Ricardo Rocha relembra histórias da Copa do Mundo de 1994
Segunda-feira, 27/04/2020 - 11:31
Um dos líderes da seleção tetracampeã mundial em 1994, o ex-zagueiro Ricardo Rocha relembrou histórias da conquista em entrevista ao podcast Embolada. Cotado para ser capitão e protagonista nos bastidores, ele correu o risco de ser cortado no início da campanha, por conta de lesão, mas teve a permanência bancada pelo restante do grupo. E ele usou seu vasto repertório de histórias e compartilhou algumas delas em pouco mais de uma hora de conversa.

- Tava quente demais. Eu me recordo que Romário disse: "Tu vai beijar o chão?". E eu disse: "Vou". Aí ele: "Vai queimar não?". Aí falei: "Vai". Na época a gente tinha o melhor (cirurgião plástico) do mundo, Ivo Pitanguy, né? Falei: "O Pitanguy dá um jeito". Fui lá, beijei igual ao Papa. Aquilo ficou lindo - disse no podcast, com a participação especial do jornalista Chico José, que participou da cobertura da conquista (escute abaixo, na íntegra).



Permanência bancada pelo grupo após lesão

Ricardo Rocha participou pouco daquela campanha dentro de campo. Titular absoluto, acabou se lesionando na estreia, contra a Rússia. O fato gerou reações dentro do elenco e emoções fortes no ex-zagueiro.

- Fiz uma ressonância no outro dia e pensei que seria cortado. Porque não tem como ficar. Eu poderia ficar bom para o último jogo e os jogadores me chamaram, junto com Parreira, e disseram: "Você vai ficar". E eu tive medo. Acho que é a primeira vez que falo isso. Falei: "Gente, nós temos três zagueiros (Aldair, Márcio Santos e Ronaldão). Se machuca mais um vamos ficar só com dois. Era o início da Copa do Mundo. Então não tem como você ficar numa situação que pode prejudicar vocês.

Apesar do receio de Ricardo Rocha, o elenco fechou com ele. E reforçaram a importância dele continuar, mesmo se fosse necessário outros jogadores fazerem sacrifícios.

- Eles falaram: "Não, você foi importante e vai ficar. Se precisar, Dunga vai pra zagueiro, Mauro Silva... Se não tiver outro zagueiro, claro, mas a gente quer você." Chorei muito quando tive a lesão porque me preparei muito para essa Copa do Mundo, que era minha última. Mas o que acontece, os jogadores conversaram mais uma vez comigo. Romário me chamou, Parreira me chamou. E acordei no outro dia um "outro Ricardo". Se não dá pra ajudar dentro de campo, vou fazer de tudo fora de campo.

Sondagem para jogar a decisão

O ex-zagueiro contou em detalhes a conversa que teve com Parreira antes da final da Itália. Por conta de uma fisgada sentida por Aldair, Ricardo Rocha, já recuperado, foi para o banco de reservas. E chegou a ser sondado para entrar de frente.

- Parreira veio em mim e falou: "Fera, como você está?". Falei: "Professor, não estou 100%, voltei a treinar faz dois dias só". Aí ele me falou: "É porque Aldair está sentindo". A conversa foi essa. Ele e Zagallo (assistente técnico). "Aldair está sentindo e talvez eu pense em colocar você pra jogar". E eu fui muito claro: "O Ronaldão tá melhor fisicamente do que eu. Mas se precisar, é uma final, fica tranquilo". E foi isso que aconteceu. Fui no Aldair e perguntei: "Velho, como você está?". Ele falou: "Ricardo, eu tô bem, tô sentindo uma fisgadazinha, mas eu devo ficar pronto pro jogo. Aí falei: "Velho, pode ter prorrogação, tudo...". Aí ele: "Ricardo, vou dar o máximo, acho que dá pra jogar. Fica tranquilo". Aí falei: "É bom saber". Porque você tem que se preparar psicologicamente.

Força do esquema tático

Ricardo Rocha afirma que as reprises dos jogos de 1994 são importantes para tirar uma imagem errônea que ficou da seleção brasileira que conquistou o tetra: de que tniha futebol pragmático e fraco tecnicamente. Ele ressalta que o grande valor daquele time foi a aplicação tática do esquema montado por Parreira. E os jogos estão aí para provar.

- Vendo algumas reprises de alguns jogos de 1994, antes de chegar esse da final, muitos amigos me chamaram e falaram: "Ricardo, é impressionante como a seleção de vocês foi injustiçada. Passaram uma ideia pra gente que vocês ganharam, mas era tecnicamente muito fraca. E não foi isso que a gente viu nos jogos". O que vocês (Globo) estão fazendo, da reprise, é muito bom, pois começa a ter uma ideia diferente da nossa seleção - disse, antes de completar.

"A gente ia jogar na final contra uma equipe muito defensiva e taticamente considerada os melhores defensores da Europa e do mundo, os italianos. Todos os jogos, nenhuma equipe conseguiu ser melhor que a seleção brasileira na Copa do Mundo".



Fonte: GloboEsporte.com