É difícil encontrar um carioca apaixonado por futebol, sobretudo nos anos 1980 e 1990, que não tenha lido, ouvido ou visto o jornalista Sérgio Noronha. "Seu Nonô", como ficou eternizado pelo radialista Jorge Curi, passeou, com seu humor fino e texto apurado, pelas páginas dos jornais, ondas do rádio e telinhas.

A facilidade em transitar pelas diferentes mídias o tornou uma referência no jornalismo esportivo. O leitor, ouvinte ou telespectador pôde acompanhá-lo no GLOBO, no Jornal do Brasil, nas rádios Globo e Tupi, e na TV Globo, Bandeirantes e SporTV. Em coberturas do Campeonato Carioca a Copas do Mundo.

Ao lado do colega e, posteriormente, amigo Edson Mauro, presenciou e comentou o Flamengo, de Zico; o Vasco, de Roberto Dinamite; e o Fluminense, de Rivelino. Os dois fizeram parceria nas rádios Globo e na Tupi, onde conquistou de vez o público carioca. O locutor da Rádio Globo o compara a João Saldanha, a quem substituiu em 1983.

— Ele era uma pessoa muito culta, lia muito e, em todos os lugares que íamos, as pessoas adoravam conversar com ele. Era alguém que sabia usar muito bem as palavras. Quando ele falava, parecia um texto pronto — conta Edson Mauro.

Noronha tornou-se conhecido no esporte, mas não se limitava ao meio esportivo. Foi vizinho de Zuenir Ventura, na época da Ditadura Militar, no bairro da Urca, Zona Sul do Rio. Numa época de perseguição a jornalistas, teve uma atitude enaltecida até hoje pela família Ventura.

Logo após o Golpe Militar, Zuenir e a mulher, grávida de quatro meses, viajaram às pressas para a França. O filho, Mauro, com apenas cinco meses à época, ficou com a babá em casa. A pedido do vizinho, Noronha levou o bebê até Friburgo de carro para a casa da irmã de Zuenir.

— Dito assim, parece tranquilo. Mas em época de repressão não era. Ele nem hesitou, foi muito nobre da parte dele. À admiração pessoal, depois se somou a admiração profissional — afirma Mauro Ventura.

A habilidade com as palavras e a memória foram interrompidas a partir de 2015, após um episódio de esquecimento que confirmou o diagnóstico do mal de Alzheimer. Nos últimos anos, ele pouco reconhecia os amigos. E nunca contou a ninguém para qual time torcia.

— Provocávamos ele dizendo que era Vasco, mas ele nunca admitiu —lembra Edson Mauro, que o visitou há três semanas. — Ele já não se lembrava de mim, só reagiu quando falei das minhas filhas, que tinham mandado um beijo para o Tio Nonô.

Desde 2018, "Seu Nonô" vivia no Retiro dos Artistas graças à ajuda do amigo Arnaldo Cezar Coelho:

— Foi um jornalista esportivo exemplar. É um exemplo para os jovens. Quando ele se aposentou, o ajudei em várias ocasiões, reunindo amigos em volta dele e isso foi muito importante. Ele descansou. Todos nós estamos sentindo a perda desse grande jornalista e eu, a perda de um amigo.

Nascido em Botafogo, Sérgio Noronha morreu ontem, aos 87 anos, de parada cardíaca, no Hospital Rio Laranjeiras onde estava internado há 10 dias por causa de uma pneumonia. Ele não deixa filhos. O jornalista será velado amanhã, a partir das 9h, e sepultado, às 14h, no Cemitério São João Batista.



Fonte: O Globo