Participante da nova edição do Big Brother Brasil, o BBB 20, Petrix Barbosa fez parte do primeiro escalão da ginástica artística brasileira ao longo da maior parte de sua vida. O capítulo sobre ele na história do esporte brasileiro, porém, será todo sobre a revelação de que ele foi uma das vítimas do técnico Fernando de Carvalho Lopes, agora banido do esporte por uma série de casos de abuso sexual.
As primeiras denúncias à polícia foram feitas em 2016, por então menores de idade que treinavam com Fernando, mas o caso só teve grande repercussão quando o Fantástico revelou que cerca de outros 40 ginastas, ao longo de mais uma década, também teriam sofrido abuso sexual. Desses, o único que aceitou mostrar o rosto foi Petrix Barbosa, então já vivendo em uma espécie de autoexílio nos Estados Unidos.
"O que mais fazia comigo era todo dia tentar molestar, esse sufoco, essa pressão psicológica para um moleque de 10 anos. Banho junto, espiar. Dormir na cama comigo quando eu não queria. Já acordei com ele, não sei quantas vezes, com a mão na minha calça e eu conseguia tirar e dormir porque eu não ficava parado. Teve gente que não conseguiu ter as mesmas reações que eu. E eu não quero que aconteça mais", revelou.
A coragem de Petrix de falar de cara lavada ajudou a tornar aquela reportagem do Fantástico um marco no esporte brasileiro, somando sua credibilidade a dezenas de relatos de vítimas que optaram por permanecerem anônimas. Depois disso, ele não deu mais entrevistas sobre o assunto.
As estruturas de poder da ginástica, porém, não gostaram nada daquela coragem. Muita gente preferia que o caso permanecesse debaixo do tapete, onde sempre esteve, e entendeu que tocar na ferida só faria mal à ginástica. Já isolado depois de optar por se mudar para Miami e abandonar as estruturas brasileiras, Petrix foi ainda mais rejeitado.
Destaque desde as primeiras categorias de base, o novo BBB cresceu rivalizando com o amigo Sergio Sasaki, de quem é 26 dias mais velho, ambos pupilos de Fernando em São Bernardo do Campo (SP). Ainda na adolescência, se mudaram juntos para o SERC/São Caetano de Marcos Goto e do ainda desconhecido Arthur Zanetti, e novamente se transferiram juntos em 2011 para o Flamengo de Diego Hypolito, seis anos mais velho que eles. Naquele momento, os quatro formavam a base da seleção brasileira que foi ouro no Pan de Guadalajara-2011.
No ano seguinte, o mesmo time falhou em conseguir uma inédita vaga por equipes nos Jogos Olímpicos de Londres e o Brasil acabou representado na Olimpíada só por Diego, Sasaki e Zanetti, que conseguiram vagas individuais. Petrix teve que assistir aos Jogos pela televisão.
Petrix, Diego e Sasaki ficaram no Rio até 2013, quando a diretoria rubro-negra acabou com as equipes de alto rendimento de judô e ginástica - era o início do período de austeridade e de estruturação para o Fla depois virar um clube com modalidades autossustentáveis, como é agora. Postos na rua, fizeram com o técnico Renato Araújo e o colega Caio Souza um pacto de continuarem sendo uma equipe. Menos de um ano depois, porém, os quatro receberam convite para competirem por São Bernardo, para serem treinados por Fernando. Sasaki e Petrix, que conheciam muito bem o ex-treinador, recusaram. Diego e Caio aceitaram.
Enquanto isso Petrix, até então um dos dois principais generalistas (ginastas que competem em todos os aparelhos) do país, passou a viver seu inferno astral. Foi campeão brasileiro em 2012 e, depois disso, nunca mais foi ao alto do pódio no país. Sofreu com lesões, retornou ao Rio para treinar no CT do COB, mas só foi voltar a ter um clube já na véspera da Olimpíada de 2016, quando o Vasco contratou o então badalado Sasaki e, no pacote, levou também o técnico Renato Araújo e o próprio Petrix.
Na seleção brasileira, o agora novo BBB teve poucas oportunidades no ciclo olímpico do Rio. Foi medalhista em uma etapa de Copa do Mundo na Alemanha e reserva da equipe que ganhou a prata no Pan de Toronto (ele mesmo não recebeu medalha). No time olímpico, a equipe vaga, que seria destinada a um generalista, acabou ficando com Chico Barretto. Caio e Lucas Bitencourt, o Bisteca, ficaram como reservas.
Fora da Rio-2016, Petrix foi para os EUA para um estágio com o cubano Yin Alvarez, treinador e padrasto do ginasta norte-americano Danell Leyva. Acabou ficando, e foi de lá que ele deu a famosa entrevista para o Fantástico.
Naquele momento, as portas da ginástica brasileira já estavam se fechando para ele. Por falta de um clube (o Vasco só dava a camisa, não tinha estrutura), de treinador brasileira, e de um grupo. Seu amigo desde a infância, Sergio Sasaki sofreu um banimento informal da ginástica, cujos motivos jamais foram trazidos a público. Hoje, trabalha no Cirque du Soleil.
Ainda com o sonho de disputar uma Olimpíada, Petrix seguiu o caminho de muitos brasileiros: mudou sua naturalidade esportiva para Portugal. O país europeu, que não tem grande tradição na ginástica, está em franco crescimento no esporte olímpico e o ofereceu oportunidades, que não foram bem aproveitadas. No Mundial do ano passado, Pré-Olímpico, ele foi só o 89º colocado no individual geral, pior que qualquer brasileiro e longe das vagas olímpicas oferecidas até o 51º lugar.
Sem chances reais de se classificar para Tóquio pelos demais critérios, aceitou há cerca de duas semanas o convite para ser do grupo dos "famosos" (Camarote) nesta edição especial do BBB. Antes do anúncio da Globo, no sábado, dirigentes do COB e da Confederação Brasileira de Ginástica foram avisados. Ginastas também. Da elite da modalidade, só Arthur Nory postou no Instagram sobre o assunto.
Fonte: Blog Olhar Olímpico - UOL