Conhecido por ter marcado de quase todas as formas possíveis, o Rei do Futebol viu um belo lance em que tentou encobrir o goleiro da Checoslávia na Copa de 1970 ser batizado de "O gol que Pelé não fez". No time de coração do Atleta do Século existe o "gol que Amaral não fez". O carismático e guerreiro volante por pouco não fez o que seria o sexto do Vasco no histórico Chocolate da Páscoa em 2000, contra o Flamengo. E seria um golaço, também de cobertura (veja em vídeo no topo da matéria). Não foi, a bola bateu no travessão, e o placar ficou em 5 a 1.
Diferentemente de Pelé, Amaral fez pouquíssimos gols na carreira. Seu forte era a marcação, virtude que o levou à Seleção. À época, aos 27, somava apenas dois como atleta profissional. Hoje, já aposentado, não voltou muito às redes adversárias, mas segue artilheiro quando o assunto é arrancar gargalhadas.
Perguntado se aquela bola entrasse, os gols de Romário e as embaixadinhas de Pedrinho seriam ofuscadas, Amaral disparou:
- Eu não lembrava desse lance sinceramente. Depois que os caras mostraram para mim, falei: "Caramba, será que fui eu mesmo ou a minha sombra?". Seria um golaço, mas foi uma jornada histórica, onde o Eurico Miranda mandou fazer mais de 40 mil ovos de Páscoa.
Aquele Vasco x Flamengo faz Amaral recordar o tempo em que os estaduais tinham maior relevância dentro do calendário nacional.
- E o mais legal disso é que antigamente os clubes davam maior valor ao estadual, às vezes tinha mais valor do que o Brasileiro. Hoje não dão muita importância. As grandes conquistas de Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense sempre têm Taça Guanabara, Taça Rio. Davam tanta importância que você via os estádios lotados. Nessa tarde você tinha quase 60 mil no Maracanã.
Confira outros tópicos da conversa com o carismático Amaral:
Como era conviver com a briga entre Romário e Edmundo?
Jogar com Romário e Edmundo foi uma satisfação imensa para mim. Só que tinha aquela divisão. Às vezes eles não se falavam, mas em campo os dois tinham uma união tremenda, a gente não pode esquecer disso.
Teve até um jogo que eu eu olhei para o Romário, toquei para o Edmundo, e o Romário me xingou. Peguei uma bola livrinho, ia tocar para o Edmundo e toquei para o Romário. O Edmundo ficou doido comigo. Aí os dois pediram "aqui, toca para mim", e eu mirei e chutei para o gol. A bola subiu, foi para fora do estádio (risos). Os dois falaram que eu tinha que roubar e entregar para eles. Aí respondi: "Só chutei uma, eu tenho crédito". Aí os caras deram risada.
Quem era o mais engraçado daquele elenco do Vasco?
Acho que o mais engraçado dali era eu, quebrava para caramba. Eu tinha patrocínio da Mizuno, aí eles me mandaram uma chuteira. Quando chegou para mim, a chuteira era vermelha, e o Eurico Miranda viu na rouparia e disse: "Pô, de quem é essa chuteira aqui?". Aí o Eurico me chamou, estava tendo uma palestra do Abel, e ele me chamou. O papo foi assim:
- Que foi, seu Eurico?
- Que cor é a sua chuteira, Amaral?
- É preta.
- Mas que chuteira vermelha é essa que chegou aqui para você?
- A Mizuno vai lançar.
- Aqui não vai lançar nada, não. Pode pintar de preto.
- Poxa, seu Eurico, se eu pintar de preto com tinta ela vai ficar dura porque é cor de canguru.
- Não quero saber, bota então no abacaxi que vai amolecer.
E desde quando abacaxi amolece chuteira, Amaral?
Abacaxi amolece carne. Falei que era chuteira de canguru e que ia ficar dura. Ele falou para botar abacaxi porque é ácido e amolece a chuteira.
E como era sua relação com o Eurico?
Para mim, o Eurico Miranda foi um dos melhores presidentes que eu tive. Me respeitava bastante. Ele olhava para mim e falava: "Você, eu não vou atrasar porque está correndo". Quando saí para a Fiorentina, me pagou certinho e me agradeceu. Depois de anos que eu não entrava em São Januário, me recebeu de forma magnífica.
Presidente que confiou em mim, acreditou na minha contratação juntamente com o Pedrinho Vicençote, e eu não vinha jogando no Corinthians. Para você ver, fui escolhido o melhor jogador daquela final do Mundial (Vasco x Corinthians) tendo Romário e Edmundo, jogadores que têm muito mais qualidade do que eu. Gostoso quando você tem um treinador ou um presidente que confia em você.
E tem alguma outra história bacana no Vasco?
Tem o gol que eu fiz no Vasco de cabeça (na goleada por 6 a 1 sobre o Olaria, em 13 de maio de 2000 - veja acima). Romário falou para mim: "Amaral, agora comigo você corre certo. Eu te consagrei quando te dei elástico no Corinthians e Flamengo. Hoje dei um passe para você fazer o gol de cabeça".
Eu falei: "Pô, você não deu passe não. Você foi chutar no gol de bico, a bola levantou, e eu cabeceei". Ele falou que fez o passe. Se você procurar na internet, consegue esse gol que eu fiz de cabeça.
E o Luís Roberto narrou Fabiano no seu único gol pelo Vasco...
Outro que errou. Luís Roberto me chamou de Fabiano. Quando eu fiz gol (pelo Palmeiras), o Galvão Bueno errou. Falou "Alex toca para Paulo Isidoro e é gol". Agora o Luís Roberto de novo. Vou falar para o Luís quando eu encontrá-lo: "Você me confundiu com o Fabiano, meu! Ele é branco!". E olha que o Luís Roberto estava no estádio (risos)...
Fonte: GloboEsporte.com