Volta e me mete o pau, uai!"
7. Yes, Zé Manés
Em outra parceira com Guinga, Aldir Blanc compõe uma música que mistura o português com o inglês e estrangeirismos para tentar valorizar o que é brasileiro.
E claro, o esporte entra no jogo: "I know, my soul/ Romário em frente ao gol", diz um verso da canção composta em 1993, antes do Baixinho virar um herói nacional.
8. Mandingueiro
Parceria com Moacyr Luz que também valoriza a cultura brasileira, o samba mandigueiro fala da receita: "um dente, sal, menos louro", mas não entrega tudo pra dar "olé no gringo".
9. Êxtase
Curioso que, vascaíno fanático, Aldir Blanc tenha composto muitas canções com referências ao futebol, mas sem muitas citações ao Vasco da Gama, para quem torcia de forma fanática.
Em "Êxtase", porém, parceria com Djavan, ele narra situações de extrema emoção. A primeira frase? "Eu devia ter sentido o seu rancor, mas tava doido num jogo do Vasco"
Fonte: O Globo Online
Aldir Blanc: amor pelo Vasco em prosa e verso
Aldir Blanc, que faleceu nesta segunda-feira, aos 73 anos, apesar de avesso a eventos em sua homenagem, nunca foi tímido ao declarar o seu amor pelo clube de coração: o Vasco da Gama.
Nascido no Rio de Janeiro em 2 de setembro de 1946, o compositor e escritor contou que se tornou um vascaíno apaixonado graças ao título carioca de 1956. E lembrou a conquista marcante em versos.
- Naquele tarde chuvosa no Maracanã, o goleiro do Bangu bobeou. Vavá marcou;
Na arquibancada molhada, o negro e o português, por antecipação, tinham em mãos o caneco de 56;
Daquela tarde aos 10 não me esquecerei: fui para a Rua dos Artistas, me gripei, caí de cama;
Doído, com 40 graus, escolhido dentro do pijama, contraí esse doença: ser Vasco da Gama!
Em 1974, esteve no Maracanã para ver de perto a vitória sobre o Cruzeiro por 2 a 1, que garantiu o primeiro título de campeão brasileiro ao time de São Januário. Quinze anos depois, em 89, viu pela TV a conquista sobre o São Paulo no Morumbi. A distância não foi suficiente para reduzir a sua emoção.
- Foi a primeira vez que minhas filhas se envolveram de verdade com o Vasco. Por isso, não me esqueço daquele dia - contou em entrevista, lembrando que Isabel, então com 7 anos, e Mariana, 14, assistiram ao jogo uniformizadas ao lado do pai.
"Se for para a Segunda Divisão, sou Vasco. Se for para a Terceira, sou Vasco. Se o Vasco acabar, ainda sou Vasco" - Aldir Blanc, em entrevista ao "O Globo" em 2008
Como escritor, deixou entre seus muitos livros um em que o tema era o seu time: "Vasco, a cruz do bacalhau", em que contava momentos marcantes da história centenária do clube carioca.
Em suas crônicas, publicadas em jornais como "'O Globo", "Jornal do Brasil", "O Dia" e "O Estado de São Paulo", o Vasco era um tema presente. E a paixão pelo time não o impedia de criticar o que considerava estar errado no clube. Como no texto em que abordava as eleições para a presidência do clube em 2006. Na época, declarou apoio ao candidato de oposição Roberto Dinamite. E não poupou críticas à administração de Eurico Miranda. A quem chamava de "Eu-Rico".
- No Vasco, quase tudo é possível. A não ser, é claro, eleições limpas.
Apesar de algumas decepções, o autor de "O bêbado e a equilibrista" (em parceria com o rubro-negro João Bosco) e "Resposta ao tempo" nunca deixou de declarar o amor pelo clube do coração. Um amor que jamais se apagaria para ele.
- A cada grande vitória renasce o menino que agita o pendão cruzmaltino. Esse é o segredo que existe em qualquer vascaíno.
Fonte: Blog Memória E.C. - GloboEsporte.com