O cofre recheado, que resultou em investimento milionário no futebol, não era mais o mesmo, mas o Vasco ainda ostentava alguns craques além do fato de ser o atual campeão brasileiro e da Mercosul. Há exatos 19 anos, em 29 de abril de 2001, com um time que ainda se impunha sobre os rivais, o Cruz-Maltino aplicou 7 a 0 sobre o Botafogo pelo Campeonato Carioca.
- Foi tão significativo que esses dias, com a reprise, o Taílson, atacante do Botafogo, me mandou mensagem lembrando da coça que eles sofreram - contou o zagueiro Geder, atual empresário.
Além dos reflexos positivos e negativos, o placar continua imbatível: é até hoje é a maior goleada em clássicos no Maracanã. É também a maior vitória do clube de São Januário contra os grandes rivais do Rio de Janeiro, igualando o 7 a 0 sobre o Flamengo, em 1931. Foi, por assim dizer, também o canto do cisne de um Vasco que conquistou quase tudo entre 1997 e 2000, mas entrou em queda livre o século XXI.
Problemas fora de campo
Fora de campo, o momento não era bom em São Januário. Com salários atrasados, três jogadores haviam conseguido se desvincular do clube na Justiça: Edmundo, Juninho Pernambucano e Júnior Baiano. Ainda assim, sobravam estrelas. Romário, Juninho Paulista, Helton, Euller, Viola e Pedrinho foram alguns medalhões que estiveram em campo naquela tarde. Todos sob o comando de Joel Santana.
"Papai Joel", no entanto, estava tendo dificuldades para domar seu filho mais brilhante. Romário, apesar dos gols, era questionado, mais uma vez, por seu comportamento fora de campo. Antes do clássico, o Baixinho se disse arrependido de ter ido a uma festa de Vampeta no início da semana, em São Paulo, após o jogo da seleção brasileira contra o Peru, pelas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa de 2002.
Rival "quase" em greve
Do outro lado, o Botafogo apostava nos veteranos Donizete Pantera e Marcelinho Paulista. Fora de campo, no entanto, a situação era ainda pior do que no Vasco. Com salários atrasados, alguns jogadores ensaiaram uma greve antes do clássico, mas foram convencidos a entrar em campo por Dé Aranha, para o arrependimento do treinador.
- Alguma coisa está errada. Com a garotada teria sido diferente – lamentou Dé, na ocasião.
- Eu não vim aqui para dar desculpas. Estou abismado e boquiaberto. A maioria (dos jogadores) assistiu passivamente esse massacre do Vasco aqui no Maracanã – completou o treinador, ainda no gramado, demitido após o clássico.
Pedrinho, meia que marcou um dos gols do Vasco e atual comentarista do Grupo Globo, disse se lembrar dos problemas financeiros da época. Porém, tem uma visão um pouco diferente:
- É claro que ficar sem receber tem interferência no subconsciente. Se o jogador está mais feliz, produz mais. Se está cheio de problema.. Agora, quando entra, se doa ao máximo sempre. Até porque ele pensa de duas formas: coletiva e individual. E, nas duas, ninguém quer ser mal falado, tomar de 7 e ser humilhado ainda mais por um rival. O que aconteceu foi que o nosso time era muito superior.
Juninho e Romário comandam o show
Antes do clássico, a imprensa pregava equilíbrio, por conta dos problemas extracampo nos dois clubes. O Vasco, apesar de ter um time mais qualificado, vinha de atuações pouco convincentes, tinha sofrido no meio da semana para vencer o Bangu e precisava vencer para ainda ter chances na Taça Rio e de disputar a final do Carioca contra o Flamengo.
O suposto equilíbrio, no entanto, não durou mais de 50 segundos. Com menos de um minuto de jogo no Maracanã, o Vasco já vencia, com gol de Romário. A partir daí o que se viu foi mais um show do camisa 11. O protagonista, porém, foi de outro baixinho. Inspirado, Juninho Paulista marcou três vezes, além de uma assistência. Jogou demais, em uma de suas melhores atuações pelo clube.
- Fizemos sete gols, mas poderíamos ter feito dez - disse Romário logo após a partida.
Sentimento parecido com o relatado por Geder e Pedrinho 19 anos depois.
- Lembro que o Donizete não acreditava o que estava ocorrendo. A cada gol sofrido, reclamava. Eu, ele e o Taílson morávamos em Camboinhas (bairro de Niterói) e falamos muito daquele jogo - contou Geder.
- Éramos um elenco consolidado e, em muitas partidas, como essa, colocamos os times adversários no bolso. Me recordo também do 4 a 1 no River Plate na Argentina (em 2000 pela Mercosul). O jogo, na época, era muito intuitivo, então, quando as coisas aconteciam ficava complicado para os adversários. O time era técnico, especialmente do meio para frente, os jogadores tinha movimentos próprios e a coisa dava certo quando se tinha harmonia - acrescentou Pedrinho.
A ficha do jogo
Vasco 7 x 0 Botafogo - 29 de abril de 2001 - Maracanã - Taça Rio
Vasco: Helton, Maricá, Geder, Odvan e Jorginho Paulista; Fabiano Eller, Paulo Miranda, Juninho Paulista (Zada) e Pedrinho (Viola); Euller (Dedé) e Romário.Técnico: Joel Santana.
Botafogo: Alex, Gustavo (Walmir), Bruno, Valdson e Augusto; Marcelinho Paulista, Cléber, Rodrigo e Serginho (Misso); Taílson e Donizete (Geraldo).Técnico: Dé.
Gols: 1º tempo: Romário, aos 50s; e Juninho Paulista, aos 15m e aos 35m; 2º tempo: Juninho Paulista, aos 3m; Romário, aos 14m; Pedrinho, aos 20m; e Euller, aos 33m.
Cartões amarelo: Donizete, Cléber, Marcelinho Paulista, Paulo Miranda e Pedrinho.
Árbitro: Carlos Manoel Calheiros
Público e renda: 18.692 presentes / renda não divulgada.
Fonte: GloboEsporte.com