Conheça a história de Juninho, jovem volante que vem ganhando espaço no time do Vasco
A história de Juninho, volante do Vasco, é comum a muitos brasileiros... família com dificuldades financeiras, necessidade de conciliar estudo com trabalho na infância e o sonho de virar jogador de futebol. Há, porém, outro ingrediente no enredo que forjou a união dos Silva, que saíram de Nova Iguaçu em busca de uma vida melhor: Matheus, o irmão mais novo, perdeu o olho esquerdo por conta de um câncer.
Do medo de não curar o caçula à recuperação dele, passando pela mudança a Vargem Grande, no Rio, para ficar mais perto dos treinos de Juninho e até a instalação de uma barraca de doces, na Estrada dos Bandeirantes, o sustento da família. O sofrimento os acompanhou. Sentimento que, após ajudar a formar o homem e o atleta, deu lugar ao orgulho da realização do desejo de uma vida.
Antes de ser destaque na Copa São Paulo de Futebol Júnior e ser promovido ao profissional por Abel Braga em janeiro, Juninho penou. A rotina do garoto era sair de Comendador Soares, bairro de Nova Iguaçu, para treinar no Flamengo. Um trajeto, até o Ninho do Urubu, de três horas. Tempo que era dividido com a escola e a ajuda em casa para complementar a renda: vendia doce em ônibus e CD e DVD na rua e auxiliava em uma padaria.
- Meu sonho sempre foi criar os meus filhos da melhor maneira possível. (Minha vida) foi muito sofrida. Tive de assumir os meus irmãos quando tinha 10 anos de idade. Casei com 15. Eu abdiquei da infância e da adolescência. Sempre trabalhei. Então, quero que eles tenham um futuro melhor do que o meu. Para dar suporte à realização do sonho do meu filho, decidi nos mudar - relembra Alexandre.
A chegada a Vargem Grande era a maneira de estar mais perto dos treinos. Com isso resolvido, Juninho pôde se dedicar melhor ao futebol e aos estudos. O trabalho ficou restrito à barraca de doces montada pelo pai e ocorria no tempo livre: o turno da noite. Durou até 2018 - dois anos antes, o Vasco o havia captado do Volta Redonda.
- Quando viemos para cá, nos mudamos umas sete vezes. A gente não conseguia parar em uma casa certa. Tinha problema com aluguel, era difícil. Mas eu sinto orgulho de ter trabalhado aqui. Não gostava não, era chato. O horário era ruim. Chegava do treino cansado, dormia na barraca. A dificuldade me faz ser mais consciente e fico feliz por tudo o que o meu pai fez por mim. Para eu nunca desistir. Agradeço do meu coração. Levo isso como inspiração. Depois de todo esse esforço, não posso desistir. Tenho de continuar mesmo com dias difíceis - conta Juninho.
Boa parte desse período foi acompanhado pelo problema de saúde de Matheus - filho de Alexandre com Marta, a madrasta de Juninho. Após nascer com uma mancha no olho esquerdo, recebeu o diagnóstico de câncer com pouco mais de um ano. A busca por informação e ajuda resultou em atendimento no serviço público de saúde e posteriormente internação no INCA (Instituto Nacional do Câncer). A decisão médica foi pela retirada do glóbulo ocular e tratamento de radioterapia e quimioterapia.
- Foi muito duro aceitar isso. Tinha a possibilidade de perder meu filho. Vi ele sair do auge para o nada. Vi ele só pele e osso. Ele foi muito forte, hoje é meu combustível - se emociona Alexandre.
- Eu já tinha duas irmãs, uma por parte de mãe. Então, o meu sonho era ter um irmão. Foi muito triste para mim, achava que ele ia perder a visão dos dois olhos. Sempre imaginei que ele poderia ser zoado e sofrer bullying na escola. Então, quero proteger e ajudá-lo financeiramente. Que ele possa ter uma vida melhor - completa Juninho.
Em uma das tantas brincadeiras entre Juninho e Matheus (a irmã Alexandra também participa), surgiu a ideia da comemoração dos gols - a primeira foi feita na Taça BH de 2018, mas ganhou fama mesmo recentemente na Copinha. O caçula gosta de brincar de luta, adora judô. Os dois iam tirar uma foto no celular, e Matheus fez um gesto com um dos punhos fechados. Juninho gostou e decidiu repetir ao vibrar quando mandasse a bola para a rede. Com um detalhe: a outra mão no olho esquerdo, para identificar o irmão.
- Quando eu vi, senti que eu estava bem - diz Matheus.
O menino não lembra da época em que ficou doente e foi internado. E, ao ser perguntado sobre a preocupação sobre como as pessoas o enxergariam por conta de ter extraído um dos olhos, foi lindamente puro:
- Me sinto diferente. Eu ajudo e amo a minha mãe, amo o meu pai. E amo o meu irmão, ele me ajuda. Amo todo mundo. Por isso, sou diferente.
Fonte: GloboEsporte.com