Campello pede afastamento de Roberto Monteiro de Conselho de Justiça no caso da lista de sócios
Acusado de obstruir a apuração do caso da lista de sócios do Vasco, Alexandre Campello pediu o afastamento de Roberto Monteiro da presidência da comissão de justiça. Foi o presidente do Conselho Deliberativo quem indicou os nomes que irão julgar o presidente do Vasco.
Em documento protocolado na secretaria do clube, no fim da tarde desta segunda-feira, Campello alegou que Monteiro é seu inimigo público e declarado e que, portanto, não teria imparcialidade necessária para participar de um conselho que irá julgá-lo. O mandatário ainda solicitou que, caso Monteiro não declare a sua suspeição no caso, o pedido seja apreciado e deliberado por membros do Conselho Deliberativo.
Entenda o caso
A comissão de justiça foi instaurada para analisar o relatório da comissão de sindicância, que apurou uma associação ao clube acima do normal em agosto do ano passado. Encerrado o prazo, o presidente do clube não apresentou a lista de sócios. Por isso, Monteiro nomeou a comissão de justiça.
Caso considerado culpado, fato que necessita de aprovação do plenário do Conselho Deliberativo, Campello pode ser advertido ou suspenso por até 60 dias.
Campello considera a convocação um ato político. Segundo o presidente, ele já disponibilizou por ofício uma sala e um computador para a comissão checar a lista de sócios.
Campello diz que Monteiro nutre "ódio" por ele
No documento, Campello afirmou que Monteiro o considera inimigo e que nutre ódio dele. Tanto que lembra uma frase, feita pelo presidente do Conselho Deliberativo, em reunião do grupo político "Identidade Vasco", em dezembro de 2018:
"Nós somos muito leais. Eu converso com A, com B, com C, com D, mas quero dizer o seguinte, quem me entregar a cabeça do Calabar, vai ter a nossa eterna lealdade".
"Calabar" foi uma alusão a Domingos Fernandes Calabar, um senhor de engenho que se aliou aos holandeses que invadiram o Nordeste contra Portugal. O nome virou uma referência de traição, embora em uma carta dirigida ao governador da capitania, ele tenha afirmado que mudou de lado porque os holandeses queriam implantar a liberdade no Brasil, enquanto portugueses e espanhóis queriam escravizar o país. Ele acabou preso, condenado, e enforcado em 22 de julho de 1635.
A defesa de Campello
Em outro trecho do documento, Campello se defendeu. Alegou ser inverídica a afirmação de que ganhou mais prazo para tal, afinal, entende que ele deveria correr a partir do momento em que foi notificado, ou seja, dia 23 de janeiro - e não quando do protocolo na secretaria, como defendido por Monteiro.
Campello ainda disse que Monteiro teve uma "interpretação divorciada das normas estatutárias" e instaurou a comissão de justiça sem aprovação do Conselho Deliberativo. Por isso, ela seria nula. O presidente do Vasco ainda afirmou que não criou obstáculos para o funcionamento da comissão de sindicância e tampouco desrespeitou os membros dela, afinal, a ata que aprovou os poderes da comissão foi aprovada em reunião no Conselho Deliberativo após o prazo de 30 dias para a conclusão dos trabalhos.
Por fim, com o objetivo de comprovar as alegações, pediu que o vice de comunicações Cláudio Fernandes seja ouvido.
O que diz Roberto Monteiro
O GloboEsporte.com entrou em contato com o presidente do Conselho Deliberativo. Ele se posicionou sobre o tema:
"Ele cita a portaria que pede o "ad referendum" do Conselho, mas ele ficou inerte no dia 29.
Quando foi criada a comissão de sindicância por decisão do Conselho Deliberativo, o único voto contrário foi o dele. Inclusive havia aliados políticos dele, que votaram a favor da comissão. Os nomes são indicados regimentalmente pelo presidente do Conselho Deliberativo. Assim como os vices dele são indicados por ele. Isso é uma competência de cada poder e até hoje nunca houve nenhuma arguição sobre o tema.
Mesmo assim, a comissão de sindicância foi presidida pelo vice do Conselho Deliberativo. Eu até poderia ter sido presidente da comissão, mas não ocorreu. Havia integrantes que eram apoiadores do presidente. Por unanimidade, a comissão deliberou que houve transgressão.
Em nenhum momento, se questionou a deliberação da comissão. Existe o entendimento que de que se poderia ter levado diretamente ao plenário. Mesmo assim, nomeei uma comissão de justiça. Avisamos em novembro, e o "ad referendum" do Conselho Deliberativo se deu em 29 de janeiro.
Nunca houve contestação dos nomes dos integrantes da comissão. Foi feita do ponto de vista de forma paritária.
Ele quer um subterfúgio para criar uma polêmica na defesa dele.
A comissão de justiça não delibera nada, ela recomenda. O meu voto na comissão de justiça, se ele não sabe, só é dado em caso de empate.
Cada pessoa tem um lado político no clube. Isso é normal. Ser adversário política não significa ser suspeito. O processo é político.
Isso me parece mais uma manobra para não dar os documentos. Só isso.
As decisões são colegiadas. Por iniciativa minha, se deu mais prazo. Eu não requeri a investigação. Quem o fez foi o presidente da Assembleia Geral. Eu não me sinto sob suspeição. Quero ser bem claro: eu, como presidente do Conselho Deliberativo, poderia estar atuando em mais coisas. Atuando em mais situações desagradáveis, mas não as faço para não politizar mais o cenário.
Se ele entende assim, deveria buscar as medidas judiciais que vão melhor lhe amparar. Não entendo que haja razão para a suspeição."
Fonte: GloboEsporte.com