Flamengo e Vasco protagonizaram nos bastidores há dez anos um capítulo de uma rivalidade centenária. Poucos meses após ser campeão brasileiro pela equipe rubro-negra, o meia Zé Roberto foi contratado pelo clube da Colina.
A história começou em 2009, quando o então jogador do Schalke 04-ALE resolveu deixar a Europa.
"Eu tive dificuldades na adaptação à Alemanha e pedi para passar um tempo no Brasil. Tinham outros clubes interessados, mas quando surgiu o Flamengo ficamos muito felizes. Minha família é quase toda flamenguista, então, foi uma decisão muito fácil de ser tomada", disse, ao ESPN.com.br.
Após vencer o Campeonato Carioca daquele ano, o Flamengo não começou nada bem no Brasileiro. Chegou a estar bem atrás dos líderes, mas chegou ao título em uma arrancada na reta final.
Além de Zé Roberto, a equipe da Gávea tinha jogadores como Petkovic, Williams, Juan, Léo Moura, Ronaldo Angelim, Bruno e Maldonado.
"Nosso elenco era bem diversificado, tinham várias turmas dentro de uma só (risos). Mas todo mundo se gostava e estava sempre junto, ainda mais depois dos jogos. A gente juntava as famílias e íamos para os churrascos na casa do Adriano. Foi muito bacana de se trabalhar, todos procuraram remar para um lado só, o do Flamengo. Entendemos o que era ser campeão pelo clube e foi muito bacana. A convivência era um barato".
Artilheiro do Brasileiro ao lado de Diego Tardelli (Atlético-MG), com 19 gols, Adriano Imperador foi essencial na conquista nacional.
"Nós sabíamos que ele ia resolver para a gente na hora do jogo. Era um cara de extrema qualidade e foi um dos melhores que já atuei do lado. O apelido de Imperador não era à toa, era o nosso porto seguro. ele chamava a responsabilidade e facilitava demais o meu trabalho porque dificilmente perdia gols", relatou.
Após começar na reserva, Zé Roberto foi um dos destaques da equipe rubro-negra, ao balançar as redes por cinco vezes na competição.
"Na reta final do Brasileiro fiz o gol da virada contra o São Paulo no Maracanã. Contra o Corinthians [penúltima rodada do Nacional], também marquei. Lembro muito da última partida quando fomos campeões no Maracanã lotado [Flamengo venceu o Grêmio de virada por 2 a 1]. Foram momentos que não saem da minha memória", recordou.
Troca pelo Vasco
Assim que ergueu a taça do Brasileirão, Zé Roberto precisou voltar à Alemanha porque seu contrato de empréstimo havia acabado. A equipe alemã só aceitaria vendê-lo em definitivo.
"Na época o Flamengo fez de tudo com o Schalke para que eu permanecesse com o Marcos Braz, mas o Schalke tinha trocado de treinador e chegou o Felix Magath. Eu queria ficar no Fla, mas ele pediu para eu voltasse de qualquer maneira. Eles tinham investido em mim, mas minha família não se adaptou à cidade. Fiquei mais cinco meses lá sem eles, mas vimos que não tinha como", relatou.
O meia teve conversas com o Flamengo, que não evoluíram.
"O Schalke me deu um ultimato: ou você sai nas próximas 48 horas ou não volta ao Brasil. Nisso, o Vasco chegou forte com uma boa proposta do [então diretor executivo de futebol] Rodrigo Caetano, que agiu rápido nos bastidores e fui para lá", relatou.
No começo, a troca de Zé Roberto não foi muito bem aceita pelos antigos companheiros de equipe.
"Você quando veste uma camisa esquece do seu passado. Só quer saber do presente e fazer o melhor. Os amigos do Flamengo, como era recente a troca, ficaram todos meios chateados comigo. O Adriano falou: ‘Aqui é a sua casa'. Lembro que estava sem carro e fui até a casa dele e ele não me emprestou o carro (risos). Mas depois todos eles entenderam porque é da profissão. Dos torcedores não recebi xingamentos, mas eles mais falavam que tinha que ter voltado para a Gávea", analisou.
Em pouco menos de um ano na equipe da Colina, Zé Roberto não ergueu taças, mas guardou bons momentos.
"O Vasco é um grande clube, tive um grande prazer de ter jogado e fui feliz da vida para lá. Foi um momento marcante e bacana. Fiz bons amigos e aprendi um pouco sobre a história do clube. Fui muito bem recebido, mas no primeiro treino passei um apuro. O time não estava bem e a torcida invadiu o campo (risos). Mas fora isso não tive problemas", recordou.
"Fiz ótimos jogos contra o Corinthians de Roberto Carlos, Ronaldo eu fiz gole vencemos por 2 a 0. Também fiz o gol mais bonito da minha carreira de fora da área contra o Cruzeiro quando empatamos 1 a 1 em São Januário. Jogar em grandes equipes do Brasil é sempre prazeroso".
Mesmo com a troca entre os rivais, Zé Roberto acredita que não deixou flamenguistas nem vascaínos chateados.
"Sou bem tratado pelos torcedores dos dois times e do Botafogo, que também joguei. Aqui na Bahia ou no Rio de Janeiro. Fico feliz com isso", garantiu.
Vida tranquila na Bahia
Aposentado desde 2015, quando defendeu o Botafogo-SP, o ex-jogador tem vivido com a família na cidade de Lauro de Freitas, na Bahia.
"Eu já estava psicologicamente cansado por causa das lesões e do futebol. Mas foi uma decisão bem tranquila e bem pensada. Vivo uma vida bem tranquila e pacata, do jeito que eu queria (risos). Sou sócio de uma loja de carros, mas não passo muito tempo fora de casa. Meu filho está trilhando o caminho futebol, joga na base do Bahia", contou.
Fonte: ESPN.com.br (texto), Reprodução Internet (foto)