Torcedor do Vasco do Piauí realiza o sonho de conhecer Fernando Miguel em São Januário
Domingo, 02/02/2020 - 13:14
Tudo começou com um vídeo postado na internet. José Filho, mais conhecido como José Guerreiro, goleiro de peladas de Barras, interior do Piauí, fez uma defesa incrível num chute de cavadinha. Até aí tudo normal, seria mais um vídeo de internet que viraliza nas redes sociais, se não fosse a má formação congênita com que ele nasceu. Zé tem 25 anos e possui as mãos e pés atrofiados. Isso o deixa com muita dificuldade de se locomover.

Após a repercussão do vídeo, José revelou que se inspirava em Fernando Miguel. Pronto. Foi o que bastava para a torcida do Vasco abraçar a história e fazê-la chegar até o camisa 1 da colina. A partir daí começou uma corrente do bem, que fez com que o goleiro do Vasco visse a história de José e quisesse marcar um encontro em São Januário.

- Eu sou fã demais do Fernando Miguel. Será um sonho poder conhecer ele. Ainda mais se for em São Januário. Com certeza um momento especial em minha vida – diz José Filho, ainda em Barras.

A viagem para o Rio de Janeiro aconteceu com a ajuda de torcedores vascaínos que se sensibilizaram com a história do rapaz. A ideia foi trazer José para o jogo contra a Cabofriense, em São Januário, na última quinta-feira, dia 30 de janeiro.

- Abraçamos essa causa e saímos pedindo as pessoas que poderiam estar ajudando. Foi sucesso total. Conseguimos dinheiro para hotel, passagens de ida e volta para o pai e dele – conta Achiles Soares

Mas antes da partida, José foi ao treino do Vasco, que por coincidência, neste dia ocorreu em São Januário. Assim o formando de ciências sociais poderia realizar dois sonhos de uma vez só. Conhecer o camisa 1 do time, e ainda ver a tão sonhada Colina Histórica.

- A emoção vai ser imensa. Só via pela televisão. A emoção vai ser enorme – revela um já nervoso José.

Durante o encontro José não aguentou ficar frente a frente com a imagem que ele tanto cultua em seu quarto: Fernando Miguel. O goleiro do Vasco estava ali, pronto para lhe dar um abraço.

O goleiro nordestino não conseguia mais falar. Então coube a Fernando Miguel descrever a emoção de poder conhecer um torcedor tão especial.

- Eu não sei te dizer se eu que inspiro você ou eu que me inspiro em histórias como a tua. Temos muito em comum. Nós dois somos movidos por sonhos – conta o emocionado goleiro do Vasco.

Ao final do encontro o camisa 1 do Vasco deixa um uniforme completo de jogo para o amigo do Piauí e pede:

- Vamos seguir mantendo essa relação, essa amizade.

José responde chorando:

- Gratidão irmão. Felicidade é imensa, a única palavra que me define nesse momento é gratidão.

Infelizmente o passeio de José pelo Rio de Janeiro terminou de uma forma não tão esperada. Com a chuva que atingiu a cidade na última quinta-feira, dia 30, o jogo contra a Cabofriense foi adiado para sexta-feira, as 11h. O goleiro do Piauí não só pôde assistir a partida, como ainda entrou em campo com Fernando Miguel. Apesar do resultado ruim, a derrota por 1 a 0 não abalou a alegria do rapaz que volta para sua cidade cheio de histórias para contar. Devoto de Santo Antônio, sobrou para o santo ajudar na próxima.

- A alegria de estar aqui e viver isso foi imensa. O resultado não foi bom, mas o sentimento é pelo Vasco. Eu vou lá na Copa do Brasil(Vasco enfrenta o Altos, dia 12 de fevereiro no Piauí) e vamos vencer. Se Deus quiser e meu Santo Antônio também– diz o goleiro.

Paixão nasceu por camisa do pai

Nascido e criado no interior do Piauí, desde pequeno José acompanhava o pai com a camisa do Vasco. Ao se entender como torcedor, decidiu seguir a paixão do pai. Mas o curioso foi a forma que o senhor José, pai do goleiro vascaíno teria escolhido o time que ambos seguiriam torcendo até hoje.

- Foi a Maria(esposa de José). Ela que me deu uma camisa do Vasco. E eu nem sabia que era. Só fui descobrir depois. Ela também não. Escolheu porque era bonita – revela o senhor José.

E a paixão pelo Vasco ficou tão grande que fez o menino da família voar até o Rio de Janeiro atrás desse sonho.

- É aquela história, tudo na vida tem um propósito. Se a mãe achou bonita, a camisa do Vasco e presenteou o pai, é porque o destino era o nosso destino torcer para o Vascão – brinca Zé Guerreiro.

Campo na beira do rio, terra batida e trave de madeira

Inspirado nas defesas de Fernando Miguel, Zé vai defendendo o gol no campinho de peladas com os amigos todos os dias. Mesmo com as dificuldades que enfrenta, eles não aliviam o amigo não. Ele é o único dos jogadores em campo que possui algum tipo de necessidade especial. Mas essa inclusão faz muito bem ao jogo. Todos querem ajudar o goleiro e fazê-lo se sentir parte daquele time. Principalmente o anjo da guarda que fica atrás do gol. Sempre que José se joga para fazer alguma defesa o rapaz entra em campo e o levanta.

- Ele não pode levantar sozinho. Então eu fico atrás aqui só esperando. Para mim é uma alegria poder ajuda-lo a jogar – conta Naylson.

O começo não foi fácil. Pai e mãe de José não queriam que ele jogasse. Por medo de como iriam reagir, ou de algum acidente, eles recomendaram que ele não fosse ao campinho jogar bola. Mas o rapaz não ouviu o pais e é uma atração a parte no campinho à beira rio do pequeno bairro de Xique Xique.



Fonte: GloboEsporte.com