Campello fala sobre austeridade financeira, Rossi, Dedé, Guarín e reforços; veja vídeo
Quinta-feira, 16/01/2020 - 12:46
Presidente Alexandre Campello fala aos torcedores vascaínos sobre o panorama do Clube.



Fonte: Youtube oficial do Vasco


Alexandre Campello fala de Dedé: "Uma vez que esteja livre, existe o claro interesse do Vasco"

Em vídeo postado pela Vasco TV com o intuito de fazer esclarecimentos, o presidente Alexandre Campello fez um pronunciamento. Campello tratou do interesse em Dedé, do Cruzeiro, falou das negociações pela renovação de Fredy Guarín e detalhou a crise financeira do Vasco.

Um dos temas mais repetidos por Campello se refere à divergência sobre o orçamento destinado ao futebol em 2020. Tal atrito causou a saída do vice-presidente de finanças. O cargo era de João Marcos Amorim. Adriano Mendes, VP de controladoria, pode ser o próximo.

O presidente afirmou que sempre priorizou a permanência do Vasco na Primeira Divisão. Por isso, discordou de alguns dirigentes que pregavam redução mais significativa nos gastos com o futebol.

Confira os tópicos:

Dedé

A gente sabe qual é o valor do salário do Dedé. Existe uma diferença grande entre aquilo que ele recebia nesse contrato e o que a gente pode pagar. Uma vez que ele esteja livre, rescindindo o contrato com o seu atual clube, existe o interesse claro do Vasco, mas sempre dentro desse nosso planejamento de manutenção de folha salarial enxuta.

Fredy Guarín

É um atleta que caiu nas graças da torcida, é qualificado, se identificou muito com o clube. O Vasco tem total interesse na sua manutenção.Mas ainda temos uma diferença entre aquilo que o clube propõe e o que o atleta entende como sendo o necessário para que ele renove o contrato.Obviamente a gente ainda nutre a expectativa de renovar com o jogador. Estamos mantendo conversas com o seu procurador. Quem sabe com um pouco mais de flexibilidade de lá e de cá a gente consegue chegar a um denominador comum?

Saída de Rossi

Nós tínhamos a intenção de renovar com o Rossi, mas, até em linha com essa austeridade financeira, nós propusemos ao atleta a renovação do contrato pelo mesmo valor que ele recebia no contrato anterior.

Depois de algumas conversas, o seu empresário disse para o Mazzuco que eles tinham uma proposta para receber o dobro do que recebia no Vasco e mais luvas. E o Vasco lamentavelmente não tem condições de cobrir essa oferta.

Relacionamento com atletas

Meu tratamento com os atletas e a comissão técnica do clube sempre foi muito transparente. Mostrar para eles qual é a nossa dificuldade e o que o clube está fazendo. "Olha, o clube está trabalhando essa operação para trazer esse recurso para pagar o salário". Sempre houve um ótimo diálogo entre a direção e os atletas, que sempre foram muito parceiros, sempre vestiram a camisa do clube. Em 2019, nós tivemos esse exemplo. Com todos os atrasos, todas as dificuldades, eles se dedicaram ao máximo.

Óbvio, fazendo as cobranças quando achavam que precisavam cobrar, mas sempre entendendo o lado do clube e abraçando a causa do clube. Especialmente através do capitão, o Castan, que foi sempre uma pessoa muito firme, muito reta. Mas não só ele, outras lideranças do grupo, como Fernando Miguel, Pikachu, Ramon.

Sempre houve um diálogo muito franco entre a direção e os atletas, como o que aconteceu agora recentemente. Eu estive na concentração logo após a apresentação dos atletas e tive uma conversa com os jogadores.

Divergência na gestão

Queria deixar bem claro que são divergências, ao meu ver, pequenas. Acho que em 95% de tudo que se faz no clube, havia uma convergência entre as minhas ideias e de toda a equipe de gestão. Essa divergências giram em torno do orçamento do futebol. Uma das coisas que fizemos foi controlar o custo do futebol, nós conseguimos reduzir o custo em 2018.

Em 2019, iniciamos a temporada com a ideia de manter a folha ali por volta dos R$ 4,2 milhões líquidos. E aí no meio do campeonato, com as dificuldades que o time apresentou, a gente foi obrigado a investir um pouquinho mais até para preservar o clube na Primeira Divisão, entendendo que a queda do Vasco para a Segunda Divisão seria extremamente prejudicial ao nosso projeto de recuperação financeira.

Reduzir a folha sim, mas sem correr riscos de queda

Como o futebol implica na maior parte do custo do clube, havia um entendimento por parte das pessoas que estão no financeiro que deveria haver um corte radical no futebol. Até concordo que a gente mantenha um orçamento baixo com o futebol, mas esse orçamento não pode ser tão baixo que comprometa a manutenção do clube na Primeira Divisão. Isso eu não abro mão.

Havia uma proposta para que a gente baixasse a folha para R$ 3,3 milhões, eu insisti que deveria ser em torno de R$ 4 milhões. Entendo que essa diferença não deve ser encarada como gasto, mas como investimento. Com uma equipe mais qualificada, você tem premiações maiores no Brasileiro, na Copa do Brasil, na Sul-Americana. Você consegue uma fidelidade maior do sócio-torcedor, que também vai trazer recursos. Então acho que essa diferença facilmente se paga a partir dessas receitas.

A gente tem que pesar até onde se pode arriscar. E sinceramente eu acho que um investimento de R$ 4 milhões ou R$ 4,3 milhões para o futebol não é um grande investimento, mas é suficiente para você ter uma certa garantia da manutenção do clube na Série A e brigando do meio da tabela para cima.

Investimento de R$ 3,3 milhões significaria não renovar nenhum dos contratos daqueles que venceram e não trazer nenhum reforço. Ou seja jogar basicamente com aqueles que ficaram e as divisões de base. Eu concordo que temos que usar a nossa base, que é forte, mas a gente não pode colocar toda a expectativa em cima dos meninos, porque eles precisam de tempo para amadurecer.

Redução do elenco

Nós dispensamos vários jogadores no fim do ano, trabalhamos para emprestar alguns jogadores que não seriam utilizados. Eu tenho o compromisso de manter essa austeridade, mas acho que deveríamos contratar de maneira pontual, como foi o Germán Cano, talvez trazer mais um jogador de meio, mais um zagueiro. De maneira pontual, sem extrapolar. Mas sempre preservando aquilo que é mais caro, a manutenção do Vasco na Série A.

Redução da dívida

Desde que assumimos o clube em 2018, nós procuramos manter uma austeridade muito grande no que diz respeito à recuperação financeira do clube. Desde o início buscamos reduzir os custos, e eles foram muito bem controlados nos anos de 2018 e 2019. Isso não é insuficiente, porque existe um endividamento muito grande, que era da ordem de R$ 680 milhões, conseguimos baixar para algo em torno de R$ 580 milhões ao final do ano.

E essa dívida bate à porta todo dia, ela compromete o nosso caixa. Por mais que a gente produza, por mais que a gente consiga aumentar as receitas, essa dívida consome esses recursos.

Impacto das dívidas e salários

Nós tivemos um ano de 2019 ainda muito difícil, isso era esperado por conta do tamanho da nossa dívida. Especialmente porque é uma dívida de curto prazo. É aquele credor que está há muito tempo esperando para receber, que já está via judicial cobrando o clube quer seja por penhora ou por bloqueio de bens.

Por outro lado, não tivemos venda de nenhum ativo em 2019, de nenhum jogador. O marketing não respondeu da maneira que nós esperávamos muito em função das condições do país. Além disso, por conta de penhoras e comprometimento dos nossos recebíveis junto à TV. Só para que tenham uma ideia, entre janeiro e outubro, não tivemos entrada de nenhum recurso oriundo da televisão. Só em outubro que entrou alguma coisa, mas que não foi nem suficiente para o pagamento de uma folha salarial.

Existia uma expectativa de em dezembro, com o pagamento de uma parcela maior que faz parte da premiação do Campeonato Brasileiro, que recebêssemos algo em torno de R$ 22 milhões. Ocorre que existiam 15 penhoras incidindo diretamente em cima da Globo (da cota). Já vínhamos trabalhando desde o meio do ano uma operação com a Globo para que pudéssemos tratar dessas penhoras. Pegar um recurso e com ele conseguir pagar essas penhoras com um deságio, com um desconto na ordem de 40%.

Aí a PGFN penhorou todos os R$ 22 milhões, nós conseguimos negociar, ao meu ver, muito bem com a PGFN. Mas tivemos que disponibilizar desses recursos algo em torno de R$ 8 milhões.

Com a retirada desses penhoras, não sobrou praticamente nenhum recurso oriundo da TV. Com isso, não conseguimos honrar com os compromissos de folha salarial de funcionários e atletas.

Agora estamos trabalhando num novo contrato de publicidade, de patrocínio, mais o patrocínio da Havan, para saldar esses compromissos.

Negociação das penhoras e redução das dívidas

Tínhamos, como eu disse, 15 penhoras sobre os recebíveis da Globo. Uma grande dificuldade que tivemos nessa negociação é porque começamos com 11 ou 12 penhoras. E a cada hora surgia uma penhora nova, a última delas depois de ter sido fechado todo o acordo.

Não se conseguiria colocar de pé esse acordo se nós não contemplássemos todas as penhoras. Era preciso que todas fossem resolvidas para que esses recursos fossem disponibilizados.

De última hora, surgiram duas penhoras, uma delas de R$ 600 mil, que nós tivemos que incluir nessa negociação. Isso totalizava algo em torno de R$ 66 milhões. Através dessas negociações, conseguimos um desconto, baixando para R$ 45 milhões. Pagamos R$ 24 milhões à vista e conseguimos parcelar o restante pelos próximos dois anos.

Acho que isso foi uma grande conquista, isso faz parte de um trabalho que temos feito ao longo de todo o ano. Para dar tratamento a todo esse endividamento do clube, não o fiscal, porque esse especialmente tem uma grande parte resolvida pelo Profut. Mas o cível e trabalhista, que sufocam o clube. Nessa primeira operação, baixamos essa dívida. A ideia é outra operação para que a gente pague uma boa parte dessa dívida com desconto grande.

Isso é o que vai conseguir aliviar o fluxo de caixa do clube para que ele possa voltar a honrar os seus compromissos. Mas esse não é um trabalho fácil, é um trabalho que tem sido feito ao longo dos meses, depende de muita negociação. Esses acordos que foram feitos são de dívidas antigas. A gente pagou dívida do parceiro que trouxe a Eletrobras, de ex-atletas do passado, de uma série de outras empresas com dívidas que vinham sendo roladas há mais de 10 anos.

2020

Do ponto de vista financeiro e esportivo, acho que vai ser ainda um ano bastante difícil para o clube. Um ano em que a gente ainda tem um impacto grande do endividamento, vai precisar manter os cintos apertados, controlando as despesas e buscando novas receitas.

Mas é também um ano de grande expectativa, a gente pretende inaugurar o nosso CT em Jacarepaguá. A obra de modernização e ampliação de São Januário também é uma expectativa muito grande, com possibilidade de se colocar de pé a partir do segundo semestre.

É um ano de grandes desafios, mas de muita expectativa. Nós estamos bastante otimistas em conseguir passar por mais esse ano em direção à reestruturação do clube, em direção ao equilíbrio financeiro do clube, em última análise à volta num futuro próximo às grandes conquistas.

Fonte: GloboEsporte.com