Conheça a história de Niginho, que escapou de ter que lutar na II Guerra Mundial pela Itália
Quinta-feira, 23/01/2020 - 05:35
Vasco e Flamengo se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h, pela segunda rodada da Taça Guanabara. Se o primeiro Clássico dos Milhões de 2020 promete ser de arquibancadas vazias, no fim dos anos 1930 e início dos 1940, dois craques costumavam agitar multidões quando o estadual era atração da cidade. Além da origem – eram mineiros – e ambos jogarem a Copa da França-1938, Niginho (Vasco) e Perácio (Flamengo) têm outro fato em comum: a carreira marcada pela guerra.

De ascendência italiana, Leonízio Fantoni, o Niginho, se destacou no Cruzeiro (à época, Palestra Itália) e logo foi vendido à Lazio, em 1931. Na Itália, foi convocado por Mussolini, em 1935, para integrar as tropas que lutavam na Etiópia, em um dos conflitos que precederam a Segunda Guerra Mundial.

Temendo ser enviado, Niginho conseguiu autorização do clube para voltar ao Brasil. Passou pelo Palmeiras e chegou ao Vasco. Com a camisa cruz-maltina, foi chamado pelo técnico Ademar Pimenta para ser reserva de Leônidas da Silva no Mundial de 1938. Entretanto, quando teve chance de assumir a vaga do artilheiro na semifinal contra a Itália, não entrou em campo. A delegação italiana havia feito denúncia à Fifa e alertou que, por ser um desertor, Niginho não tinha autorização do clube italiano para jogar fora do país.

— Para afastar qualquer dúvida e não criar caso, preferimos não incluir Niginho, embora a exclusão do substituto de Leônidas nos prejudicasse bastante — declarou o técnico Ademar ao GLOBO, logo após a derrota.

Com Leônidas lesionado e Niginho impedido, o Brasil perdeu de 2 a 1 e deu adeus à chance de disputar sua primeira final.

Depois que voltou da Copa, Niginho foi eleito jogador do ano do Vasco em 1938. Naquele ano, levou o time à vitória sobre o Flamengo por 2 a 0, na inauguração do estádio da Gávea. No ano seguinte se despediu do clube com outra vitória sobre o rubro-negro. Na sequência, voltou a Minas Gerais para defender o Cruzeiro. Morreu em 1975, de mal súbito.

Na Segunda Guerra Mundial, foi a vez de um craque do Flamengo ter a vida marcada pelos conflitos. Perácio foi convocado para combater na Itália, em 1944. O atleta foi um dos protagonistas do Brasil na Copa-1938, quando defendia o Botafogo, e havia chegado ao rubro-negro em 1942, conquistando o primeiro de três títulos seguidos.

A partir de 1943, passou a dividir as atenções entre os jogos e os treinamentos militares, em Recife. Chegou a recorrer ao ministro da Guerra, marechal Eurico Gaspar Dutra, para tentar dispensa, mas não conseguiu.

Perácio embarcou com a Força Expedicionária Brasileira para a Itália em março de 1944 e serviu como motorista.

– Eu tinha pavor de pensar numa batalha. A gente é obrigado a matar para não morrer —, disse ele, anos mais tarde, à revista Placar.

Perácio voltou fora de forma e, mesmo assim, foi artilheiro da equipe em 1946, com 32 gols. Aposentou jovem, aos 33 anos, defendendo o Canto do Rio. Depois, virou dono de restaurante em Santos, taxista em São Paulo e fazendeiro em Uberaba. Mas foi como funcionário público que viveu até os 59 anos, em 1977, quando foi vítima de uma pneumonia.



Fonte: O Globo Online