Abertura ou não das sedes do Vasco na Sexta-feira Santa foi motivo de polêmica nos últimos anos
Enquanto as sedes dos clubes brasileiros não poderão receber visitas nesta Sexta-Feira Santa por conta do isolamento social imposto pela pandemia de coronavírus, o feriado já foi motivo de polêmica e rusga política nos bastidores do Vasco justamente por conta do funcionamento. Com fortes influências católicas desde a fundação, o Cruz-Maltino sempre procurou respeitar a data. A partir da década de 80, na gestão de Alberto Pires Ribeiro, se instituiu que as sedes vascaínas não teriam atividades neste simbólico dia.
"O Vasco é um clube católico nas suas origens, no seu quadro social. A capela foi construída por um grupo de sócios, foi um presente dos sócios. No dia que houve a missa de exaltação à Nossa Senhora de Fátima, em 2017, a capela foi elevada à condição de igreja, subordinada à paróquia de São Januário", disse, ao UOL Esporte, Henrique Hübner, ex-diretor do Centro de Memória do Vasco.
A medida perdurou durante os anos seguintes, quando o clube esteve sob gestão de Antonio Soares Calçada e Eurico Miranda. Neste período, o elenco, quando necessário, realizava trabalhos em outros locais que não estivessem em alguma das sedes.
Entre 2009 e 2014, durante a gestão de Roberto Dinamite, porém, essa perspectiva mudou e, em alguns anos, atividades chegaram a acontecer em São Januário na Sexta-Feira Santa, o que causou reclamações de grupos de oposição, que apontavam se tratar de uma iniciativa que ia contra as tradições do Cruz-Maltino.
O próprio Eurico Miranda - que integrava o grupo político Casaca -, em mais de uma oportunidade, demonstrou insatisfação com o fato de o Vasco estar em pleno funcionamento na data.
"O clube não abria, mas não quer dizer que os atletas ficavam em casa. Tinham locais que o elenco podia utilizar para treinos, que não fosse dentro do Vasco. O que ficava fechado era o clube, em respeito à Sexta-Feira Santa, para deixar claro que é um clube com tradição católica. Quando o Dinamite, o MUV [grupo político Movimento Unido Vascaíno] assumiu, mudou isso e houve um questionamento porque era uma tradição que estava sendo rompida", lembra Sergio Frias, líder do Casaca e Benemérito do clube, que completa:
"Ficou parecendo que era uma picuinha da gestão que estava chegando. 'Agora, tudo é novo'. Nos pareceu, na época, que foi uma provocação. Queriam mostrar que era tudo novo", acrescenta.
Ao retornar à presidência, em 2015, Eurico Miranda voltou a pôr em prática a suspensão das atividades nas sedes na Sexta-Feira da Paixão. Em 2016, um texto publicado no site oficial do Vasco ressaltava que, apesar de um clube plural, o Cruz-Maltino "possui tradições influenciadas pelo Cristianismo e procura mantê-las".
"O Club de Regatas Vasco da Gama congrega indivíduos das mais diversas religiões e crenças, respeitando a opção religiosa de cada sócio e torcedor. Entretanto, historicamente, por influência de grande parte do seu quadro associativo, o clube possui tradições influenciadas pelo Cristianismo e procura mantê-las de forma harmônica com a diversidade que marca o seu imenso grupo de adeptos", aponta trecho da nota, que tem assinatura da Vice-Presidência de Relações Especializadas, Divisão Centro de Memória.
Com Alexandre Campello, vencedor do pleito de 2017, o CT do Almirante, local usado pelo clube, funcionou nos dois primeiros anos de mandato. Fred Lopes, que foi vice-presidente de patrimônio durante um período da gestão de Roberto Dinamite e vice-presidente de futebol no início da trajetória de Campello como mandatário, ressalta que sempre utilizou o bom senso.
"Sou de família católica e respeito a crença, mas entendo que, em tudo na vida, tem de haver bom senso. Quando eu estava como vice de patrimônio, na gestão do Dinamite, tomando conta do lado social... Calabouço, São Januário, CT de Caxias, do ponto de vista social, minha decisão sempre foi por fechar. Não existia motivo pelo qual abrir. Mas é claro que temos de levar em consideração alguns pontos. Mas comigo, particularmente, nunca houve nenhum problema [em relação às reclamações da oposição]", indicou o ex-dirigente, que completou:
"Para dar um exemplo, em 2018 [na gestão Campello], quando eu estava como vice de futebol, tínhamos um jogo decisivo. O Zé Ricardo [técnico] me ligou e perguntou o que fazia, disse que havia a necessidade de treinar. Fizemos uma avaliação. Se fosse um jogo normal, sem importância... Mas como era um jogo importante, conversamos e tomamos a decisão. Então, liberamos apenas o treino do elenco profissional", revela.
Veja nota na íntegra publicada pelo Vasco, em 24/03/2016:
"O Club de Regatas Vasco da Gama congrega indivíduos das mais diversas religiões e crenças, respeitando a opção religiosa de cada sócio e torcedor. Entretanto, historicamente, por influência de grande parte do seu quadro associativo, o clube possui tradições influenciadas pelo Cristianismo e procura mantê-las de forma harmônica com a diversidade que marca o seu imenso grupo de adeptos.
A Sexta-Feira Santa, também chamada de "Sexta-Feira da Paixão", é a sexta-feira que ocorre antes do domingo de Páscoa, na qual os cristãos relembram a morte de Jesus de Nazaré (o Cristo) na cruz. O feriado da Paixão de Cristo é o primeiro dos três dias que celebram a ressurreição do Messias, de acordo com a doutrina cristã, que se sacrificou na cruz para salvar os seres humanos dos seus pecados.
O Club de Regatas Vasco da Gama, desde a sua fundação, sempre respeitou este feriado Santo. Contudo, na década de 80, quando o presidente era Alberto Pires Ribeiro, e Eurico Miranda (atual presidente) era assessor da presidência, seguindo as tradições do nosso amado clube, instituíram o fim de toda e qualquer atividade do clube nesta data simbólica. A sede de São Januário, as sedes náuticas da Lagoa e do Calabouço, bem como o Centro de Treinamento das categorias de base na Rodovia Washington Luiz, suspendem suas atividades neste dia.
Vice-Presidência de Relações Especializadas
Divisão Centro de Memória"
Fonte: UOL