Carlos Alberto relembra episódios da carreira e passagem pelo Vasco
Sábado, 25/04/2020 - 00:36
Quando os ídolos apareciam na televisão, era com declarações fortes e sinceras. Personalidades marcantes eram a regra no fim dos anos 80 e início dos 90, quando o nosso personagem crescia. E essas talvez sejam justamente as características que o jovem Carlos Alberto mais guardou. Sincero, fala o que vem na cabeça sem ponderar o que foi dito vai ser aprovado. "Mas e o julgamento das pessoas?". Nada tira o sono do agora comentarista do Fox Sports.
Mais que isso. Carlos Alberto parece ter ojeriza ao comportamento 'café com leite' adotado por quase todos os jogadores de futebol da atualidade. Treinados desde cedo pelos assessores de imprensa, eles fogem de polêmica e perdem a oportunidade de mostrar quem realmente são.
E isso é uma das prioridades de Carlos Alberto. Ame ou odeie, o ex-jogador sempre fez questão de deixar tudo claro. As perguntas mais difíceis de serem feitas por um repórter em uma entrevista são encaradas com a habilidade que mostrava ainda dentro de campo. Ele tem uma capacidade de transformar crítica em algo positivo.
"Para tu ver como eu era pica. Eu bebia, fumava e fazia outras coisinhas mais e chegava no campo e corria. Hoje em dia, os caras não fazem porra nenhuma e não têm sangue pra correr", disse em entrevista especial ao UOL Esporte.
Carlos Alberto sabe exatamente o que suas palavras podem causar. Ódio de alguns boleiros? Provavelmente. Mas isso não importa. Há uma legião de seguidores que estão ali justamente para ouvir esse tipo de opinião. Julgado nos tempos de atleta. Julgado novamente com o microfone ligado.
Eu só vou parar de ser julgado quando eu morrer. Aí, eu acho que vão ter mais homenagens pra mim, porque em vida ninguém faz. Quando o cara morre, começa homenagem pra lá, pra cá. Eu sou feliz, cara. O importante é isso".
Assista à entrevista de Carlos Alberto
A polêmica do jogador que fuma
O árbitro apita o fim do primeiro tempo, e os jogadores seguem para os vestiários, onde vão descansar e se preparar para a etapa complementar. Carlos Alberto tira a camisa suada, senta em um banco e abre um pacote. A chama do isqueiro queima o papel e o fumo, libera as substâncias do cigarro que rapidamente entram no sangue do jogador.
O sentimento de paz e tranquilidade se reestabelece. Carlos Alberto, agora, está pronto para voltar a campo e disputar os 45 minutos finais do duelo. Por mais que pareça uma fanfic a história acima é real. E acontecia em todos os jogos em que o ex-jogador estava escalado.
Essa prática é um tabu entre os jogadores, que têm o próprio corpo como ferramenta de trabalho. Fumar cigarro, no entanto, está bem longe de ser algo raro. Muitos atletas compartilham desse hábito, mas o mantém em sigilo para evitar maiores problemas. Até mesmo Carlos Alberto o fazia com descrição.
"Teve um dia que um cara perguntou pra mim: 'Pô, tu fumava quando jogava?'. Eu comecei lá em Portugal. Eu e uma porrada. Eu e um monte. Hoje em dia, eu fumo menos. Inclusive, é uma coisa que eu quero parar. Isso, realmente, não é legal. Não é legal pra quem segue uma carreira que depende do seu próprio corpo. Mas, fazer o quê? Nunca escondi isso de ninguém, não, tá? Todos os lugares, todo mundo sabia", disse.
"Eu não escondia, não. É lógico que a gente não fazia isso com muita transparência, em qualquer lugar. A gente tomava alguns cuidados. Você vê que outros jogadores aí também fazem, e são vários. Eu não vou falar quem faz, cada um fala da sua vida. Porra, era o meu momento de eu dar uma relaxada, à noite, na concentração. Quando eu não conseguia dormir, eu falava: 'Pô, eu vou fumar um cigarrinho'. O Zidane fuma. Outro dia saiu o Ronaldo Fenômeno. Eu estou falando dos que saíram, por isso que eu tô falando. Os que nunca falaram, que são enrustidos, eu não vou falar, mas tem um monte aí, também, que bebe na concentração, faz os caralhos", completou, com a sinceridade que lhe é peculiar.
Na balada mesmo
Além do cigarro, outro tabu entre os boleiros são as baladas. A maioria vai, mas ninguém gosta de admitir. Para Carlos Alberto isso nunca foi um problema. O auge nesse sentido ocorreu no Corinthians, quando até dividia festas com o então diretor Andrés Sanchez.
"Ele me encontrava lá. Eu não precisava de ninguém me levando, não. Eu mesmo ia, sozinho. Eu não gostava que ninguém me caguetasse. Porra, quando nego chegava pra pensar em me caguetar, eu já falava: 'Saí ontem, tô fodido. Eu vou ficar deitado, aqui, na maca'. Era resenha normal de balada, de noite. Mas no outro dia era profissional", revelou.
Anos depois, dessa vez com a camisa do São Paulo, as noites seguiam longas. Foi nessa época que ampliou sua amizade com Adriano imperador. Em uma dessas baladas, se envolveu em confusão com o lateral esquerdo Fabio Santos, outro companheiro de equipe.
"Porra, por incrível que pareça, o Fábio é um amigaço que eu tenho. O pessoal fala que a gente saiu na porrada. Pelo contrário. No dia, chegou eu, ele e o Adriano travado na concentração. A gente tinha tomado alguns danones. Vários, por sinal. A gente não queria deixá-lo ir embora. Ele, naquela coisa de ir embora, tirou o relógio, tacou. Ia pegar no Adriano, o Adriano abaixou e pegou em mim. Foi a única coisa que aconteceu. Um relógio que ele atirou na hora que ficou nervoso. Eu o levei em casa e, mesmo assim, fomos afastados do elenco. A verdade é essa. Quem falar coisas diferentes disso, é mentira", lembrou.
Apesar da leveza que trata o assunto, Carlos Alberto admite que as baladas podem prejudicar e muito os atletas de hoje em dia. Ele lembra que há uma clara diferença no futebol praticado há alguns anos e atualmente está mais complicado de ter essa vida dupla.
"Hoje em dia, atrapalha pra caralho. A época mudou muito. Hoje em dia, o cara tem que ser muito mais atleta. Não que eu não tivesse sido e os jogadores da minha época não foram. Todos eram atletas. Mas hoje a exigência tá muito maior. Mesmo nas férias, hoje em dia, o cara vai pra casa com um padrãozinho de treinamento que ele tem que fazer. Na minha época, ninguém ia fazer. Hoje em dia, pra você ver, o cara tem que chegar num nível de musculatura, de padrão físico pra ele começar a ser introduzido numa pré-temporada".
Três celulares para duas orelhas
Uma das principais críticas de Carlos Alberto é sobre o comportamento dos jovens. Segundo ele, os garotos já sobem para os profissionais extremamente valorizados pelos clubes e não dão muita importância para os mais experientes, com quem deveriam aprender muita coisa.
"O cara chega para o profissional com três telefones celulares, mas só tem duas orelhas. Já ganhando um salário que, na época, a gente tinha que bater meta de tantos gols, tantos não sei o quê, tantas convocações na seleção de base, tantos jogos no profissional para renovar o contrato. Quando eu subi pro profissional, nem carro eu tinha", disse.
"Hoje, já sobe com um salário que, provavelmente, quem tá cursando uma faculdade vai começar a ganhar parte só com seus 36, 37 anos. O jogador de futebol ganha dinheiro antes da maturidade. Essa pessoa que tá maturando numa faculdade tá se preparando pra ganhar dinheiro. Por isso, ele [o jogador] tem que administrar bem esses ganhos pra não ter dificuldades no futuro. Passa muito rápido", completou.
E muito disso se deve á relação com os empresários, que definem o rumo da carreira de seus atletas. Carlos Alberto entendeu isso ainda em campo. Passou a comandar sua própria vida, sem depender de ninguém. Segundo ele, outros atletas deveriam fazer o mesmo.
"Eu. com 26 anos, já não tinha mais o empresário. Eu já fazia essa gestão da minha própria vida. Jogador de futebol tem que entender que o empresário nada mais é do que um funcionário. Não é o empresário que tem que ditar o que você tem fazer... É óbvio que o empresário tem o seu papel, não tô desmerecendo o segmento, mas, hoje em dia, se inverteram muito os papéis. Se o jogador botar na cabeça que se ele não jogar não existe empresário, as coisas vão mudar de padrão. Eu vejo muita gente invertendo esse processo".
Como Mourinho o tirou do Fluminense
Fevereiro de 2003, Carlos Alberto se preparava para fazer uma prova no colégio. Antes de se sentar na carteira, foi chamada pela professora, que deu um aviso. O Fluminense havia entrado em contato com a diretoria e solicitado sua presença. Dois dias depois, ele usou a camisa 10 do Tricolor em sua estreia como profissional diante do Flamengo, o maior rival.
O apoiador aproveitou (e muito bem) a oportunidade. Foi titular e decisivo. Além de marcar um gol, participou diretamente de outro. Uma vitória por 3 a 0 e que mostrou quem viria a ser Carlos Alberto. Pelo Fluminense, foi apenas uma temporada. E que temporada. Foi titular em quase todos os 39 jogos que disputou e balançou a rede em sete oportunidades.
Foi neste momento, também, que Carlos Alberto mostrou seu lado polêmico. Ainda com 19 anos, o jovem apoiador era visto com certa frequência na noite carioca. "Foi um início avassalador, foi muito rápido. Eu falo para algumas pessoas mais próximas que, do dia pra noite, eu não existia pro futebol e aí me botam no Maracanã, dão a camisa dez... Você vai e faz um gol contra o Flamengo. Aí, você passa existir, passa ser cobrado, você passa a ser julgado".
"Às vezes, eu me pergunto: será que me prepararam pra tudo isso? Será que cumpriram essas etapas todas comigo? Eu vejo o mundo te julgar muito, querendo que você tenha educação, que você se comporte bem. Então, se você parar pra analisar com 20, 22 anos, o jogador de futebol ainda é uma criança, ele é um menino para vida. Aí, você comete erros, comete falhas, mas nada que fuja da normalidade. Eu acho que os acertos e os erros me fizeram chegar até aqui, onde eu estou", disse.
Nesse cenário, o futebol europeu bateu em sua porta. Carlos Alberto encaminhou sua ida ao Benfica, mas foi nesse momento que José Mourinho cruzou seu caminho pela primeira vez. O técnico português estava no Porto e não deixaria a mais nova joia brasileira ir para o maior rival sem brigar. Ele havia se encantado dias antes ao ver um jogo do São Paulo — ele estava no estádio para analisar Ricardinho.
"Eu acho que eu caí no lugar certo, na hora certa. Pouca gente sabe, eu ia pro Benfica. O Mourinho me viu jogar aqui contra o São Paulo, no Morumbi. Ele veio pra olhar o Ricardinho, que já era pentacampeão do mundo, e eu um garoto. Eu joguei muito bem nessa partida", disse.
"O Marcão tinha me falado antes do jogo: 'O Mourinho tá aí'. Eu falei: 'Pô, esse cara tem que me levar. O Ricardinho tá com a vida ganha'. Deu tudo certo. No meio do ano, fui comprado por um grupo de investidores. Na época, o Banco Espírito Santo. Quando acabou o Campeonato Brasileiro, eu viajei pra Portugal. Quando eu cheguei, fui até no hotel dos jogadores do Benfica. Eu acho que eu nunca falei isso publicamente. É a primeira vez. Meu empresário da época falou: 'Cara, eu acho que tu não vai ficar no Benfica, não. A gente vai pro Porto'. No outro dia, eu embarquei pro Porto e aí foi a história que todos vocês sabem. Se não tivesse tomado uma decisão ali, não teria tido todas essas conquistas que eu tive. Eu tinha que ter ido pro Porto. E aconteceu o que aconteceu", completou.
No Porto, novo começo avassalador. Foram apenas 39 jogos no total, mas o suficiente para ganhar o Campeonato Português, Copa de Portugal, Liga dos Campeões e Mundial.
"Eu joguei seis finais naquele ano. É uma coisa muito difícil de se fazer num futebol competitivo de hoje em dia. Sem falar que o Porto não era uma das principais equipes da Europa, como não é até hoje"
"Eu digo pra muita gente: ganhar Liga dos Campeões é difícil. Ganhar com Madrid, Barcelona, Inter de Milão, Manchester, ... São equipes mais prováveis. Agora, ganhar com o Porto, tem que valorizar ainda mais. Não tem investimento como essas equipes"
"Eu lembro que o orçamento de todo o nosso elenco era a metade de uma contratação daquele time dos galácticos do Real Madrid. Ou seja, 10% de verba. O Barcelona gastava, mas é você o campeão. Acho que tem que ser muito valorizado"
"[Mourinho] me botou pra jogar de trinco, que é volante. Eu não entendia nada: 'Porra, esse cara me contratou e eu jogava do meio pra frente, às vezes, jogava até de atacante'. Eu fiquei jogando alguns jogos nessa posição. Só marcando, só porrada. Às vezes, queria pegar a bola e driblar, ele me tirava. Ele falava: 'Essa função não é pra você driblar. É pra você combater. É pra você pelear com os adversários'. Depois, no jogo contra o Manchester United, ele me põe na minha posição. 'Agora, você arrebenta com o jogo. Eu te preparei sem a bola. Com a bola, você já sabia. Eu não preciso te ensinar a jogar a bola. Só precisava te adaptar na educação tática que eu tenho pra equipe'. A gente não é tão educado taticamente, quando chega na Europa. Por isso, muito jogador vai e vem".
Preferiu o Corinthians a Atlético de Madri ou PSG
Após ser o jogador mais novo a faturar a Liga dos Campeões, aos 19 anos, seria normal que um gigante europeu fizesse proposta por Carlos Alberto. Em busca de uma valorização financeira, porém, o jovem apoiador não pensou duas vezes quando o Corinthians ofereceu um contrato milionário. A grana era tanta que superou as ofertas de Atlético de Madri e PSG.
"Era um caminho natural, só que o futebol não estava como hoje. Atualmente, você tem muitos gigantes, e você tem muitas equipes que têm parceiros financeiros. Mas eu vim para um gigante. Eu saí do Porto e vim pro Corinthians, que tinha a MSI. Só dessa forma que eu teria condições de voltar ao Brasil, porque me pagava até mais do que eu ganhava na Europa. Eu tive outras opções. Eu tive o Atlético de Madrid e o Paris Saint-Germain, que não eram como hoje. Eu ia trocar o Porto por uma dessas equipes, na época. Mas eu não me arrependo das escolhas que eu fiz, não", disse.
Ele, inclusive, diz que não sente nenhuma frustração com o fato de não ter jogado por um Real Madrid ou Barcelona. Segundo Carlos Alberto, sua carreira foi vitoriosa do jeito que tudo ocorreu.
"Mas tem uns babacas ainda que falam que eu tive sorte na vida. Eu fico: 'Puta que pariu, velho. Eu joguei quase 20 anos. Vinte anos de sorte? É sorte pra caralho'. Às vezes, tu vai entender o porquê que as pessoas tentam depreciar os teus feitos. Um dia, eu brinquei com um cara que veio me entrevistar, que eu não vou nem citar o nome. Eu falei: 'Sabe o que vou fazer? Eu vou jogar na Mega-Sena e no bicho pra ver se eu tenho tanta sorte assim. Tá arriscado eu ganhar, velho'. Eu tive algum mérito. Mérito eu tive porque chegar na Europa, jogar em equipes assim, os títulos que eu ganhei no Brasil. Não foi pouca coisa, não. Saindo de onde eu saí. Eu saí lá de Caxias, sem apoio, sem nada. Na época, nem chuteira. Eu vejo tanto cara que jogou em clube maiores que o Porto, na Europa, e não ganhou uma Liga dos Campeões, por exemplo, não tem um Mundial de Clubes", finalizou.
A briga com Tevez
O relacionamento entre atletas nem sempre é bom. Quando o time é formado por estrelas, então, a chance de alguns desentendimentos acontecerem é bastante real. Foi justamente o que aconteceu no Corinthians de 2005. Após poucos meses de boa convivência, Carlos Alberto e Tevez, dois dos principais jogadores do elenco, brigaram feio em um treinamento.
"A gente até frequentava alguns ambientes juntos. Depois, essa relação começou a desgastar. Se deu num rachão. A gente teve uma discussão. A gente era moleque, também, tudo com 20 anos. Ele se destemperou e acabou me cuspindo, quase pega no meu rosto, pegou aqui [aponta para o pescoço]. Aí, nós fomos pra porrada [risos]", lembrou.
"Cada um tem as suas afinidades dentro de um grupo de trabalho, isso é normal. As pessoas, hoje em dia, deturpam muito essa situação. 'Ah, o fulano não fala com sicrano'. Eu tomo cerveja, o cara bebe leite. Eu não sou obrigado a beber o leite dele. Eu gosto de ir pro pagode, o cara gosta de rock. Eu gosto de samba, o cara gosta de pop. São gostos e individualidades que a gente tem que respeitar", completou.
A briga começou no treino e terminou no treino. Por mais que a amizade tenha ficado abalada, havia um compromisso com o Corinthians. E isso se manteve bem estruturado. "Era uma relação de respeito mútuo", explicou. Mas é possível dividir espaço com alguém com quem você trocou socos há pouco tempo?
"Eu lembro que no dia seguinte após essa briga teve um jogo. Todo mundo preocupado se ele ia passar a bola pra mim, se eu ia passar a bola pra ele, e a gente se entendeu muito bem dentro do campo, que é isso que o jogador de futebol tem que pensar. Tem que funcionar dentro do campo. O que cada um faz dali por diante, se um vai, na hora do culto evangélico, na casa do outro, qualquer ritual religioso, isso é problema de cada um. Tanto que eu fiz um gol com passe dele", disse.
Carlos Alberto foi além. Tevez não foi seu único desafeto. "Tu acha que eu gostei de todo mundo que joguei, que eu levava todo mundo pra minha casa? Eu falava: 'Esse cara aí é um filho da puta fora do campo, mas eu preciso dele dentro do campo'. Então, eu sempre fui muito focado em relação a essas coisas", finalizou.
As polêmicas de Carlos Alberto
Carlos Alberto é sinônimo de sinceridade. Em quase duas horas de bate-bapo, não se recusou a responder nenhuma das perguntas. Até mesmo uma série de lendas urbanas que envolviam seu nome. Lendas urbanas? Nada disso. O ex-jogador confirmou todas as resenhas. Até as polêmicas.
Doping no Vasco: "um ano que me mataram"
Em 2013, Carlos Alberto foi condenado por uso de substâncias ilegais e ficou um ano sem poder jogar bola. O assunto claramente o incomoda até hoje, mesmo que em menor escala. Na época, ele pensou até mesmo em encerrar a carreira por se sentir injustiçado. "Foi uma suplementação que o Vasco me deu, um ano que me mataram. Pensei em parar, óbvio. Foi uma injustiça muito grande que cometeram comigo".
"Neymar precisa trazer mulher do Brasil?"
Neymar virou ainda mais o centro das atenções em 2019, quando foi acusado de estupro por Najila Trindade, modelo que viajou para Paris bancada pelo craque. O caso ainda aguarda seu desfecho, mas Carlos Alberto confessa que não consegue entender o camisa 10 da seleção brasileira.
"Pô, não tem mulher na França, não? Você tá entendendo? A mulher que se presta a um papel desse, ela denigre as outras mulheres. Na verdade, ela foi pra se prostituir. Essa é a verdade que ninguém fala. O português claro é esse. Essa garota foi pra se prostituir e, depois, ela quis denegrir a imagem de um cara que é um ídolo e tentar dar um golpe nele. Ela foi desmascarada e, inclusive, vai responder por isso. Se eu fosse ele, solteiro, na França, eu procuraria uma mulher na França. Assim como eu, nas minhas épocas, procurei em outros lugares. Eu tinha 19 anos, né, velho. Aproveitei bem. Eu fui artilheiro. Não cheguei no nível do Renato Gaúcho, mas eu desmaiei gente (risos)".
Apagou Pimpão
Um dos líderes do elenco do Vasco, em 2010, Carlos Alberto se envolveu em uma polêmica na época. Uma briga com o companheiro Rodrigo Pimpão vazou e o assunto foi tratado internamente. Os detalhes só foram revelados pelo ex-jogador agora.
"Apaguei ele, mas não foi uma brincadeira de chão, não. Foi um boxe mesmo que eu dei nele, no pé do ouvido. Ele chegou apelando comigo, me mandou tomar no c..., me xingou pra caral.. de uma porra lá, de um negócio, aí perdi a cabeça. Hoje em dia, eu me dou superbem com o Pimpão. Eu falei, é coisa da idade. Ele me perdoou e eu o perdoei também. A gente se dá bem, se encontra."
Fluminense, Vasco, Botafogo e Flamengo
"Posso te falar de coração? Eu fiz até uma analogia com os times do Rio. Até falei isso e nego riu. Tem gente que me criticou, mas eu não estou muito preocupado com quem me critica, porque esse cara que me critica não me pede opinião pra me criticar, então, caguei pra o que ele pensa. Eu fiz uma coisa assim: o Fluminense foi a minha mãe, que me pariu. O Vasco foi a mulher com quem eu me casei, com quem tive os meus filhos e tudo mais. O Botafogo foi um affair e o Flamengo é a piranha gostosa que eu não comi. Foi bem assim, bem prático e objetivo (risos)"
Nova fase em frente às câmeras
As polêmicas de quando jogava futebol seguem acompanhando Carlos Alberto agora em nova armadura. Comentarista do Fox Sports, mantém a autenticidade. Doa a quem doer. Se um companheiro de mesa falar uma besteira? O ex-jogador não tem a menor dúvida que fará a cobrança no mesmo momento.
"Eu vou dentro. Se não for verdade, eu vou discordar na hora. Pode ser quem for. Lá, a gente tem várias discussões, mas discussões positivas. Não é por conta de deslealdade, não. É por conta de, às vezes, um não concordar com o raciocínio do outro. Isso é normal em qualquer empresa, qualquer família, qualquer segmento. Às vezes, a gente tem uns entreveros no ao vivo, mas nunca aconteceu de ter uma informação desleal. Aquelas pessoas que trabalham comigo nem tem esse perfil, mas tanto da minha parte, quanto da deles, isso nunca vai acontecer. A gente preza pela lealdade. Sendo leal, você tem o respeito das pessoas", disse.
Enquanto jogava bola, Carlos Alberto teve alguns problemas com jornalistas. Curiosamente, foi justamente o lado que escolheu após pendurar as chuteiras, o que surpreendeu muita gente. Ele, inclusive.
"Eu tive convite de outras emissoras. Aí, eu conversei com uma pessoa: 'Porra, tu leva jeito, tu tem história, tu tem propriedade pra falar, tu é um cara inteligente, bem articulado'. Foram ingredientes que me fizeram tomar essa decisão. Existem algumas empresas que são quadradas, que eu não vou citar nome. A Fox é uma empresa mais informal, mais casual, que a gente tem mais liberdade pra trabalhar. Mas nunca imaginei que viraria comentarista. São coisas que a vida nos leva pra alguns caminhos que você tem só que se preparar. Já que eu estou entrando numa coisa nova, vou ter que me preparar pra tentar fazer da melhor forma", afirmou.
As polêmicas continuam como quando disse que o Real Madrid não ganharia a Série B do Brasileiro. "As coisas que eu falo não são pra qualquer um. Eu falo pra pessoas inteligentes. O cara que é cabeçudo não vai entender mesmo. Eu não me preocupo que ele vai entender, não. Quem tem um bom discernimento vai entender o que eu quis dizer", completou.
Carlos Alberto empresário
Carlos Alberto nunca vai deixar de ser boleiro. Estilo descolado, perfume exalando e carrão do ano. Sim, mas nem tanto. O ex-jogador tratou de pensar no futuro desde muito cedo. Guardou o dinheiro necessário para fazer suas apostas fora das quatro linhas. Hoje, além de comentarista, também é dono do bar "Padano", na Barra da Tijuca.
"O jogador de futebol já está tendo uma visão melhor sobre isso, até porque a gente tem exemplos ruins. Infelizmente, a gente tem que falar de jogadores que tiveram oportunidades e, às vezes, fizeram escolhas erradas. Então, eu sempre procurei aproveitar muito bem os momentos que eu estava vivendo, que eu sei que aquilo não era pra sempre. Você tenta fazer as escolhas mais acertadas possíveis. Não que eu sou melhor que ninguém. Eu me preocupei com investimentos, com o futuro, com a família. Talvez outras coisas que, pra alguns, eram importante há 15, 20 anos, pra mim, não eram o principal foco", disse.
"Eu sempre procurei na minha carreira buscar estabilizar a vida da minha família. Eu nasci numa situação totalmente complicada, que dificilmente outro menino vai nascer onde eu nasci, com as mesmas oportunidades, e conseguir chegar no mais alto nível em que eu cheguei. Poderia ter ido muito mais além, mas aí é aquele negócio do 'se'. Se o meu avô usasse saia, ele seria a minha avó. Eu sou muito grato ao que o futebol me deu, as oportunidades que eu agarrei. Eu acho que eu fiz o que tinha que fazer. Me diverti, fiz as pessoas se divertirem, marquei o meu nome em alguns clubes e acho que o meu nome tá gravado um pouquinho na história do futebol".