Com saídas de João Marcos Amorim e Adriano Mendes, Vasco inicia 2020 com incertezas na área financeira
Sexta-feira, 31/01/2020 - 08:37
Na pré-temporada do Vasco, duas saídas colocam um ponto de interrogação sobre a administração de Alexandre Campello. Não, neste caso não se trata do ex-técnico cruzmaltino Vanderlei Luxemburgo ou de qualquer jogador que tenha deixado o clube na virada do ano. As saídas que tornam o futuro difícil de prever dizem respeito às finanças.

A administração de um clube de futebol segue – ou, teoricamente, deveria seguir – as diretrizes estabelecidas em um orçamento para a temporada. Uma peça produzida pelo departamento financeiro com as projeções em termos de receitas e custos. Tudo o que deve ser arrecadado, tudo o que precisará ser gasto, de preferência com previsão de lucro. Um guia para a direção tomar decisões ao longo do ano.

No Vasco, o orçamento para 2020 está pronto e aprovado desde dezembro do ano passado. Diante de adversários como Botafogo e Fluminense, que ainda não terminaram suas projeções, parece adiantado. Mas há um problema. As pessoas que produziram o orçamento vascaíno não estão mais no clube, e ainda não há como medir o impacto da saída delas na execução do que foi proposto.

João Marcos Amorim, então vice-presidente de finanças, deixou o clube logo que o ano começou. Adriano Mendes, que ocupava a vice-presidência de controladoria, na realidade um dos pilares na condução do Vasco desde que Campello iniciou seu mandato em 2018, saiu em seguida. E o pior: saiu porque houve divergências justamente na execução do orçamento que tinha sido formulado por ele.



No mundo ideal, não precisaríamos deste preâmbulo para falar do orçamento vascaíno. Mas não dá para começar sem ele. Caso o presidente Alexandre Campello e o restante de sua administração decidam não seguir as previsões orçamentárias, é possível que toda a análise abaixo não tenha, bem, nenhuma importância.

Vamos em frente...

Números isolados não dizem nada. Você os aperta, mas eles não contam história nenhuma. Por isso colocaremos três situações em paralelo. Em primeiro lugar, números que tinham sido projetados no orçamento para 2019. Em segundo, os que tinham sido executados pelo clube entre janeiro e setembro. Em terceiro lugar, o orçamento para 2020.

Esta não é a comparação ideal. Números do balancete até o terceiro trimestre mostram apenas nove meses, enquanto os orçamentos apontam para previsões que abrangem doze meses. Diante das informações disponíveis, no entanto, este é o melhor quadro possível.



Pode não parecer, mas o quadro acima conta três histórias:

- O Vasco conta com lucros consideráveis em seus orçamentos. Não por acaso. Nesta previsão de receitas e despesas, os valores que "sobram" são usados para pagar dívidas. O torcedor pode ficar confuso ao ver previsões de superavits tão altos ao mesmo tempo em que há salários atrasados, mas, de verdade, não há nenhuma relação entre as duas coisas. O lucro neste caso só existe para pagar dívida

- Apesar da intenção de proporcionar lucros para que dívidas sejam pagas, o Vasco tem enorme dificuldade de cumprir as suas projeções financeiras. Se até o terceiro trimestre o clube ainda estava distante de cumprir as previsões para receitas e resultado, é muito improvável que tenha conseguido batê-las entre outubro e dezembro. Saberemos dos números finais com o balanço anual

- As despesas provavelmente estouraram o que havia sido estipulado no orçamento para 2019, mas não muito. Durante a gestão de Campello, o Vasco demonstrou esforços e sacrifícios para manter os custos sob controle e evitar que a situação financeira piorasse. Pode ser que o plano não tenha funcionado por parte das receitas, mas aparentemente não há como acusar gastança da direção

Os números mostram por que rachou a relação entre Campello e Adriano Mendes. Por um lado, o presidente entra em seu último ano de administração, com possibilidade de se candidatar à reeleição, e precisa apresentar bom futebol aos vascaínos se quiser ter alguma chance.

O mandatário irritou seu subordinado quando, nesta pré-temporada, contratou comissão técnica e jogadores com um custo de R$ 1 milhão por mês acima do que estava previsto no orçamento. O técnico Abel Braga e o atacante Germán Cano são os protagonistas desta conta.

Por outro lado, o histórico vascaíno mostra que os números projetados pelo departamento financeiro eram sufocantes. Despesas precisavam continuar controladas – investimentos, nem pensar! – e mesmo assim a conta não fechava porque havia dificuldade de cumprir as receitas.

Mas quais receitas?

O orçamento do Vasco para 2020 não chega a ser irresponsável em suas projeções esportivas. O clube precisará chegar às seguintes fases para cumprir as previsões de receitas com televisão.

- 10º no Campeonato Brasileiro

- Quartas de final na Copa do Brasil

- Quartas de final na Sul-Americana

A dificuldade, no entanto, está em praticamente todas as outras receitas. Como precisa de um lucro altíssimo para fazer frente ao endividamento, o Vasco propõe aumentos agressivos em quase todas as linhas.



Patrocínios precisam quase triplicar em relação ao que tinham rendido entre janeiro e setembro de 2019. Bilheterias precisam dobrar. Até o quadro social, no qual estão incluídos sócios-torcedores, levanta dúvidas quando propõe quase quatro vezes mais do que tinha proporcionado no período anterior. Mesmo com mais de 180 mil associados.

E ainda há a necessidade de vender jogadores. O Vasco contava com um repasse polpudo do Bayern de Munique pela compra de Philippe Coutinho, a título de mecanismo de solidariedade. A transação pode não acontecer. De qualquer maneira, atletas das categorias de base cruzmaltinas precisam ser vendidos para chegar à meta orçamentária.

Não dá para dizer que o Vasco não cumprirá seu orçamento para 2020 ou fará um ano ruim do ponto de vista financeiro. A proposta ao analisar os números é identificar riscos e necessidades, não prever futuro.

Inegável, no entanto, que o clube entra na última temporada do mandato de Alexandre Campello com mais motivos para desconfiança do que tranquilidade. Não bastasse a dificuldade para conseguir as receitas projetadas, para manter os custos controlados num ano eleitoral, não dá para prever os resultados do racha na diretoria.

Fonte: Blog do Rodrigo Capelo - GloboEsporte.com